Capítulo 35 - ROBE FRANCÊS

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      Desta vez ela riu abertamente, jogando a cabeça para trás, chegando a uma gargalhada.

     Desculpe, Maks, eu não queria dizer isso. Ou pelo menos, não com esta interpretação besta que você teve...!

      "Tudo bem, estou brincando" – disse ele, se juntando a ela nas risadas. – "E devo confessar que estou com um pouco de dúvida se você é muito corajosa ou se é completamente sem juízo...!"

      Acho que um pouco dos dois – respondeu ela, balançando lentamente a cabeça para os lados, como se estivesse ainda ponderando. – Mas pendendo um pouco mais para a falta de juízo.

      "Com certeza...!" – Maks concordou, quando as risadas já estavam no fim, limitadas a sorrisos.

      —Vocês nem me conhecem, mas arriscaram a vida para me salvar – Ela assumiu uma postura um pouco mais séria. – Ninguém mais se arriscaria assim por mim. E você, mais do que todos, quase morreu depois de curar e absorver toda dor desse meu ferimento – Passou novamente os dedos sobre a área que havia sido lesionada tão gravemente. – Se eu não puder confiar em você, então, ninguém mais seria digno de confiança neste mundo...

      Maks assentiu em silêncio, pensando em dizer algo que soasse inteligente e modesto ao mesmo tempo, mas não conseguiu elaborar nada. Seu sorriso de orgulho no rosto, no entanto, ficou mais visível do que um sol de verão num céu sem nuvens.

      "Eu tinha vindo aqui, primeiramente, para perguntar se precisava de mais alguma coisa." – conseguiu dizer, ainda se sentindo encabulado pelo elogio.

     Obrigada pela preocupação, mas estou bem, não se preocupe. – Olhou ao redor, para todos os cantos daquele luxuoso cômodo. – Acho que aqui tem tudo do que eu vou precisar.

      "Mas se tiver fome e precisar comer alguma coisa, é só atacar a geladeira a hora que quiser, sem cerimônia" – deixou avisado. – "Pizza, bolo de chocolate, pudim... Tem de tudo lá."

      —Estou sem fome agora. Mas obrigada de qualquer forma. – Ela passou as mãos pelo rosto e esfregou os olhos, antes que um longo bocejo surgisse e a obrigasse a usar uma delas também para cobrir a boca. – Eu me viro para ajeitar as coisas aqui. Termino em alguns minutos, aí... – Seu olhar se desviou na direção da porta banheiro, que estava aberta, revelando um lugar enorme, revestido de azulejos alvos como a neve e brilhando numa limpeza impecável. Em seu interior, ela facilmente conseguiu divisar uma gigantesca e reluzente banheira de hidromassagem de seis jatos. – tomo um banho naquela maravilha que parece estar me chamando... e então, vou dormir. Estou exausta.

      "A casa é sua, fique à vontade. Tenho certeza que vai gostar deste quarto. Antes de ser seu, ele foi meu." – Fez uma careta de decepção. – "Por uns dois minutos... Aí, no fim, acabei ficando com o sofá." – Deu de ombros mais uma vez e apontou para a última porta do roupeiro, que estava chaveada. – "Naquela última porta tem algumas roupas guardadas. Novas. Tudo roupa de mulher. E a Yelena já pegou as que ela queria. Se alguma te servir, pode ficar para você. A chave está na gaveta do criado-mudo." – Apontou para o pequeno móvel ao lado da cabeceira da cama.

     Obrigada – agradeceu ela, assentindo. – No momento, estou precisando mesmo. – Pegou a chave na gaveta, virou-se na direção do roupeiro e seguiu até lá, levando um punhado de roupas meticulosamente dobradas, colocando-as nas prateleiras da primeira porta. Em seguida, deu alguns passos para o lado e, usando a chave, abriu a última porta, que caiu ao ser aberta. – Agora entendo porque era mantida chaveada... – disse, rindo um pouco, enquanto segurava a porta solta com a mão. Deixou-a escorada sobre a porta ao lado e deu uma olhada nas tais roupas guardadas. Tirando-as das sacolas plásticas, passou a verificá-las como uma cliente de loja. – Tem algumas que servem sim, mas na maioria, são roupas de dormir. Camisolas, baby-dolls e robes – revelou, com um leve traço de decepção na voz enquanto conferia cada peça. – Mesmo assim, muito obrigada, aproveito os robes.

