Crônicas

A carta da bisavó

No entardecer de um sábado tranquilo, eu estava procurando as coisas antigas da minha casa com a mãe porquê precisávamos começar a organizar as coisas para a mudança. Então, encontrei um baú com as iniciais "A.P", perguntei pra minha mãe o que significava e ela me disse que eram coisas da minha bisavó que a família mantinha guardadas, pelo fato de que ela era uma mulher de histórias, logo abri e revirei tudo, pois amo histórias.

Encontrei uma carta velha que ela escreveu para um médico, porém nunca teve coragem de enviar, só depois que li foi que conseguir entender o porquê. Minha bisavó viveu numa época em que existiam vários tabus que atualmente foram quebrados, a carta falava sobre uma provável traição, uma DST e, principalmente, uma mulher desamparada por quê não tinha o seu marido por perto e não conseguia realizar os seus desejos. Pois, Bisa "A.P", te digo que hoje em dia você poderia realizar tudo o que quisesse, poderia sair desse casamento tóxico e correr atrás da sua felicidade, poderia seduzir e ter quantos homens quisesse para se sentir satisfeita, sei que naquela época era difícil para você, mas se você pudesse ler essa minha resposta hoje, eu te diria: Vai, bisavó, vai viver, esquece esse rapaz, pois ele não te merece.

Minha bisavó deve ter sido uma mulher muito forte por continuar a sua vida mesmo depois de achar que foi traída e saber que seu marido tinha uma doença que ela não sabia bem o que era, mas que era esperta o suficiente para saber dos perigos do que ela chamou de "sifulus" na carta. Ah, bisavó... Hoje em dia seria tudo diferente para você e com certeza você não precisaria escrever uma carta para alguém desconhecido para tirar suas dúvidas e contar suas angústias. Queria que eu pudesse voltar no tempo e ajuda-la.

Depois que li a carta, falei com a minha mãe sobre isso e ela me disse que já tinha lido e visto várias outras coisas do baú, então imaginei o quão minha mãe conhece a avó dela e percebia que ela se orgulhava muito da minha bisavó, então, logo voltei para o baú para explorar mais as histórias da minha bisavó e conhecer mais sobre a sociedade naquela época enquanto a minha mãe continuou a organizar toda a casa para a mudança.