CAPÍTULO 9 - Previlégio

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Alycia sorriu para o recepcionista enquanto entrava no ambiente intimista do restaurante. Ele estava a meia luz e dava para ouvir o tilintar dos garfos e a conversa ambiente. Os garçons passavam de um lado para o outro com os pratos fumegantes e eles foram guiados até uma mesa perto da janela, mesmo que só houvesse uma brecha nas cortinas grossas do restaurante.

— Boa tarde, já sabem o que vão pedir? — Charlie ergueu o cardápio, mas Alycia foi vomitando todas as informações necessárias para o seus pratos veganos sem ao menos piscar. Ele notou que ela iria ali com certa frequência.

— Ahn... Vitela ao porto. — Disse e o rapaz se afastou com os pedidos. Alycia sorriu para o garçom que se afastava e Charlie se acomodou na cadeira. — Eu quero pedir desculpas de novo pelo meu comportamento. — Ele engoliu a seco e as orbes verdes de Alycia se voltaram para ele.

— Vai ficar se desculpando até quando? — Charles deu os ombros.

— Até você entender que foi sem querer. — Alycia bufou e se jogou no estofado da cadeira.

— Eu já entendi, Charlie. Tenho ciência dos efeitos da minha presença e eu quem peço desculpas. — Olhou para fora, observando a pequena fresta na cortina. — Não queria te causar problemas.

Charlie franziu o cenho. O que Alycia estava achando? Que aquilo era culpa dela? Tudo bem que ele havia insinuado isso, mas nunca lhe passou pela cabeça – não depois de tomar consciência da realidade – que ela poderia ser culpada dos atos da Roxanne.

Sua ex era mesquinha e isso não era culpa de Alycia. Ela era sua amiga.

— Alycia, o problema é a Roxanne e não você. — Falou firme, mas Alycia apenas assentiu olhando para baixo. — O que houve? — Perguntou um minuto depois.

— Heisenbolt, o foco aqui é você é sua ex namorada. Não eu. — Sorriu cruzando os dedos. — Me conte o que aconteceu?

Charlie queria insistir em saber o que estava acontecendo com ela, mas conhecia aquele olhar e sabia que não adiantaria tentar. Suspirando, ele contou sobre o convite e o e-mail.

— Eu não tô com ciúmes, Alycia, não mesmo. Mas to me sentindo traído, como se toda a consideração que eu tinha por ela fosse algo totalmente unilateral e nem um pouco digno de atenção. Vai ser no mesmo lugar que eu havia reservado para a nossa cerimônia, o lugar dos sonhos dela. — Ele fechou os olhos por um segundo e o garçom se aproximou servindo o almoço deles e se afastou depois de Alycia dizer o vinho que queria. — Eu achei sacanagem, principalmente quando até então eu achava que ela estava se relacionando com varias pessoas e nada sério o suficiente para um casamento. Demoramos anos para noivar e ela com oito meses de solteirice vai estar casada.

— Eu sinto muito, Charlie, mas se isso está acontecendo foi por que ela procurou. Você sabe com quem ela vai se casar?

— Com um cara do trabalho dela, então, sim, é bem capaz dela estar com ele há bem mais tempo e eu ter sido feito de palhaço durante todo esse tempo. — Charles abaixou a cabeça e Alycia se remexeu inquieta. — Eu me sinto um idiota por estar me sentindo assim.

— É totalmente compreensível esse seu sentimento. — Alycia suspirou, deixando seus ombros murcharem. — Eu sinto muito por isso, não queria te causar problemas. Mesmo. — Engoliu a seco e fechou os olhos.

— Eu que sinto muito por ter descontado em você. — Estendeu a mão, segurando seus dedos. Alycia pensou em tirar a mão, mas com a mão livre apenas esfregou a testa e tentou sorrir. — O casamento da Roxanne não tem nada haver com você, só envolve ela e o namorado dela. — Tentou sorrir e Alycia o observou com certa solidariedade. — Tem alguma coisa acontecendo com você? — Perguntou depois de um tempo, notando algo de errado em seus olhos.

Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora