Caso Familiar

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Ao chegarem à mesa, Viktor puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar, e Sofia o fez agradecendo com um sorriso divertido.

-James, eu quero meu café como sempre. Obrigada.—Ela brinca pegando uma taça e batendo nela com a colher.

Viktor se sentou à sua frente, rindo.

-Você sabe, eu tomo café sozinho, Sofia.—Ele responde a olhando de relance.

-Sei?—Ela brinca fingindo inocência e recebe um olhar sério em troca.—Oh, sim. Sei. 

-Sirva-se do que quiser.—Ele fala pegando o café.

Eles comeram conversando aleatoriamente por alguns e Sofia olhava ao redor o tempo todo esperando encontrar alguém de súbito; mas isso não aconteceu. Era verdade que Viktor lhe dissera que odiava ficar sendo seguido o tempo todo e não ter privacidade, então sempre nas suas refeições ele preferia comer só, já que a família nunca se reunia para tal atividade.

Assim que terminaram, Viktor lhe perguntou o que ela gostaria de fazer para passar o tempo, ao que Sofia respondeu que o queria mesmo era voltar a dormir.

-Mas você disse que íamos aproveitar enquanto eu estivesse aqui.—Ele a lembra com a voz decepcionada.

Eles já estavam na porta, mas mesmo assim Viktor ainda insistia para que ela mudasse de ideia. Sofia estava inclinada a aceitar, mas estava cansadíssima e sabia que ele não havia dormido bem também.

-Vik...eu sei que disse isso, mas nós dois precisamos descansar. Você mais do que eu. Ninguém vai fugir, ok? Volte a dormir e nos veremos mais tarde!—Ela responde se aproximando e lhe dando um abraço.

Ela sentiu uma súbita compaixão pelo olhar melancólico de Viktor; seus olhos diziam que não queria mesmo que ela fosse embora, que ficaria sozinho novamente. Era uma tristeza mais profunda do que parecia, do que ele deixava transparecer. Isso a fez querer confortá-lo de alguma forma, embora não se lembrasse se já o abraçara alguma vez antes. Seu amigo sempre lhe dissera que na sua cultura não era muito normal se comportar carinhosamente sem um motivo específico, então ela sempre procurara não o tocar muito ou parecer “entrona”. Eva também lhe advertira sobre o assunto, falando em experiência própria dos primeiros anos em que começou a trabalhar na casa da família.

Viktor imediatamente retribuiu, suspirando em seu cabelo. Sofia sentia suas mãos a segurando firmemente e se aconchegou colocando os braços ao redor de seu pescoço, enterrando o rosto entre eles.

Viktor novamente sentiu a sensação abrasadora de conforto e alívio ao tocar Sofia; o contato entre eles parecia natural, simples, como se fossem programados para aquele fim. Sofia meramente sentia certa vergonha e talvez um estranhamento inicial; para ela, era normal amigos se abraçarem. Para Viktor, era algo inesquecível.

Um minuto depois um barulho metálico os assustou, fazendo se separarem e olharem na direção em que viera; na estrada ladrilhada que cortava o caminho até ali, um carro preto elegante abria caminho entre as árvores e arbustos na direção em que se encontravam.

-Pai? Mãe?—Viktor sussurra com a voz incrédula.

Sofia olha para ele e para o carro, que se aproximava cada vez mais sinuosamente, e Viktor percebe seu nervosismo. Ela nunca os vira, e pelas descrições nada encorajadoras de Viktor, ela não sentia quase nenhuma vontade—exceto de uma curiosidade mórbida, como quando você mata um inseto e olha apenas para confirmar se está mesmo morto—, de os conhecer.

-Sofia...

-É melhor eu ir! Bye-bye!—Ela acena rapidamente o dando as costas e desce as escadas da entrada, com as mãos nos bolsos do casaco e a cabeça baixa.

Enquanto o Gelo Derretia Onde histórias criam vida. Descubra agora