Imperfeito Mundo Encantado [COMPLETO] (Livro 1 - Duologia Encanto)

Capítulo 4

Uma semana se passou desde o dia na boate.

E eu não esqueci do cara que me salvou de ser estuprada. Seus olhos castanhos permaneceram na minha mente. Não sei porque, mas tenho a impressão de que meu pai não gostaria muito dele. Acho que ele não passa a impressão de bom moço aos outros.

Infelizmente, saíram algumas fotos minhas na boate. O lado bom é que não foi nenhuma foto comprometedora. Eu estava dançando com Maya em uma e, na outra, com um copo de bebida na mão.

O que não faltou, entretanto, foram os sermões.

No dia seguinte, acordamos com a dona Day, mãe da Maya, furiosa por nós duas termos fugido à noite sozinhas. Ficamos mais de uma hora tendo que ouvir ela falar. Eu não tiro a sua razão, mas aquela não era a hora certa, visto que eu estava aproveitando a minha primeira ressaca.

Ao voltar para o castelo, naquela tarde, foi bem pior. Fui recepcionada não pelos meus pais, mas pelo rei e a rainha. Eles encorporaram seus papeis da realeza e a tempestade estava formada. Lídia também estava lá, assim como meu irmão e o conselheiro oficial do rei.

Só depois de muitas palavras ditas e da minha promessa de nunca mais fazer nada do tipo, eles me liberaram para, finalmente, ir para o meu quarto.

E foi ali que eu entendi que eu nunca iria ter a vida de uma mulher comum.

***

Lídia não para de me lembrar sobre o Grande Baile, que será no dia do meu aniversário de 20 anos. Será o dia em que eu, finalmente, serei apresentada formalmente à toda alta sociedade como sucessora apta ao trono e me serão apresentados candidatos e, com a ajuda do meu pai, eu terei que escolher um deles para se tornar meu marido, um homem bom, generoso e de punho forte que administrará o reino junto comigo. E também aquele que me fará mulher, palavras dela.

Grande merda.

Eu sinceramente não quero droga de festa nenhuma. Nem trono.

Só quero uma vida normal ao lado de pessoas normais.

Um marido bom e que me ame e uma família feliz. Simples. Mas eu não posso. Simplesmente porque sou uma Lancaster. E eu nunca quis tanto ser de outra família como nesses dias. E quanto mais essa festa se aproxima, mais eu penso nisso.

***

- Levante os braços por favor, Alteza. Preciso tirar as medidas do seu vestido. - obedeço Agatha, a costureira contratada por mamãe. Ela preferiu que o meu vestido fosse feito à mão, ao invés de confeccionado por uma grande marca para apenas por status.

Estou fazendo uma das últimas provas do meu vestido. Falta uma semana para o baile. Ele é de uma tom lilás, em referências ás minas de ametista do país, tomara que caia e apertado por todo o abdômen, marcando a cintura e levantando os seios. Sua saia é longa e rodada, com várias e mais várias camadas de pano. Bem princesinha mesmo.

Tenho um salto preto de muitos centímetros nos pés e tenho certeza de que eu poderia simplesmente usar uma sapatilha, já que o vestido cobrirá meus pés, mas minha mãe não quis deixar. Segundo ela, uma princesa sempre tem que andar com classe e, a melhor maneira de fazer isso é usando saltos altos.

Inferno! Por que eu não posso ser simplemente eu?

***

- Querida, acorde. Parabéns, meu amor! Hoje é o grande dia! - escuto a voz de mamãe me chamando, mas só tenho vontade de virar pro outro lado e dormir para tentar esquecer da realidade. E é o que faço.

- Marina, levante-se, já está tarde. Tem que se preparar para hoje. Limpei sua agenda dessa tarde e te deixei livre para relaxar num SPA. Anda. - retira meu cobertor de cima de mim e se levanta para abrir as cortinas, deixando o quarto claro demais. Me levantei e me arrastei até o banheiro, sabendo que não teria outra escolha.

Hora de encarar a realidade.

***

- Tudo bem, filha? - meu pai pega minha mão e aperta levemente, passando confiança.

- Sim, só... Nervosa. Eu estou muito ansiosa para hoje a noite. – e não era mentira. Porém, não era aquela ansiedade gostosa que te dá um frio na barriga. Estava mais para medo mesmo. Aquela ansiedade que não te deixa se concentrar em nada pelo dia inteiro e a sua mente vai criando hipóteses cada vez piores sobre o que pode acontecer.

- Enfim o grande dia, não? Não sabe o quanto eu fiquei ansioso por ele. – um de seus raros sorrisos está em seu rosto, radiante de felicidade. - E meus parabéns, minha menina. 20 anos é muita coisa.

- Obrigada, papai. - sorrio fracamente para ele e o abraço. Raramente meu pai te tempo para passar com a família e, quanto tem, o divide para seus três filhos e sua esposa. É por isso que guardo cada palavra que ele me diz com muito carinho, pois sei que elas vêm do fundo do seu coração e não vou ouvir nada parecido com isso tão cedo.

Mike e Paul, seu melhor amigo, entram na sala de jantar bem nesse momento e abrem sorrisos enormes ao me verem.

- Mari! - Mike diz assim que me vê e vem em minha direção, me envolvendo em seus braços - Parabéns, maninha. Finalmente, em pirralha?

- Não esqueça que eu sou mais velha que você, idiota. – Michael ri com o que eu digo e me pega pelo pescoço, bagunçando meu cabelo.

- Olhem os modos, crianças. E, Michael, largue sua irmã, Ela precisa estar pelo menos apresentável para sair do palácio. – mamãe o repreende, mas vejo um sorriso de lado em seus lábios. Ela adora esses nossos momentos em família.

-E ai, Gatinha?- Paul me cumprimenta, e beija minha bochecha – Meus Parabéns.

- Obrigada, P. - abaixo a cabeça assim que respondo e tenho certeza que corei. Paul é filho do Duque de Dâmira e cresceu com meu irmão. Eles são amigos desde a infância e eu meio que tinha uma queda por ele nos meus 14 anos. Mike descobriu e contou pra ele e eu fiquei sem encará-lo por mais de um mês, mas depois passou.

Graças aos céus.

Porém, acho que minha paixonite passou para minha irmã Melissa. Eu posso jurar que sempre que Paul está por perto ela faz questão de ficar grudada no nosso irmão. Só espero que Mike não descubra e conte para Paul também. Já basta uma irmã envergonhada nessa família.

E falando na minha Irmã caçula, ela assim que me viu hoje pulou em cima de mim e me derrubou no chão, me abraçando.

Isso que é amor.

Termino meu café e me levanto, me despeço de todos e rumo para o carro que já está me esperando para me levar até o SPA que mamãe reservou para mim.

Está, definitivamente, na hora de enfrentar a minha vida.