Capítulo 33 - INVASORES DO ESPAÇO

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      Ela sorriu, passando a mão em torno do pescoço como se acariciasse suas parceiras de pele. – Obrigada. – E, fitando-o, ainda sorrindo, acrescentou: – De novo...! – Lembrando que ele já havia feito o mesmo elogio pouco antes daquele pequeno milagre em seu joelho.

      No entanto, os olhos de Maks se desviaram um segundo após o contato com os dela, passando a percorrer as paredes e o teto do quarto, como se estivesse vendo aquele ambiente pela primeira vez, deixando transparecer um nervosismo evidente. As mãos, inquietas, se remexiam nos bolsos.

      Só faltou começar a assobiar.

      Com um sorriso divertido, ela procurou poupá-lo daquele breve constrangimento e parou de olhar diretamente para ele, voltando sua atenção às roupas, continuando a retirá-las, agora da mochila.

      —Pode entrar – disse ela em seguida, como se fosse preciso um pedido formal para incentivá-lo a atravessar o umbral daquela porta. – Mas se você for um vampiro, agora eu estou bem ferrada... – acrescentou, olhando-o de esgueira, fingindo um sorriso arrependido após convidá-lo a entrar, levando mais uma vez a mão ao pescoço, agora como se quisesse protegê-lo.

      Enquanto adentrava dois passos para dentro do quarto, Maks foi obrigado a rir, mas tranquilizou-a. – "Não se preocupe com isso. Não sou um vampiro." – E, de uma maneira meio cômica, mas também estranhamente sincera, ele complementou a própria resposta: – "Pelo menos, eu acho que não sou...!"

      Que pena... eu gosto de vampiros – disse ela, fingindo ficar decepcionada.

      Maks imediatamente levou uma das mãos à boca. Com o polegar e o indicador formando uma pinça, passou a verificar atentamente seus caninos, a expressão do rosto um pouco forçada, procurando acentuar um ar de dúvida. – "Eu meio que venho notando minhas presas um pouco maiores ultimamente, então, nunca se sabe, né...?" 

      E a pequena brincadeira sobre sua possível origem como um sugador de sangue a fez rir novamente; uma reação bem espontânea que acabou servindo também para deixá-lo um pouco menos inseguro.

      Mas antes de fazer a pergunta que o motivou a entrar ali, Maks prestou atenção aos movimentos dela. Apesar do bom humor evidente, aquelas mãos ainda tremiam um pouco e o seu semblante, apesar de aparentar calma, mantinha um quase imperceptível traço de tensão. Sentiu necessidade de dizer algo que a tranquilizasse, ao mesmo tempo em que continuava policiando os próprios gestos, evitando cometer alguma gafe na frente dela.

      "Não existe nenhuma possibilidade de a polícia encontrar esse lugar. E muito menos, de um Nômade entrar aqui. Está cem por cento segura."

      Ela voltou a olhar para ele e balançou a cabeça, concordando. Em seguida, parou de mexer nas roupas e se ajeitou sentada na beirada da cama, de frente para ele. Fez uma pergunta que já queria ter feito desde o ocorrido no seu apartamento.

      —Como conseguiu fazer aquilo no meu joelho? – Ela deslizou a mão pela frente da coxa até chegar ao joelho, onde parou e começou a passar os dedos sobre a articulação, sentindo, mesmo sob o tecido, a leve saliência da recente cicatriz. – Achei que nunca mais andaria novamente... Na verdade, achei que iria morrer! Mas você o deixou perfeito de novo...! A cicatriz ficou bem sutil, quase nem dá pra notar. – Sorriu de leve, inclinando o rosto de lado. Com ponta do dedo ainda sobre o local, traçou lentamente um padrão de linhas curvas, como se seguisse contornos imaginários. – E até formou um desenho bonitinho. Se eu forçar um pouquinho a imaginação, lembra um pedacinho de uma asa de borboleta. – E complementando aquele pequeno sorriso, seus olhos assumiram um ar mais grato quando se ergueram e voltaram a fitá-lo. – Salvou minha vida...! Nem sei como agradece-lo. Obrigada...!

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora