Cartas para a Morte

Carta IV

Querida Morte, 

EU SABIA! Bem que eu disse que você estava em todos os lugares, nos observando. Ontem você fez uma visita à minha casa. Por sorte eu não estou lá há dois dias. Infelizmente você levou o meu cachorro, isso me magoou. Não queria que Max partisse antes de mim. Ela era excepcional. Sabia vários truques que os cachorros dos meus amigos não sabiam. Sem falar que ela dormia comigo quando eu tinha medo de algo. Isso já faz muitos anos, mas eu ainda lembro e gosto da lembrança.

Infelizmente, agora Max também é apenas uma lembrança. Meus pais não me contaram como ela morreu e, sinceramente, eu também não quero saber. Só de imaginar que chegarei em casa e não serei recebido por ela já me dá vontade de chorar. E após três horas chorando, com algumas breves pausas, eu não quero chorar mais. Nem sei se ainda tenho lágrimas para isso, mas sei que não quero mais.

Devo confessar que já estou cansado das paredes brancas e persianas fechadas. O ar é gelado e meus dedos congelam se eu os deixar mais de dois minutos sem a proteção das luvas. Dizem que a baixa temperatura mata os germes e bactérias, mas eu estou quase morrendo congelado aqui também!

Isso me faz pensar em mais uma pergunta. É possível congelar uma pessoa e ela manter-se viva até que a descongelem? Mesmo que isso seja só daqui a 50, talvez 200 anos? Eu acho essa teoria simplesmente ridícula. Os diretores de filmes de heróis deviam cair na realidade. Não julgo, pois não vou mentir que não tenho um herói favorito, mas a ciência ainda não chegou até esse ponto. Isso acaba sendo futurista demais, tornando tudo muito artificial e falso.

Os dias estão cada vez mais cansativos e eu estou cada vez mais cansado também. Respirar às vezes torna-se algo impossível. Eu não sei mais o que pensar de tudo que está acontecendo. Você precisa me responder, Morte!

Não seja egoísta de guardar todas as respostas para você.

Assinado, Toby