Capítulo 5 - EU SOU...

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      Ele acordou com um ruído no interior do vagão.

      Ao abrir os olhos, a primeira coisa que viu foram duas pistolas automáticas Glock 17 calibre 9mm apontadas para sua cabeça. O portador das armas era um oriental enorme, mais de dois metros de altura, forte como um touro, os músculos quase explodindo a farda militar que usava. Repetia o que parecia ser uma pergunta, mas em um idioma incompreensível. Sua voz absurdamente grave ressoava como um trovão, assustadora.

      —Como você chegou até aqui?!

      Após o susto inicial de acordar com aquelas armas apontadas para si, ele conseguiu romper o silêncio, com as mãos erguidas. – Desculpe, mas não entendo nada do que está dizendo! – confessou, já sem muitas esperanças de ser compreendido. – Não atire... – Seus olhos percorreram o chão, mas seu bastão de ferro havia sumido.

      A voz do oriental voltou a trovejar em seguida.

      —Como você chegou aqui?! – A pergunta, agora feita no idioma português, era carregada do sotaque nipônico. – Levante-se! Mas se fizer qualquer movimento brusco, eu atiro!

      Estranhamente, foi só depois de ouvir a ameaça que o assustado alvo das armas se tranquilizou. Levantou-se, sem desviar os olhos dos canos daquelas pistolas apontadas para sua cabeça. – Desculpe, mas não faço a menor idéia de como cheguei aqui. Nem sei com certeza onde é aqui.

      —Estamos no bairro Shimogyo, na Estação de Kyoto – foi a resposta.

      —O que!? Você disse... Kyoto...? Está dizendo que estamos na cidade de Kyoto no... Japão?!

    O brutamontes confirmou com um aceno de cabeça, cujo topo quase tocava o teto do vagão.

      Mas com isso, a confusão em sua cabeça ficou ainda maior. Aparentemente, ele era um russo superforte que falava português e acordou numa estação de trem japonesa... com amnésia...

      Só agora ele se dava conta das luzes. O maluco armado devia tê-las acendido, deixando o interior daquele vagão totalmente iluminado. Olhando de relance pela janela, notou que ainda estava escuro lá fora. Girando um pouco o pulso, visualizou as horas e a data no relógio: 3h:37min do dia seguinte. Percebeu também que o sujeito não tinha entrado ali sozinho.

      Um pouco atrás, quase totalmente encobertos por aquele armário ambulante de olhos puxados, haviam mais três pessoas. Estas, entretanto, tinham feições ocidentais. E ao contrário da farda militar cinza escura, suas roupas eram totalmente na cor preta. Trajavam calças e jaquetas de ripstop, além de coturnos, que usados ocultos pela barra da calça deixava o visual bem mais civil. Nas mãos, luvas de couro sem dedos.

      O mais próximo deles aparentava ter a mesma idade de Maksimilian, porém, mais baixo, com a estatura próxima a 1,70m e uma compleição física forte, embora oculta pela roupa. Tinha os cabelos bem curtos, cortados à escovinha, no estilo militar; rente nos lados e um pouco mais alto em cima, além de um cavanhaque discreto.

      O outro sujeito era mais jovem, não tendo mais do que dezessete anos. Os cabelos castanhos eram penteados para o lado, deixando um estiloso topete. Tinha uma estatura semelhante à do confuso ocupante do vagão, o corpo igualmente esguio, mas ostentava um porte mais atlético. Por cima da jaqueta, usava um longo sobretudo preto que quase tocava o chão, sendo esta, a única diferença entre sua vestimenta e a de seu parceiro.

      A última pessoa era uma garota, ainda mais jovem. De estatura baixa e corpo mignon, suas roupas tinham a diferença de serem mais justas, exibindo curvas discretas. Seus cabelos curtos, quase na altura dos ombros, eram mantidos presos por uma tiara, deixando-os bem longe dos olhos. Olhos que se mostravam os mais inquietos do grupo, parecendo sondar cada centímetro do vagão, atentos a tudo. 

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora