Alycia suspirou e esfregou o nariz, engoliu a seco e se remexeu no banco de couro bege do carro de Charles antes de começar a falar. Ela não sabia o que dizer, talvez a verdade de tudo o que realmente havia acontecido, do seu asco eterno e infinito sobre a pessoa de Richard Zimmer, ou simplesmente, manter a versão diminuída e segura da realidade, aquela dentro de sua área de conforto, e foi essa que ela optou em falar.
— Ele era amigo de todo mundo da faculdade, o famoso filho de Albert Zimmer, o tenebroso engenheiro naval rico o suficiente para comprar todas as pessoas daquele lugar. — Ela arregalou os olhos com excesso de impressionismo. — Todo mundo achava ele bonito, ele era popular, e mesmo que a gente andasse junto, ele não era uma pessoa que queria manter além da roda de amigos do bar.— Deu os ombros. — Não costumo ficar com absolutamente ninguém que minhas amigas já tenham ficado. Ele tentou forçar a barra e eu disse não. Ele ficou meio puto, mas... Supera! Nem todo mundo tem o que quer. — Suspirou, mas Charlie ergueu a sobrancelha enquanto guiava pelas ruas chuvosas de NY. — Depois disso o ranço foi instaurado.
— Ele consegue superar o nível Clark de babaquice. — Alycia riu com certa ironia.
— Perto do que eu sinto pelo Richard, Clark é um anjo enviado do céu.
— O nível das pessoas que você anda é bem baixo, senhorita Vanderbilt. — Alycia deu os ombro, se encolhendo e Charlie riu, mesmo que algo na sua história parecesse não estar sendo sincera.
— Só... Só não comenta isso com ninguém, tudo bem? — Alycia pediu depois de algum tempo. — As meninas não sabem disso, principalmente a Zoe. — Charlie ergueu as sobrancelhas virando a uma esquina.
— Nem a Bellany? — Alycia negou com um sorriso no rosto, ainda que contido. Charlie assentiu. — Ok. Não comentarei nada sobre isso com ninguém, pode ficar tranquila. — Alycia sorriu mais uma vez, mas dessa vez era um sorriso genuíno.
— Muito obrigada, senhor Heisenbolt. — Ele piscou para ela. Alycia notou que ele era bem mais bonito agora do que já era na adolescência. O carro foi diminuindo a velocidade e Alycia percebeu que ele já haviam chego ao seu apartamento, mais rápido do que ela havia imaginado. A rua do seu prédio estava deserta e a chuva havia apertado. — Obrigada pela carona. De novo.
— Está quase se tornando um hábito. — Afirmou mordendo os lábios enquanto observava o final da rua. Mal dava para ver o farol lá no fundo por conta do mundarel de água que caia.
— Não, você não teria tanta sorte. — Ela suspirou teatral. Charlie revirou os olhos.
— Você deveria aprender a dirigir então. — Alycia o encarou boquiaberta. Charles observava as unhas.
— E quem disse que eu não sei dirigir? — Ele deu os ombros e a encarou.
— Você sabe? — Alycia parou um momento para pensar e engoliu a seco, erguendo o dedo.
— Saber é uma palavra muito forte, mas eu tenho carteira de motorista. Simplesmente não me dou bem de carro, por isso meu extrato do cartão de crédito é somente Uber e gasolina pra Vespa. — Sua feição parecia bem satisfeita.
— Você tem uma vespa? — Charlie questionou confuso e surpreso. Alycia fez que sim.
— Vai me dizer que você não sabia? — Ela riu com sua reação. Era estranho as pessoas do seu convívio não saberem muito sobre ela, estranho e totalmente satisfatório.
— Não tem muitas coisas que eu sei sobre você, Alycia, pelo menos não mais. — Alycia suspirou. Charlie estava certo, há muito tempo ela não era mais a garota que ele conheceu no jardim de infância aquela que o defendia dos idiotas da escola. Ele, por outro lado, também não parecia mais um cara que precisasse de proteção. Por sorte, a vida havia sido gentil com seu sedentarismo e os paletó marcava braços grandes e sua camisa branca não estava protuberante na sua barriga.
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Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)
Ficción GeneralAlycia gostava de ver seu mundo de forma colorida, sua revista, seu blog e todas as suas redes sociais lotadas de opiniões ácidas sobre o cotidiano em que vive é uma prova disso. Formada em jornalismo e em publicidade e propaganda, seu próximo passo...