Capítulo 25 - PACIENTES

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      O Lancer trafegava com pressa para chegar ao destino, com a chuva forte deixando pouca visibilidade à frente. O limpador trabalhava incansavelmente sobre o para-brisa, indo e voltando, parecendo extenuado pelo esforço em afastar tamanha quantidade de água.

      Apesar de se contorcer em dores quase insuportáveis e estar no limite de perder a consciência, Maks afirmava através murmúrios quase inaudíveis que aquilo era apenas temporário; iria passar logo. Misaki, no entanto, não lhe dava ouvidos e seguia direto para a clínica.

      Yuko, por sua vez, assustada com tudo o que estava acontecendo, também não achava muito convidativa a idéia de ser levada a um local público, onde certamente, se sentiria exposta. Depois de ser atacada de maneira tão violenta dentro de sua própria casa, sentia-se totalmente insegura; e só agora a ficha realmente lhe caía sobre quem eram seus protetores.

      O corte em seu joelho estava gradativamente se fechando, mas continuava mantendo um aspecto aflitivo, estando ainda aberto, apresentando tecidos expostos. No entanto, o sangramento estava estancado e toda dor havia desaparecido. Uma Cicatrização Acelerada agia naquela área de maneira rápida. Ela conseguia, inclusive, ter a sensação clara do ferimento se curando por dentro.

      Olhava com culpa para o sofrimento de Maks, sentado ao seu lado, com o corpo arqueado e já banhado de suor. Acompanhava angustiada enquanto a respiração irregular dele ficava rápida e entrecortada durante alguns segundos, até o momento em que, à muito custo, ele conseguia prender o ar, sempre deixando escapar gemidos estrangulados e agonizantes. Segundos depois, o ciclo recomeçava, com a respiração acelerada e, depois, o ar sendo seguro; ele parecia numa dúvida desesperada do que fazer para tornar aquela dor suportável. Mas infelizmente, ficava claro que qualquer coisa que tentasse era um esforço em vão: a dor continuava vencendo.

      Enquanto dirigia velozmente, Misaki pegou seu celular e telefonou para a doutora Wong Le Ly, que estava, no momento, de plantão na clínica. Numa conversa rápida, deu-lhe detalhes sobre a gravidade da situação. 

     Pode trazê-los. Venham pelos fundos, para a Área M, como sempre. Vou preparar tudo – respondeu ela, fazendo-o suspirar aliviado por não serem deixados na mão em mais uma situação de emergência.

      Mas o piloto brutamontes acabou ouvindo dela algo mais em acréscimo, um fato realmente inesperado: – Não vai acreditar no que acabou de acontecer...! Alguns Nômades tiveram um Surto aqui perto da clínica. Na porta da clínica!

      —Um Surto perto da clínica!? – Misaki se assustou com a notícia. – Sorte que eles não entraram, heim? Meu Deus...!

      —Entraram! Pelo menos, um deles entrou aqui!

      —O que?!? – O susto agora foi maior. Misaki chegou a dar uma guinada involuntária para o lado, fazendo os pneus derraparem perigosamente na pista molhada. Mas retomou o controle logo em seguida com facilidade, mesmo guiando com apenas uma das mãos. – Minha nossa, Ly!

      —Mas não se preocupe, ele foi abatido antes que pudesse matar alguém.

      Graças a Deus – suspirou ele. Mas logo surgiu a preocupação. – E o que a Yelena estava fazendo na clínica? Ela... se sentiu mal...? 

      —Não foi a Yelena.

      Misaki irritou-se imediatamente após ser confirmado que não havia sido a Caçadora, mas logo se acalmou, pois Ly dissera que ninguém fora morto. – O Kaneda vai ouvir uns parabéns, mas não vai escapar de um puxão de orelha. Não deveria ter saído da base!

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora