Imaginação

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No dia 12 de Agosto de 2013 eu ainda era apenas uma criança, sonhava em ser astronauta, veterinário e mais umas vinte profissões ao mesmo tempo. Queria ter o mundo em minhas mãos, e até tinha o meu próprio mundo imaginário onde eu passava a maior parte do dia.

Brincava com os meu pais, que no meu mundo eram do meu tamanho, e todos os meus brinquedos eram gigantes. Nesse meu mundo, eu era o que eu quisesse e meus pais sempre me acompanhavam nas minhas aventuras.

No dia 13 de Agosto, meus pais tiveram que viajar e eu fiquei na casa de uma babá por uma semana, já que eu estava de férias não tinha problema nenhuma e meus pais precisarem de um descanso do meu mundo para viver no deles. Foram as piores férias da minha vida, porquê o mundo da minha babá tinha barreiras que chegaram até o meu mundo.

Eu não podia brincar, não podia gritar, não podia jogar videogame, não podia pular, não podia assistir filmes... Enfim, não podia ser criança. Tinha apenas oito anos e para ela, eu não podia ter 8 anos. Foi uma semana de prisão e eu acabei esquecendo do meu mundo, já que passei tanto tempo no mundo dela.

Meus pais voltaram e me levaram para casa, fiquei feliz em ver eles de novo, mas achei estranho que eles estavam gigantes.

Quando cheguei em casa, os meus brinquedos não falaram comigo e nem estavam grandes, fiquei assustado e isso me fez chorar. Meus pais nunca entenderam o porquê do meu choro naquele dia.

Eu senti ali, no dia 20 de Agosto, que tudo era ilusão, a imaginação acabou. Hoje com 34 anos, percebo que foi um passo da vida, é uma coisa natural que acontece com todo mundo, mas foi de uma forma muito bruta que aconteceu comigo... Eu poderia aproveitar mais, poderia ter outras 10 profissões, poderia ter brincado mais com os meus pais, poderia ter ganho vários outros brinquedos, mas depois daquela semana eu só quis saber de estudar, de querer ser alguém na vida, já que era uma das coisas que a minha babá falava tanto:
- "Eu devia ter estudado pra ser alguém na vida, igual aos teus pais, mas não... Tô aqui tendo que cuidar de você pra eles irem curtir a vidinha deles. Estude pra fazer o mesmo, se não vai acabar igual a mim!". Meus pais acharam legal eu querer estudar, acharam que eu era um filho super dotado, mas nunca souberam o que realmente aconteceu.

No dia eu nem entendi direito, mas aquilo me traumatizou de uma forma que até hoje me martelo. Por isso escrevo esse texto e sinto as lágrimas caírem no papel...

Hoje eu tenho 34 anos, vivo com a minha mulher e com a minha filha que brinca 24 horas por dia. Sou jornalista, âncora do jornal principal de uma emissora, e a minha mulher é policial. Passo mais tempo em casa e me dedico totalmente a minha filha, fazendo questão de desenvolver a imaginação dela e nunca, jamais, deixarei alguém cortar isso dela! Eu sei o quanto sinto hoje por causa disso e nem culpo a minha babá, pois ela apenas replicou o que fizeram com ela e a vida é assim, somos espelhos de quem nos cria.

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