Capítulo 2

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Dez anos depois...

Matt observava o caixão onde estava o pai. Ainda era difícil acreditar que estava morto, vítima de um ataque cardíaco repentino. Nenhum aviso. Nenhum dia de doença que ele soubesse. Aquele homem tão cheio de energia, agora morto. Estava paralisado pela dor. E ainda bem, pois a mãe tinha exigido dignidade absoluta durante o funeral.

Elas estavam em público. Tinham de ser motivo de orgulho para o pai.

Sir Henry Shum estava sendo homenageado hoje.

Havia equipes de TV na frente da catedral, filmando a chegada deles e, lá dentro, todas as pessoas poderosas que tinham vindo prestar suas últimas homenagens: políticos importantes, capitães de indústria e a fraternidade de corridas de cavalos. Ela os ouvia tomar seus lugares atrás dela, cumprimentando-se em tom de condolências.

Do outro lado da nave estavam as figuras mais importantes da empresa do pai — a outra família dele — que compartilharam os sonhos de um império de transportes e se envolvido em realizar seus grandes planos. Ele tinha passado mais tempo com eles do que conosco, pensou Matt. Certamente estavam arrasados com a morte, sem saber quem substituiria o grande homem que já não estava mais lá.

Ele não tinha a menor noção dos negócios do pai. E nem Alexandra, que estudava enfermagem. A mãe tinha dedicado sua vida para ser uma esposa perfeita, certamente a chefe em casa, mas só interessada em conservar sua posição social, que era o mais importante para ela.

Eles tinham sido protegidos por uma grande riqueza, mas nenhum deles sabia o que poderia acontecer agora.

Talvez houvesse respostas no testamento do pai. Amanhã iriam ao escritório do advogado para a leitura. A mãe estava furiosa porque o advogado se recusara a ler o testamento na privacidade da casa dela, alegando que seguia as instruções do próprio sir Henry. Nenhum argumento prevaleceu contra isso. Nem sua mãe conseguia romper o domínio da vontade férrea exercida por Henry Shum sobre seus subordinados.

Porém, ele perdera o domínio sobre a vida; ela lhe fora tirada. Provavelmente a única coisa que lhe fora tirada. Exceto...

Matt pensou em Harry Shum Jr. Apesar do que os pais lhe disseram, ele não acreditava realmente que a mãe dele o tivesse tirado do homem que agora estava no caixão. O pai tinha optado por abrir mão dele. Era só o que ele podia imaginar, principalmente porque ele não optara por tê-lo de volta. Era a única explicação plausível para o fato de Harry Shum Jr não ter se tornado parte integrante da vida deles.

Agora era tarde demais para equilibrar a balança, ele pensou triste.

Harry Shum Jr tivera um impacto tão forte sobre ele no seu único encontro, que ele muitas vezes imaginou como ele tinha lidado com a rejeição do pai. Devia ter sido muito doloroso. O golpe pessoal, porém, não o havia impedido de se tornar um empresário bem sucedido, por conta própria. Talvez o tivesse estimulado a se sobressair.

Ele lera sobre Harry nos jornais de vez em quando, fechando negócios altamente lucrativos. Nas fotografias, nunca sorria, nem mesmo quando acompanhado de uma linda mulher ou homem numa festa. Seus olhos estavam sempre frios. Ele achava que era porque seu coração era frio, sem uma família para aquecê-lo.

Nenhuma chance agora de aquecê-lo pela aceitação ou aprovação do pai. A mídia tinha falado muito sobre a vida e a morte de sir Henry ultimamente, e Harry tinha sido mencionado como o filho afastado. Isso o tinha feito sentir-se mal, por ter sido um filho adotivo tão mimado.

Acordo Sedutor - ShumdarioOnde histórias criam vida. Descubra agora