Victor e Júlia se conheceram numa cafeteira que ficava na esquina da casa dele. O lugar era bem aconchegante, cheio de graça, com poltronas, sofás, mesas e banquetas, além de tocar músicas boas e ter um dos melhores cafés da cidade.
Ele sempre sentava no sofá e ela no balcão. Ele sabia o que ela pedia e ela também sabia sobre os gostos dele, mas um não sabia sobre os pensamentos do outro. Numa sexta-feira, o Victor sentou no balcão e esperou até às 15:30, que era o horário do intervalo da Júlia, para que ela chegasse e ele pudesse puxar assunto.
Ela entrou pela porta da cafeteira, como sempre: pontual, com a pele morena, cabelos cacheados, a maçã do rosto acentuada e com um charme no andar que era muito característico. Quando ela olhou pro balcão, ele pôde ver que ela quase hesitou ir até lá por um momento, mas logo se recompôs e continuou a caminhar.
Lado a lado, Júlia pediu o de sempre: capuccino com o dobro de canela, logo em seguida o Victor pediu pro barista o mesmo que ela e soltou um sorriso meio torto para a Júlia que retribuiu com um sorriso fechado de vergonha. Os dois enfiaram o rosto no celular enquanto esperavam os cafés chegarem... Depois de 5 minutos, os cafés foram servidos e no primeiro gole, o Victor olhou para ela sem virar a cabeça e falou:
- Isso tá muito bom, não é? - Sorrindo, a Júlia respondeu:
- Isso... O capuccino, tá muito bom sim.
Ele já sabia que ela tinha muito conhecimento sobre café e fez isso justamente para a alfinetar.
- Mas você gosta muito de canela assim? Fica um pouco forte demais. - Falou o Victor virando a cabeça para encarar ela.
- Sim, gosto muito! Amava quando a minha mãe fazia café em casa e colocava canela, acho que gosto mais por isso, porquê me faz lembrar dela...
Surpreso, Victor mudou a expressão e perguntou - Ela não está mais entre nós? - E temeu a resposta, pensando se era muito evasiva ou não.
- Não. - Respondeu a Júlia abaixando a cabeça e encarando o café.
- Entendi, a minha avó também se foi, sei como é. Sinto muito. - Falou o Victor com esperança que ela levantasse a cabeça para ver a expressão dele de tristeza.
E ela levantou, porém soltou um sorrindo e disse:
- Tudo bem, já faz um tempo. Me fala mais sobre você, por que vem aqui todos os dias? - Falou sorrindo enquanto via o rosto do Victor mudar de expressão rapidamente ao ouvir a voz dela novamente.
- Ah, eu venho porque eu moro nessa rua, bem pertinho, na verdade. Gosto de passar o tempo aqui, as vezes venho estudar, outras vezes trabalhar e outras vezes só ficar observando as coisas lindas que existem no mundo mesmo. - Disse ele com esperanças que ela entendesse o que ele queria dizer.
Ela sorriu e quase cuspiu o café depois de entender e disse:
- Entendi, as coisas lindas que existem, entendi. - Falou sorrindo e olhando bem nos olhos dele. Isso fez o Victor ficar sem jeito e encarar o café que estava bem na sua frente. Ela viu ele ficar vermelho, mas completamente vermelho, ele era muito branco, então era impossível não notar quando ele estava com vergonha, e ele também tinha uma mania de passar a mão nos cabelos negros quando não sabia o que falar. Ela já sabia disso tudo, pois também observava ele enquanto tomava o seu café todos os dias.Ela terminou o café, virou-se de lado e se despediu do Victor que só conseguiu dizer "até mais" para a Júlia, ela pegou a bolsa e saiu com a graça do seu andar e ele foi para casa, pois teria que se arrumar e ir para a faculdade.
Victor ficou o final de semana todo pensando naquela conversa e no porquê que ele não falou mais nada, ele sabia que ela estava esperando ele falar mais alguma coisa, que ela queria conversar mais, afinal, ela puxou mais assunto, ela queria conhecê-lo melhor. Mas ele era tímido e não sabia reagir bem com certas coisas, e também tinha falado sem pensar. Ele não esperava que o retorno fosse positivo.
Na segunda-feira, o Victor decidiu voltar à cafeteria, porém sentou-se no sofá com o seu notebook e um café expresso. Ele estava tão entretido com o trabalho que nem percebeu qua do a Júlia entrou na cafeteria, ela ficou bem na frente dele e fechou o notebook fazendo com que ele a olhasse com uma expressão de confusão que logo mudou para um um único tom: vermelho.
- Você sumiu. O que aconteceu? - perguntou ela com um ar de deboche.
- Eu? É... não... eu... Eu tinha muita coisa pra fazer no final de semana. - Mentiu ele, pois ficou o final de semana todo praticamente deitado assistindo série.
- Entendi... vou pedir um café, quer outro? - Perguntou ela.
- Pode ser, preciso acordar. - Disse ele se levantando e acompanhando a Júlia até o balcão.
- Oi, tudo bem? Eu quero 2 expressos, por favor. - Disse a Júlia para o barista que a cumprimentou e logo serviu os cafés. - Então, muito trabalho?
Ele olhou pra ela e fez que sim com a cabeça.
- Entendi, vamos fazer o seguinte: você pode vir aqui sempre que quiser, no meu intervalo, às 15:30, e eu te dou apoio moral no seu trabalho... Pode ser? - Disse ela o encarando.
- Po... Popo.. pode ser - Disse ele pausadamente e embaralhando as palavras.
Ela sorriu e disse que ele não precisava ficar vermelho sempre que ela falasse diretamente com ele.
- Tudo bem, mas é que é uma coisa que eu não consigo controlar - Disse o Victor ficando ainda mais vermelho.
- Eu entendo. Mas então, me conte mais sobre o seu trabalho... - Disse ela entusiasmada por estar conseguindo manter o assunto e os olhos dele voltados para ela.
Ele contou tudo sobre o emprego, sobre a faculdade, praticamente deixou ela saber sobre tudo em 1 horas de conversa, o problema é que ele esqueceu de perguntar sobre ela. Para ele, ela já estava clara, ele pensava que já sabia demais sobre ela, simplesmente por observá-la na cafeteria praticamente todos os dias, mas obviamente ele estava errado.
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Crônicas
Short StoryCrônicas para trazer uma reflexão de que sempre tem algo bom no meio de tudo que acontece ao nosso redor.