CAPÍTULO 10 - Insuficiência

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Charles se arrependeu por ter sido tão bem disposto a fazer com que Alycia não o odiasse por ter descontado o seu ódio por Roxanne nela, tanto é, que depois de ter passado no escritório e pegar teu carro, ele estava agora se enfiando na garagem do prédio de Alycia com um nó na garganta.

— Você tem certeza disso? — Ele questionou mais uma vez, mesmo que quem não tivesse certeza era ele. Alycia concordou com um aceno e pulou do carro.

Charles fez o mesmo e seguiu até o elevador, seguindo Alycia.

O prédio dela era bem vintage, se é que poderia usar essa palavra, mas combinava com ela de uma forma única. Todas as paredes eram com tijolinhos a mostra, as portas eram todas de madeira branca e os números do apartamento eram dourados.

Seu apartamento era o último, de frente ao corredor. Ela seguiu até lá vasculhando a bolsa e conforme o salto batia no chão, o miado se intensificava. Automaticamente o arrepio correu o braço de Charlie ao lembrar que ela tinha um gato e a ponta do teu nariz pinicou.

— Olá, Praga. — Alycia disse assim que abriu a porta e o gato preto começou a se enroscar na sua perna. Ela colocou sua bolsa em cima da mesa de vidro ao lado da porta e seguiu para dentro do apartamento com o gato aos seus pés.

Charlie olhou para o apartamento e soube que era impossível que pertencesse a outra pessoa. Era muito bem iluminado, havia luminárias altas em todos os lugares, os móveis eram na sua maioria brancos, além de quadros expressivos nas paredes, com capas de CDs, frases imponentes e também um com todos os ingressos de shows que ela já havia ido. Charles se aproximou e notou que havia ido a um daqueles com ela, um concerto sinfônico do Scorpion. Parecia ter sido há uma eternidade.

—... Eu só quero que vocês resolvam isso logo! — Disse uma voz vinda do corredor e ele ouviu quando começaram a mexer na maçaneta da porta de Alycia. Zoe entrou no apartamento sendo seguida de Bellany é uma garota ruiva que ele supôs ser Natasha. — Eu não posso ficar com as minhas madrinhas brigadas é muito menos contar as novidades pra vocês desse... — Ela parou de falar quando notou a presença de Charles no meio da sala, parado com as mãos enfiadas no bolso do terno e uma cara de quem não sabe o que diabos estava acontecendo. — Ah, oi. — Disse assustada.

Bellany franziu o cenho, dando um passo à frente e Natasha subiu as sobrancelhas.

— Olá. — Charlie respondeu sério.

— Oi, Charlie. — Bellany disse. — O que faz aqui?

Ele abriu a boca para falar, mas notou que não sabia uma resposta digna o suficiente, então fechou a boca suspirou.

Alycia voltou sabe-se lá de onde e encarou as amigas com tranquilidade, mesmo que a presença dele ali estivesse desconcertando a todas.

— Olá, meninas. — Ela falou simplesmente. — Nat, esse é Charles Heisenbolt, ele estudou comigo e com a Bellany.

Como Charles havia suposto, a terceira garota era Natasha. Ela era alta, muito alta, e os cabelos ruivos naturais caiam lisos até a cintura, e os olhos verdes estavam brilhando nas órbitas grandes. Ela era branca demais, mesmo que Alycia conseguisse a proeza de conseguir ser ainda mais e era magra para ser modelo e ainda faltaria carne. Charlie acenou.

— Charlie, essa é Natasha Jones, minha amiga. — Sorriu e concordou com um aceno simples.

— Ahh... Charlie, não leve a mau o que vou dizer agora, mas – voltou-se para Alycia, apontando para ele. –, o que ele está fazendo aqui? Temos uma... Situação.

— Ah, sobre isso... — Charles deu um passo à frente, coçando a nuca. — Estou aqui para resolver os seus problemas, no caso, a situação em si. — Sorriu como pode e Alycia revirou os olhos. Ela seguiu até uma mesa de vidro do outro lado da sala e indicou para que cada um se sentasse em um lugar específico. No caso, Charlie na ponta, Bellany a sua direita, Natasha a sua esquerda, Zoe ao lado de Bellany e Alycia ao lado de Natasha. — Certo... — Ele pigarreou. — Me conte o que aconteceu.

Aquela foi, sem sombra de dúvidas, a pior decisão tomada por Charles aquele dia. Houve um grunhido agudo vindo de Natasha e Bellany que fez o seus ouvidos doerem, elas gritavam uma com a outra, logo em seguida começavam a pontar os dedos, não contente, Zoe e Alycia se enfiaram no meio e tudo o que sobrou foi uma total desordem e gritaria. Charles se encolheu e fechou os olhos com força antes de enfim falar mais alto do que elas.

