Capítulo 16 - Ethan

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A única luz presente em meu quarto é a da tela do meu notebook em meu colo. Enquanto digito freneticamente em busca de respostas, sinto a quentura do aparelho em meu colo, sem me dar a mínima para tudo o que dizem sobre esse ato e a infertilidade.

E daí? Não pretendo ter filhos mesmo. Uma criança derivada de mim não poderia ter um futuro bom, de qualquer forma.

Enquanto estou juntando algumas informações sobre todo o esquema de Symon, ouço um grito alto e sei que é de Marina. Levanto rapidamente da minha cama e pego minha arma no criado mudo, indo rapidamente para seu quarto. Só me faltava algum filho da puta ter vindo atrás dela. Abro a porta cuidadosamente, a arma em minhas mãos pronta para ser disparada e encontro o local vazio, exceto por um pequeno corpo tremendo e soluçando debaixo das cobertas, nenhum pedaço de pele à mostra.

Guardo minha arma no cós da calça e me aproximo da cama, preocupado com o que quer que tenha acontecido com ela para estar chorando e ter soltado aquele grito alto.

- Marina, está tudo bem com você? - me sento na beirada da cama e encosto nela, sentindo o quanto está trêmula. Ela descobre uma parte da cabeça e consigo ver seus olhos amedrontados. O que será que aconteceu com ela?

- Não está nada bem aqui. Você por acaso está vendo alguém bem? - ela guincha, sua voz saindo fraca e ao mesmo tempo nervosa.

- O que aconteceu, querida? Alguém fez algo a você? - ela apenas balança a cabeça, se encolhendo ainda mais e soluçando alto. - Me conte, querida, o que houve? - tentei novamente, sendo o mais delicado que conseguia. Eu posso não ser a pessoa mais sensível do mundo, mas pude ver que algo estava muito errado.

- Eu quero o meu pai, Ethan! - e, dizendo isso, ela se jogou no meu colo e começou a chorar ainda mais. Fiquei sem reação, meu corpo travou e apenas absorvi a sensação de ter alguém, que não a Maggie, me abraçando. Lentamente, passei meus braços em volta dela, tentando entender o que estava acontecendo e lidando com aquele arrepio gostoso, mas perigoso, que perpassava por meu corpo.

Só então parei para refletir sobre o que ela disse: ela quer o pai. Finalmente, depois de dias, a menina vulnerável dentro dela se fez presente. Confesso que esperava que isso acontecesse há mais tempo, mas vê-la tão abalada também me abalou.

- Shhh... Vai ficar tudo bem, Marina. Você está segura aqui, eu já te disse isso. Fique tranquila.

- Eu sei que estou segura, mas estou com muito medo. - ela diz, olhando em meus olhos com aquelas amêndoas brilhando para mim.

Por mais incrível que pareça, eu me senti mal por poder ser o causador do seu medo e, como nunca antes, quis fazer algo para mudar essa situação e deixá-la bem novamente.

- De que você está com medo, querida? Foi algo que eu te fiz? Foi pelo que eu falei ontem? Me desculpe por aquilo, eu realmente não estava no controle das minhas atitudes e...

- Não, não. Não é por isso. É que.. você promete que não vai rir? - ela diz, me fitando com expectativa em sua expressão e minha curiosidade foi às estrelas para saber o que estava lhe causando tanto medo.

- Prometo que não vou rir, mas confesso que quem está com medo aqui agora sou eu. O que você está escondendo de mim, mocinha? - eu brinco, tentando descontrair um pouco a situação e deixá-la menos tensa e me aproximo dela, segurando sua mão e a apertando entre as minhas, tentando transmitir confiança.

- Desde pequena eu tenho medo das tempestades e dos seus barulhos aterrorizantes. - ela diz, corando e abaixando seu olhar assim que a olho questionando. Tempestades, sério? A garota já tem 20 anos nas costas e tem medo de chuva? - Meu pai conta que, em uma noite, quando eu ainda era um bebê, ele estava em seu quarto com minha mãe lendo alguns documentos em seu mini escritório lá dentro, quando começou uma chuva muito forte e eu comecei chorar muito alto. Ele imediatamente correu para meu quarto em meu socorro. De acordo com ele, eu só me acalmei quando ele me pegou no colo e cantarolou uma música para eu dormir. Ele só voltou para sua cama quando a tempestade parou, lá pelas quatro da manhã, zelando pelo meu sono todo esse tempo. A partir desse dia, sempre que havia uma tempestade, ele largava tudo que estava fazendo e corria para onde eu estivesse, para que eu não ficasse com medo.

Ao terminar sua história, olhei para seu rosto e o vi cheio de lágrimas. Tentei falar algo que ajudasse em alguma coisa, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:

- A chuva já vai passar, Marina, se acalme. E não precisa se envergonhar com isso que me contou agora. Todos nós temos medos, embora uns sejam mais graves que outros, isso é normal. - ela apenas assente, voltando a me encarar. Mantenho o olhar e ficamos em silencio, até que ela o quebra falando tão baixo que quase não ouvi.

- Será que você pode deitar comigo hoje? Só até eu dormir, por favor! - ela me pede, seus olhos medrosos brilhando e eu imediatamente penso que não acontecer nada de bom se eu me deitar com ela, porém, um lado meu, que eu ainda não conhecia, aceita sua proposta e, quando vejo, estou lavantando a coberta e me deitando na cama, no lado oposto ao que ela está deitada, impondo a maior distância possível entre nós.

- Obrigada. Você não sabe o quanto isso está sendo importante e...

- Tá, ta, não precisa agradecer. Fique tranqüila que não vou sair daqui enquanto você estiver acordada. Só durma logo, não pretendo ficar a noite toda de babá para você, sim? - E, quando vi, já tinha sido grosseiro. Ela me encara chocada e percebo que se magoou, mas não fala nada.

Eu também fico quieto, olhando para o teto enquanto um clima pesado se instala entre nós.

- Tudo bem. Boa noite, Ethan.

E, dito isso, ela chega um pouco mais perto de mim e fecha os olhos.

20 minutos depois, ela já está dormindo.

Eu a observo, reparando em todos os seus traços bonitos e minhas mãos coçam para encostar no seu rosto e em seus cabelos.

Depois do que me pareceram horas de uma luta interna muito intensa dentro de mim, estico meu braço e acaricio sua bochecha, sentindo sua pele muito lisa em contato com a minha já áspera e calejada. Pego uma mecha do seu cabelo e a ponho atrás da orelha, logo retirando minha mão para não acordá-la.

- Ah, Marina, o que é que você tem que me chama tanta atenção?

Imperfeito Mundo Encantado [COMPLETO] (Livro 1 - Duologia Encanto)Onde histórias criam vida. Descubra agora