Velhos Estranhos
Christopher acordou bem cedo no sábado, passou a mão numa camisa branca e a colocou, escorou a porta que estava aberta, e sentou-se na beirada da sua cama. Pensativo ele tentava entender, porquê Jason havia mentido pra ele e do nada ele resolveu contar o que havia acontecido.
Realmente o seu comportamento estava estranho, o que o fez mudar de ideia assim, tão repentinamente?
Daysi que ainda estava em sua casa, apareceu na greta da sua porta, balançou a sua mão direita e sussurrou um oi.
Chris levantou, abriu a porta, deixando-a entrar e sentou de novo.
- Christopher, eu sei que mal te conheço, também sei que não somos amigos, mas eu queria te pedir desculpas.
- Desculpas? Pelo o quê exatamente? - Ele realmente estava perdido, com a cabeça em outro lugar.
- Meu pai, assim como o seu me obrigou, eu tive que vir, realmente não queria trazer-lhe todo esse desgosto entre você e seu pai. Ele só me disse o seu nome, e onde você morava.
- Tá aí um problema Daysi, na verdade nossos pais são opostos um do outro. O meu nem conversou comigo. Simplesmente agiu pelas costas e queria que eu ficasse calado. Mas eu não sei se isso era certo.
- É tão chato tudo isso não mesmo? Quer dizer, você não poder escolher com quem vai se casar. Sem conhecer a pessoa que vai passar o resto da vida ao seu lado.
Chris arregalou os olhos, e sentiu naquele momento que Daysi talvez não fosse tão mesquinha como ele achava, e sim, quem sabe porque ela não tinha voz contra seu pai, idêntico a ele. Enfim algo semelhante entre os dois.
- Sim, com certeza é muito ruim. Acho que seria difícil conviver com alguém assim. Deve ser por isso que meus pais brigavam tanto. - Disse Chris sorrindo.
- Então essa é a resposta, pra tanta discussão em casa. - Disse Daysi rindo.
- Sim. Eu acho. - Um momento de descontração entre dois desconhecidos, seria isso o começo de uma nova amizade?
- Eu também tenho que te pedir desculpas pelo o que eu disse do seu pingente, no seu aniversário. E por falar nisso, porque você não está usando ele? Parecia ser muito importante para você.
- O quê? - Ele passou a mão no seu peito, e não o sentiu. Realmente não estava ali. Chris perdera o pingente que Carol lhe dera, mas onde?
Ele ficou preocupado, levantou-se, deu uma olhada rápida no chão amadeirado de seu quarto.
- Você não é muito de usar o espelho não é mesmo? - perguntou Daysi, tentando tirar um sorriso do rosto de Chris. Embora fora em vão, ele saiu do quarto e desceu rapidamente as escadas, passando pela porta. Daysi se assustou com a atitude dele, e o seguiu.
Viu ele passando pela rachadura do muro, e sumindo por entre as árvores. Ela fora atrás. Antes de passar pela rachadura ela parou, e viu algo brilhar ao lado de fora, encostado no muro. Então ela abaixou, pegou o objeto, olhou para frente e fora em direção de Chris.
Ela o via procurando o pingente, mas num local um tanto excêntrico, na verdade onde ele sempre gostara de ficar.
- Que lugar mais lindo! Você vem sempre aqui? - Perguntou ela, indo até a beirada.
- Sim. Passo muito tempo aqui. - Ele estava ciente de que acordou ali, naquele mesmo local sem suas vestes, à dois dias atrás. Não custava nada procurar.
- E se ele não estiver aqui, quer dizer tem um longo percurso da sua casa até aqui. - Daysi viu toda a preocupação de Chris.
- Não! Você não entende. Eu. Eu tenho certeza que o perdi por aqui! - Talvez ele fora um tanto grosseiro.
Daysi que havia encontrado o pingente, agora estava pensando se ele realmente merecia.
- Me desculpe. Quer dizer, a minha irmãzinha que o fez, e ela não está mais aqui. - Disse ele, meio abatido. Lembrar de Carol o deixava assim.
Daysi não sabia que ele tinha uma irmã, muito menos a perdido. Ela sentiu compaixão.
- Talvez você esteja certo. Quem sabe ele esteja mesmo aqui. - Disse Daysi estendendo sua mão aberta com o pingente.
Chris olhou para Daysi, e sorriu.
- Onde? - Perguntou ele pegando-o de sua mão.
- O importante é que ele voltou para você. De onde ele nunca deveria ter sumido.
Ele olhou para ela. Naquele instante ele estava conhecendo uma nova Daysi. Uma Daysi menos mesquinha, ele estava gostando de conhecer esse novo lado dela.
- Eu te trouxe para um dos meus maiores segredos. E agora, você devia também me contar um. Não acha? - Brincou ele.
- Recapitulando, eu o segui. Então não conta. - Disse ela dando uma risada. - Acho que não tenho muitos segredos.
- A para! Um esconderijo em sua casa, quando brincava de se esconder. Nem mesmo um garoto que você goste lá de Greenville? Nada?
Eles riram.
- Esconderijo? Sou filha única, sabe, nunca fui de ter companhias para brincar. Agora garotos de Greenville? Não. Não mesmo. Que isso. Mas quem sabe um certo alguém daqui, de Lingorn?
Seria essa uma indireta? Chris engoliu em seco, pensou duas vezes antes de fazer a próxima pergunta.
- Quem seria o felizardo?
O rosto dela ficou corado.
- Porque eu te contaria? Me dê uma boa razão.
- Eu posso te ajudar.
Daysi deu um sorriso bobo.
- Então tá. Eu ainda não tive a chance de conhecê-lo, desde que cheguei, vi ele apenas três vezes. Duas dessas ele estava subindo o morro, trazendo tiras de medeiras para Lingorn.
Christopher nem precisou pensar muito. Homens que trabalhavam como madeireiros em Lingorn se resumiam em dois. Trevor e Tyler Griffin. Pai e filho.
- Já o viu três vezes e nada de conversar com ele? Não. Não pode fazer isso. Brincou ele.
- A não? E o que o jovem Mason faria se uma garota o chamasse atenção? A traria para cá?
Era uma piada, mas o que Daysi não sabia era que Chris fizera isso, com Bea.
Ele riu com o confrontamento dela e a chamou para voltar pra casa.
- Acho que você está com sorte. Eu conheço ele. Tyler Griffin. Bom rapaz, forte.
- Para! - Disse Daysi envergonhada dando uma ombrada nele.
- Como eu disse, vou te ajudar. Te apresentando à ele.
- Sério? Mas porque você faria isso?
- Você não sabe como estou contente em ter encontrado o pingente. Em meio a toda essa turbulência que estou vivendo, Carol é a minha chama que não me deixa desistir.
Mesmo caídos, procuramos uma âncora, para nos manter de pé.
Para Christopher essa âncora era Carol.
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The Beast - A Fera
WerewolfE se tudo o que você conhecesse mudasse de uma hora para outra. Uma fera incontrolável transbordando terror por onde passa, se escondendo em meio à uma densa floresta. E se a fera realmente não quisesse fazer nada disso, agindo por instinto, até co...