     "Pode usar as outras roupas também." – Foi incentivada novamente em meio a mais um sorriso. – "Não terá concorrência nenhuma para ficar com essas peças." – acrescentou.

      Eu não uso roupa de dormir – explicou ela, enquanto tirava um dos robes do saco plástico onde estava guardado e o vestia por cima de sua roupa, os dedos deslizando, sentindo o tecido, aprovando a qualidade da peça. – Durmo só de calcinha... – murmurou, complementando a resposta de forma distraída, enquanto torcia o pescoço para conseguir alcançar a etiqueta.

      "Ah, sim... entendo." – disse ele, olhando para o lado, coçando a lateral da cabeça, sentindo mais uma vez o rosto corar. – "O aquecimento daqui é muito bom." – Girou o dedo, como se mostrasse o ambiente, o rosto erguido, olhando para cima, para os lados; para qualquer direção. – "Muito quente. Pode continuar com seu... hábito. Eu... acho que vai se... habituar... aqui."

     Maks, esse robe aqui é de seda pura! – exclamou ela, após conseguir ler a etiqueta. – E a marca dele é francesa! É caríssimo!

      "Hã...!? Ah, que bom! De qualquer forma, é seu, se quiser.

      —Nossa, obrigada...! – ela agradeceu, ainda tocando e sentindo o tecido macio e perfeito do robe.

      "E espero que esta sua estadia aqui seja mais inesquecível do que aquela de quinze anos atrás."

      —Obrigada. Será inesquecível sim. Principalmente, se não me cobrarem nada... – brincou mais uma vez, olhando-o de esgueira, o robe ainda vestido.

      "Estadia totalmente grátis" – Maks sorriu, complacente, o rosto voltando à coloração normal de maneira ainda lenta. – "E uma última coisa, Yuko... – Fez um ligeiro gesto, para captar a atenção dela. – "Você não precisa falar em voz alta para que eu te entenda. Na verdade, falar em voz alta até atrapalha um pouco. O que compreendo é seu pensamento, não a sua voz. Então, para falar comigo, basta pensar no que quer dizer que eu vou ouvir e entender."

      Ela, então, fez como ele pediu e apenas pensou.

      "Assim está bom? Consegue me ouvir?"

     "Está ótimo! Ouço perfeitamente e de maneira mais clara."

      "É esquisito...!" – confessou Yuko, fazendo uma careta enquanto sorria.

      Ele exibiu um sorriso de canto de boca, meio canastrão e tentou caprichar na frase de efeito. – "Bem-vinda a meu mundo."

      Ela devolveu o sorriso. – "E estou achando esse seu mundo bem interessante..." – Fez uma nova careta. – "Mas é bem melhor assim, apenas pensando. Era estranho quando ficava só eu falando. Dava a impressão de que eu falava sozinha igual uma doida..."

      "Acredite, Yuko, faça o que fizer, nunca vai parecer tão doida quanto nós." – Fez um aceno com a mão e se despediu, desejando-lhe boa noite, saindo do quarto e juntando-se aos companheiros no estudo dos mapas.

      Kaneda o fuzilou com os olhos assim que chegou à mesa. E manteve a cara amarrada por alguns minutos. Depois, passou a observar fixamente a porta da suíte, mantendo um olhar sonhador e distante, com a boca aberta.

      Maks nem ousou sondar a mente dele para saber o que se passava ali dentro...

      Até que, lá do quarto, Yuko entrou em contato novamente.

     "Espere um pouco aí, Maks! Isto quer dizer que você pode ouvir meus pensamentos a hora que quiser?!"

      Infelizmente, a resposta dele demorou alguns segundos a mais que o necessário. – "Não! Claro que não!"

      "Não me convenceu muito...!"


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