Capítulo 12 - DESERT EAGLE .50

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     Embora não morasse muito longe daquele local, uma simples caminhada noturna lhe era proibida, pois os Caçadores o obrigavam a obedecer ao toque de recolher. Mas era algo que ele achava absurdo, a exemplo daquela proteção excessiva com a qual o blindavam, sempre temendo que algum Nômade desgarrado pudesse vir a atacá-lo. Com isso, acabou se tornando apenas o piloto das missões; e como já havia percebido, em breve, nem mais isso lhe seria permitido. Devagar, eles o estavam liberando da responsabilidade de se arriscar, mesmo contra sua vontade.

      Mas aquela preocupação toda era inevitável. Nenhum dos Caçadores oficiais tinha uma família para se importar. Pelo menos, nenhuma que eles pudessem lembrar. Misaki, por outro lado, era um dedicado pai de família de trinta e dois anos que tinha muito a perder: era casado com uma compreensiva esposa chamada Hitomi, que embora jamais reclamasse da constante ausência do marido, teria um enfarte se soubesse dos riscos em que ele se colocava durante as patrulhas. Ela tinha a ilusão de que essas horas extras noturnas eram passadas na calmaria estafante de uma mesa de escritório.

      Além da esposa, sua dedicação era dividida entre outra pessoa de igual importância: seu filho de sete anos chamado Makoto, que, como muitas crianças, via na figura do pai o maior herói do mundo; e o garoto não estava tão errado em pensar assim.

      Enquanto guiava o veículo para casa, Misaki acabou se lembrando da primeira vez em que encontrou seus amigos Caçadores de Nômades. Fato ocorrido durante uma de suas inconsequentes caminhadas durante a noite, desobedecendo toque de recolher. Uma época em a equipe ainda estava em suas primeiras semanas de atividade, embora desde o início, tenha ficado evidente que eles não precisariam de muito tempo para adquirirem entrosamento.

      Na ocasião, Misaki se encontrava caminhando pela avenida principal do centro. Um atraso, combinado com uma pequena falta de bom senso, fez com que ele estivesse no lugar mais errado e na hora mais errada possível.

      Durante aquela caminhada acelerada, ele percebeu que as pessoas ao seu redor pareceram perder a sanidade sem qualquer razão aparente. Com os olhos vermelhos, injetados, aqueles transeuntes começaram a atacar tudo o que estava por perto com uma ferocidade animal, gritando e se movendo de forma descontrolada. Com o mais puro ódio irracional dominando suas ações, deixaram de ser pessoas. Poderiam ter sido um dia, mas naquele momento, apesar de ainda manterem os traços humanos por baixo daquelas carrancas selvagens, se transformaram em alguma outra coisa: eram os tais Nômades Assassinos.

      Ele presenciou carros serem capotados por golpes poderosos; postes foram derrubados com ainda mais facilidade e lixeiras voavam aos pedaços, depois de acertadas por aquelas mãos (ou garras). Tudo que estava ao redor era atacado com uma fúria sem controle.

      E ele viu se construindo à sua volta uma situação crítica, parecendo sem saída: um cerco se formou, embora não parecesse premeditado; apenas aconteceu de ele estar naquele lugar, naquele momento e os Nômades exatamente ao redor.

      Então, com o trágico cerco formado, aqueles monstros acabaram avançando na sua direção, movidos por sua peculiar selvageria assassina e sem rédeas.

      Um deles já estava mortalmente perto quando o disparo perfeito de uma Desert Eagle .50 lhe explodiu a cabeça. Misaki chegou a sentir os pedaços de massa encefálica lhe respingarem no rosto quando o crânio do Nômade foi destroçado. E, apesar de ter seguido diretamente na sua direção, o corpo do monstro chegou a ser desviado de seu rumo pela força do impacto; aquele tiro certeiro o derrubou ao seu lado no instante seguinte, como se levasse um soco de um lutador invisível. E permaneceu inerte no chão, após os últimos espasmos.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora