Preto e branco

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   Um senhor estava caminhando devagar com o apoio da sua muleta numa rua movimentada, então um menino passou correndo ao seu lado e quase esbarrou nele. A mãe gritou pedindo para que o menino pare de correr e tome cuidado com as pessoas que estavam na rua, se referindo ao senhor de idade, mas o senhor seguiu calmamente o seu caminho enquanto o menino o observava e se sentia triste por vê-lo naquele estado, sozinho em um dia nublado.
  
   Anos depois, o garoto que tinha uma vida agitada e sempre corria, brincava e sorria, agora estava mais velho. Vinte e cinco ou talvez vinte e seis anos, com barba e um emprego que ocupava noventa e cinco por cento do seu dia, de domingo a domingo, não tinha tempo de ver a mãe que agora está doente, o pai já não era tão presente quando criança e agora não se falam mais, a mãe ele visita um domingo no mês, mas não consegue matar a saudade que sente e leva os remédios caros para que ela se sinta melhor... A vida era tão colorida, mas agora parece robótica, com pouco sentimento sendo desenvolvido, por quê a rotina não permite a prática do afeto, com a família ou com os amigos.
  
   Numa quinta-feira, o rapaz entrou no carro, que conseguiu comprar depois de uma promoção no seu trabalho, e foi dirigindo lentamente no trânsito da cidade grande, pensando em como a vida era uma constante perda de cores e cabe a nós não deixarmos ela ficar preta e branca. Não que o preto e branco seja ruim, não é isso. É ótimo, é clássico, é de onde vieram os primeiros filmes e ele amava ver filmes com a sua mãe, mas esse é o problema, ele não vê mais filmes, a sua vida estava perdendo toda cor e as pessoas ao redor dele também.
  
   Aproveitando a promoção e uma confiança maior, o jovem chegou no trabalho e pediu para que o seu chefe o deixasse uns dias livre para cuidar e ter um tempo com a sua mãe, o chefe aceitou e o deixou ir. O rapaz correu de volta para o carro e acelerou como nunca até a casa da senhora doente. Ao chegar na casa, a mãe dele não acreditou que o seu filho estava ali, no meio da semana, então ela levantou do sofá com o apoio das muletas e o abraçou tão forte que eles puderam sentir os corações se batendo através do peito.
  
   O resto dos dias foi de muita conversa e filmes, mas no último dia da sua folga, o pai dele voltou de viagem e o viu lá, sentado com a mãe, o velhinho foi chorando até ele e abraçou os dois enquanto dizia que não quer mais perder tempo e nem nenhum momento junto da família que ele construiu, o rapaz olhou para os seus pais, já idosos, e viu a sua vida colorindo de novo. Então, percebeu que para ser feliz basta querer e ir atrás daquilo que te faz bem, abrindo mão um pouco de todas as responsabilidades que a vida nos impõe, aproveitar cada segundo com quem a gente ama e principalmente deixar de lado o orgulho.
  
   Isso faz com que tudo melhore, nos muda e também as pessoas que vivem ao nosso redor, então se a sua vida estiver ficando preta e branca, reflita e corra atrás de colorir tudo de novo com um pincel na mão que você pode chamar de atitude e com todas as cores que você carrega.

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