— PELO AMOR DE THOR, FILHO DE ODIN, DEUS DO TROVÃO E HERDEIRO DE ASGARD, CALEM A BOCA! — Falou sério e todas as quatro se aprumaram na cadeira, saindo de cima da mesa. — Meninas, eu não sei o que aconteceu com vocês, mas pelo o que a Alycia me disse, vocês são amigas há anos! — Natasha cruzou os braços feito uma garotinha emburrada e Bellany olhou para o outro lado. — Howard é um cara como qualquer outro e eu não quero o defender e muito menos falar que você, Bell, deve ser baba de homem, mas, se ele realmente gostar de você, ele vai ser um cara legal e se não, eu quebro a cara dele! — Bellany olhou para Charles por um instante e tentou reprimir um risinho. — Natasha, eu também não te conheço, mas conheço Alycia e Bellany, e se você está aqui, é por que elas te amam e você também as ama, então, eu tenho certeza que sua intenção foi a melhor ao alertar Bellany sobre Howard. — Ele suspirou e engoliu a seco. — Vocês quatro são melhores amigas, não deixem que isso acabe por conta de um cara, pode ser ele quem for. Se protejam para que algo não aconteça e se acontecer, se ajudem! Isso é amizade! Mas, por favor, não fiquem brigando por conta disso. Não vai valer a pena. — Charles maneou a cabeça e seus ombros murcharam. — Destruir um amor, seja ele qual for, não vale a pena por nada nesse mundo.

Alycia encarou Charles e soube que ele queria dizer alguma coisa com aquilo e sabia que envolvia Roxanne, mas se permitiu ficar calada. Natasha encarou Bellany por alguns minutos antes de finalmente, Bellany levantar e seguir até a amiga e a abraçar.

—Eu te amo. — Foi o que uma disse a outra antes de se sentarem e enxugarem lágrimas fajutas.

— Ei, Charles. — Zoe o chamou um segundo depois.— O que aconteceu com você? 

Charles ergueu os olhos para Alycia e ela sorriu o encorajando. Charles suspirou e contou a história do que Roxanne havia feito.

— Mas por que vocês terminaram? — Zoe perguntou quando seu monólogo acabou. — Foi por desgastes? Vocês não se amavam mais?

— Não é uma questão de não amor — Charles disse cruzando os braços sobre a mesa. Natasha, Bellany e Zoe o encaram enquanto os olhos do homem viajavam e Alycia apenas se encolheu. — Eu a amava, com todas as fibras do meu corpo, mas... Eu não podia fazer isso sozinho. Eu precisava que ela me amasse de volta na mesma intensidade, na mesma sintonia. Eu queria que ela soubesse dos meus defeitos e das minhas falhas como eu sabia das dela, eu queria que ela entendesse minha deficiência em determinadas situações da mesma forma que eu fazia com ela, mas... Não. Enquanto eu tentava deixar tudo bem, tentava fingir que nada daquilo estava acontecendo apenas para ter mais um dia ao teu lado, Roxanne ia até a última página de uma discussão pra provar que ela estava certa por conta de uma vírgula que coloquei no lugar errado. Eu estava desgastado, eu não... Não sabia mais como fazê-la feliz, mesmo que aquele fosse meu único objetivo. Então... Eu a deixei ir. — Sua voz era apenas um sussurro e sua dor refletia nos seus olhos. Alycia engoliu a seco e o encarou, mesmo que Charlie observasse o vidro da mesa. — E eu não queria, mas... O que eu poderia fazer? Amarra-la no meu pé e a obrigar me amar de volta? — Charlie olhou para Alycia e se encolheu. — Eu a amava demais para fazê-la infeliz do meu lado, então aceitei minha infelicidade somente para vê-la sorrir. Isso que é amor, não é? Sacrifício? Eu só não sabia que doía tanto.

— Charlie, eu sinto muito. — Nat disse limpando o rosto. Ele a encarou e sorriu solidário.

— Não sinta. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance pra fazer Roxy feliz. O problema é que ela não queria mais que fosse eu ao fazê-lo e, bem... — Charles deu os ombros, mas tudo no seu rosto mostrava que ele estava mal por aquilo. — Ela me deixou, não foi? E eu tenho de aceitar que amor não é o suficiente.

Alycia engoliu a seco e desviou o olhar para a janela. Seus olhos estavam marejados, mas ela não queria que Charles ou suas amigas a vissem daquele jeito, mas ela sabia que ele estava certo, amor nunca é o suficiente.

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Capítulo curto, mas só pra não faltar! Essa semana ainda sai mais!    

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