Capítulo 15

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No meu quarto, enquanto penteio meu cabelo após o banho, ainda estou refletindo sobre os últimos acontecimentos.

Primeiro, Ethan some por vários dias sem ao menos dar sinal de vida.

A seguir, ele chega em casa de surpresa e bêbado e fala aquele tanto de besteira, magoando a mim e, mais ainda, à Maggie.

Posteriormente, ele me conta basicamente toda a sua história e tudo o que já sofreu na vida e me deixou sem reação na mesa da cozinha.

Depois, ao se passarem vários minutos, quando eu subi para o quarto que estava ocupando, eu vi uma das cenas que mais me comoveu na vida.

Ethan e Maggie estavam abraçados no quarto dela e ambos choravam, ela mais que ele. Supus que ele foi atrás dela e pediu desculpas pelas idiotices que falou à mulher que lhe deu a oportunidade de ter uma vida nova.

Eu peguei apenas uma pequena parte da conversa, mas ela me fez sair de lá com os olhos cheios de lágrimas e com muitas coisas para pensar.

– Você realmente me perdoa, Maggie? Eu não sei como poderia viver sabendo que magoei tanto a minha segunda mãe.

– É claro que te perdôo, querido. Só me prometa que não fará mais isso. Não quero que saia por aí falando tudo o que pensa somente para ferir as pessoas. Isso é muito feio. A Marina ficou muito chateada com tudo o que você disse a ela.

Ethan suspirou e desviou seus olhos dos dela, fitando o chão por alguns segundos.

– Eu sei, Maggie. Eu não fiz de propósito, como você sabe, mas não consigo me controlar quando estou perto dela. Ela me faz lembrar a todo momento de tudo o que sofri enquanto ela vivia em meio a comida de sobra e num berço de ouro. Me faz lembrar quão injusto o mundo é, sabe? Todas as crianças deveriam ter as mesmas oportunidades que ela teve. Ninguém deveria ter a chance de conhecer as maldades da vida.

– Eu sei, meu menino, mas você tem que entender que a culpa disso tudo não é dela.

– Não, a culpa é toda da família dela. Se aquelas pessoas não fossem tão egoístas, o país não teria toda essa pobreza e ela não teria que sofrer tudo o que sofreu. Você não imagina o que eles estavam planejando para ela, Maggie. Se eu não agisse, hoje ela estaria enterrada a sete palmos abaixo da terra. Ela não teria nem chance de ser feliz.

– Você está se ouvindo, Ethan? Você está preocupado com ela. Assuma logo que sente algo pela Marina!

– Nós já conversamos sobre isso, Maggie. E eu já te disse, eu não posso estar sentindo nada pela garota. Eu não consigo sentir nada de bom nessa vida, você sabe disso.

– Não, Ethan. Você consegue, sim, sentir coisas boas. Se não conseguisse, teria a deixado lá para morrer. Não é como se você estivesse ganhando algo com isso, se não a felicidade dela. E, talvez, a sua também. Você já reparou em como ela te olha? Todos os sentimentos que saem daqueles olhinhos e o quanto eles brilham quando está perto de você?

– Você está vendo coisas, Maggie.­ ­­A Marina não sente nada por mim. Como seria possível? Uma menina como ela gostando de um homem podre como eu?

– O amor não vê cara, querido, ele vê a alma. - Ethan apenas balançou a cabeça, mostrando sua incredulidade no que ela lhe disse.

– Não vamos continuar falando sobre isso. Mesmo que ela gostasse de mim, o que seria inimaginável tendo em vista o número de playboyzinhos aos pés dela, não ia dar certo. Nós somos de mundos totalmente opostos. É como se fosse aqueles clichês sobre princesas e plebeus, entende? E, infelizmente, nós não vivemos em um filme de romance em que tudo dá certo no final. Isso aqui é a vida real. Só... seria impossível. – e, dizendo isso, ele se levanta e se direciona para sair do quarto. Só então percebo que não estou respirando direito há um tempo e meu corpo congela por medo de ser descoberta ouvindo a conversa dos dois. Para minha sorte, acho que meu anjo da guarda estava bem atento, pois na mesma hora Maggie o chamou e ele virou para ela. Mostrando suas costas para mim e eu aproveitei para correr para o quarto. Embora estivesse morrendo de curiosidade de terminar de ouvir a conversa, era mais seguro sair de lá e fingir que não tinha ouvido nada.

Agora, entretanto, minha cabeça não parava quieta por nem um segundo. Vários questionamentos iam e vinham e eu percebi que não tinha resposta para nenhum deles. Resolvi organizar meus pensamentos para ver se chegava a alguma conclusão e decidi que enumerar minhas perguntas seria um bom começo.

1) Porque a culpa de tudo era da minha família? Que eu saiba, meu pai sempre foi um ótimo governante, diminuindo, inclusive, a taxa de pobreza e de mortalidade infantil e aumentando a expectativa de vida em todo o país.

2) O que minha família tinha a ver com meu seqüestro?

3) Ethan realmente salvou minha vida?

4) Ele sentia algo por mim? Porque, se ele sequer chegou a pensar no assunto, há uma mínima chance de ter algum sentimento bom por mim.

5) Como assim ele não consegue sentir nada? Todo mundo é capaz de sentir, basta tentar ao menos um pouco.

6) Como assim Maggie viu todos aqueles sentimentos saindo dos meus olhos? Eu não sinto tudo isso por ele! Ou será que sinto? Não é possível alguém sentir coisas assim por outro alguém que conviveu por menos de um mês e, mesmo assim, não conversou quase nada. Ou será que é?

7) Onde ele viu playboyzinhos aos meus pés? Eu mesma não vi nenhum!

8) Como assim ele comparou nossa realidade com um romance clichê? Aquela frase dele é que foi clichê!

9) Como assim nossa realidade? Não há NADA nosso nessa história! Porque, se há coisas nossas, significa que há um nós...

Ao fim da minha pequena lista de perguntas, eu apenas notei que estava afundada em questionamentos sem sentido e, pior, sem resposta alguma.

Eu apenas cheguei à conclusão de que não entendo absolutamente nada sobre a vida adulta e menos ainda sobre relacionamentos.

Pensei várias vezes em deixar de lado esse assunto, mas uma única coisa me perturbava mais que tudo: Ethan realmente se via daquele jeito? Digo, uma pessoa incapacitada de amar? E porque será que ele acha que seria impossível uma pessoa como eu gostar dele? Como Maggie mesmo disse, o amor só vê a alma. Não é porque eu sou uma princesa e, como ele mesmo disse, ele é um plebeu que eu não gostaria dele. Eu não dou a mínima para isso, mas sim para as atitudes dele.

E então só me restou uma dúvida: Será que mesmo com tudo o que ele me fez eu seria capaz de amá-lo?

Imperfeito Mundo Encantado [COMPLETO] (Livro 1 - Duologia Encanto)Onde histórias criam vida. Descubra agora