Cartas para a Morte

Carta IX

Querida Morte,

EU SABIA! Sabia que não me deixaria partir sem ao menos uma resposta. Foi literalmente uma resposta, o que eu achei bem miserável da sua parte. Mas agradeço por não ter me deixado sem nenhuma delas.

A parte complicada de revelar é que a tal resposta me deixou com mais dúvidas e mais perguntas e essas perguntas só poderiam ser respondidas com novas perguntas ou a resposta de perguntas já feitas. Está tudo confuso! 

Eu sei que tentou ajudar, mas nesse meio tempo que passamos juntos já era para você perceber que eu sou curioso. Na verdade, você sabe que eu sou curioso. Isso é mais uma das suas crises de Nina Kütch. Sério, não é legal ser uma Nina Kütch. Ninguém quer ser uma Nina Kütch.

Vamos ao que interessa: o seu sinal. Eu não sei se isso quer dizer que minha hora está próxima ou você só quis ser uma força sobrenatural mais legal para alguém. Se por acaso a opção 2 for a certa, eu lhe agradeço imensamente pela consideração.

Devo confessar que demorei um bom tempo para entender aquilo. Você sabe que estou fraco demais, até para escrever estas cartas. É um esforço que espero ter valido a pena.

Quando a enfermeira entrou com uma nova remessa de livros para tentar me animar, eu estava tão cansado, assim como minhas vistas. Tudo era um borrão e eu estava deitado de lado. Foi encarando aquela pequena pilha com quatro livros que eu o avistei. Demorou um pouco até que eu pudesse focar, mas eu foquei. Simplesmente não acredito até agora que isso realmente aconteceu. Não lembro de estar sedado, talvez tendo leves alucinações, mas o caso é que eu o vi.

O livro verde estava meio escondido debaixo dos outros três, mas eu pude enxergá-lo. A letra desbotada e branca traziam o título do livro de um autor que eu não conheço, mas o que me importava era o título com os dizeres "Bem-vindo ao Paraíso, Charles".

Não faço ideia de quem seja o tal Charles, mas sei que não poderei conhecê-lo pois percebi que meu tempo está passando e eu não seria rápido o suficiente para ler um livro de possíveis 300 páginas. Gostaria de agradecê-la por não me deixar partir sem ao menos uma resposta.

Então realmente há um Paraíso? Se sim, gostaria de considerar-me nele.

Assinado, Toby.