Cartas para a Morte

Carta VI

Querida Morte,

Três dias. Essa foi a quantidade de tempo que fiquei em casa desde que voltei do hospital. Tudo isso aconteceu há dois dias atrás. Eu parei de respirar, minha mãe levou um susto. Aqui estou eu de novo. Confesso que já me acostumei com as paredes brancas e a cama parcialmente dura do hospital. Tem alguns livros aqui, para o caso de meu tédio passar dos limites.

Concluindo: preciso de novos livros. Os doze que minha mãe trouxe já foram lidos. Três deles, mais de uma vez. A enfermeira disse que vai trazer alguns da biblioteca do hospital. Eu sequer sabia que aqui existia uma biblioteca!

Para todo caso, meu tédio estará sob controle novamente, depois que a enfermeira trouxer os tais livros. É importante ressaltar que eu pedi que ela não trouxesse nada infantil, mas sentindo o tédio que estou sentindo, eu leria até os livros das princesas Disney.

Estou com sono. Tenho sentido meu corpo muito cansado desde a crise de dias atrás. Acho que é o efeito colateral de se estar morrendo. Você é um efeito colateral?

Você sabe que estou morrendo, não sabe? Por acaso você está com algum tipo de relógio, talvez uma ampulheta com meu nome escrito, onde a areia do lado de cima está escorrendo para baixo constantemente?!

Se minha areia acabasse, você viraria a ampulheta para que ela voltasse a correr novamente, tipo uma segunda chance?

Acho que não posso mais esperar a enfermeira, meu corpo está muito pesado. Eu preciso dormir agora.

Morte, você dorme?

Assinado, Toby