Capítulo 28 - CONSELHO DE AMIGA

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      Aleksei permaneceu junto a ela, o olhar atento, captando discretamente cada detalhe do rosto da jovem médica, cada sutil mudança naquelas expressões. E enquanto era observada, Ly olhava sorridente na direção do quarto, onde os dois mal-intencionados Caçadores acabavam de entrar.

      —Não se preocupe, ele vai sobreviver aos dois – falou finalmente, aproximando o rosto um pouco mais durante a frase, conseguindo a atenção dela.

      Encararam-se por um breve momento, até que ele percebeu, pela visão periférica, que estavam sendo observados. A enfermeira Matadora de Nômades não dava trégua.

      Ela se mantinha afastada, mas perto o suficiente para não perder a colega de vista por muito tempo. E sua maneira disfarçada de espreita-los não era regrada por muita sutileza (na verdade, poderia ser descrita como intimidadora). A seu modo, zelava pela amiga, mas de forma que chegava a ser um tanto sufocante para os alvos de sua vigilância cerrada.

      Pelo menos, para Aleksei, pois a distraída doutora Ly parecia nem se aperceber de que aqueles olhos sempre ficavam pousados sobre ela quando estava em companhia do líder dos Caçadores.

      E a forma bem pouco discreta (e incisiva) com que se dava esta sondagem, parecia proposital, como uma espécie de aviso velado ao Caçador, do tipo: se você fizer minha amiga sofrer, eu te mato.

      Ele então, se via obrigado a vigiar seus próprios gestos, para evitar qualquer tipo de toque que pudesse ser mal interpretado pela espiã que os espreitava... Pois apesar de seu espírito divertido e amistoso, com o bom humor sempre em alta, aquela sutil ameaça com o olhar tinha que ser respeitada. Pelo pouco que ele já conhecia de Maya, aprendeu que não seria sábio provocá-la...

      Tentando ignorar aqueles olhos que os observavam, ele estendeu o braço e Ly correspondeu ao gesto de imediato. Durante o cumprimento, apertou sua mão com firmeza, mas mantendo uma pressão branda contra aqueles pequenos e delicados dedos. – Obrigado de novo, doutora Ly – agradeceu, sorrindo, com os olhos fixos. – Foi nossa salvadora, mais uma vez.

      Ela sorriu, modesta. – Não tem o que agradecer, é meu trabalho. Se bem que, desta vez, não precisei fazer quase nada. Só observei. – A resposta foi dada sem conseguir encará-lo diretamente, embora tentasse. Olhava no rosto dele, mas acabava evitando o contato direto com aquele olhar, sempre tão intenso. Tinha a sensação de que aqueles olhos discretamente a despiam quando conversavam assim próximos, principalmente, quando havia um toque envolvido, por mais superficial que fosse.

      E embora ela gostasse (e muito) daquela sensação, não conseguia evitar de ruborizar como uma adolescente.

      E odiava ficar assim.

      Aleksei, por outro lado, sempre se deliciava com aquelas reações. – Não se menospreze. Só observando já nos deixa seguros.

      —Que bom – respondeu ela, sem conseguir desfazer ou diminuir o sorriso que havia se formado em seu rosto. – Mas pode parar com isso de doutora. – pediu, fingindo, por um segundo, uma expressão contrariada. – Pode me chamar só de Ly, por favor. Sem formalidades.

      —OK, Ly – concordou ele, demorando mais tempo que o necessário para soltar a mão dela. – E sempre me impressiona ouvi-la falando português, sabia? Fala perfeitamente. Não percebo quase nenhum traço de sotaque, é impressionante!

      —Obrigada – agradeceu ela, baixando os olhos e corando um pouco mais com o elogio. E as mãos continuaram juntas, sem que nenhum deles tomasse a iniciativa de separá-las.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora