Capítulo 2 - O que eu perdi?

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Minhas dores no corpo começaram fortes, mas enfraquecendo ao poucos. A enfermeira disse que era por causa de ficar muito tempo parado em uma cama. Fui ao banheiro e lá consegui ver meu estado, e estava bem deprimente.

Meu cabelo era moreno bem escuro, mas estava um pouco claro e seco. Meus olhos eram azuis, mas agora estavam um pouco acinzentados e minha pele, que antes bem bonita e clara, estava pálida. Eu parecia uma múmia que acordou depois de mil anos em uma tumba.

- Bem – disse a enfermeira – Quer fazer isso sozinha ou não?

Tive que dar um tempo até entender o que aquela pergunta significava.

- Faço sozinha – respondi, mas quando fui dar um passo, quase cai no chão.

- Bem, eu sei que isso vai ser constrangedor, mas ficarei aqui para te auxiliar – disse a enfermeira - Estou acostumada com isso já.

Não tive escolha e tive que aceitar. Bom, pelo menos a água estava quente.

Depois que sai do banho, foi à hora do almoço. Agora sei o porquê falam tanto de comida de hospital, pois era verdadeiramente ruim e sem sal.

Estava exausta, e teria que descansar caso eu tivesse que receber visitas. Cochilei não sei quanto tempo, e quando acordei estava escuro ainda.

"Terei que esperar até amanhã para ver meu irmão."

A sensação de estar se esquecendo de alguma coisa muito importante ainda incomodava, mas dei pouca atenção. Espreguicei-me e as dores musculares vieram, mas não tão fortes quando antes. Voltei a dormir antes que me desse conta.

Quando acordei, já estava claro. Reparei que havia alguém do meu lado. Estava mexendo no celular e nem havia reparado em mim. Não precisava de mais nada, já sabia quem era.

- Sua irmã esta aqui em uma cama de hospital e você ainda prefere ficar nesse celular do que estar preocupado.

Rafael olhou para mim e sorriu. Ele parecia muito cansado, seus cabelos castanhos estavam bagunçados e a barba sem fazer.

- Se você soubesse a preocupação que eu tive, pensaria duas vezes antes de falar algo – ele respondeu – E creio estar pior do que você imagina.

- Nenhum abraço? – perguntei. Ele riu e se inclinou para me abraçar.

- Fiquei louco de preocupação – ele dizia quando me abraçava fortemente – E soube que você perdeu parte da memória. Como é acordar sabendo que estamos em 2032?

- Engraçadinho – respondi – Eu sei muito bem em que ano e mês estamos. Espero que não tenha perdido nada importante.

- Acredite. Mesmo passado seis meses você perdeu muita coisa – ele disse – Coisas que mudou muito você – então ele se afastou e eu pude ver alguém deitado em um sofá no canto. Era uma menina, loira e bem bonita na verdade. Suas roupas eram bem coloridas e como se cada cor combinasse com a outra. Eu acharia que estaria vendo coisa se a garota não tivesse dormindo de boca aberta, tão engraçada que tive que me segurar para não rir.

- Lembra-se dela? – Rafael perguntou, me olhando.

- Sua namorada, talvez? – respondi. Ele deu uma grande risada, como se eu tivesse acertado em cheio ou errado longe.

- Lara, Lara, Lara... – ele disse, ainda rindo – Vamos conversar sobre ela quando ela acordar. Nós dois ficamos muito preocupados com você, ela principalmente, mas conversaremos sobre isso depois. Mas ela não te lembra de nada mesmo?

Fiz que não com a cabeça. Ele apenas assentiu e se levantou.

- Até que eu a acordaria, mas ela parece muito cansada – ele foi até uma sacola e de lá retirou um saco de salgado – Você deve estar com fome e creio que odiou a comida daqui. Melhor comer logo, antes que eles venham.

Tinha apenas uma coxinha, o bastante para enganar aqueles enfermeiros. Comi tão rápido que quase me engasguei.

- Mamãe está tão louca quanto qualquer pessoa possa imaginar – disse Rafael – Seu pai está de viagem, isso a fez ficar mais louca ainda. Eu e ela aqui – apontou para a garota dormindo – ficamos a noite toda esperando até que tivéssemos permissão para ficar.

- Porque ela ficou? – perguntei, olhando para a garota. Ela parecia ter 18 anos e eu não tinha nenhum amigo que realmente se importaria a fazer isso.

- Paciência é uma virtude menina – ele respondeu – E me deixa terminar. A mãe está na minha casa, e não me deixa ter sossego até que ela te veja. Me culpa por você ter sofrido esse acidente e...

- O que aconteceu comigo? – perguntei.

- Acidente de carro – ele respondeu – Mas não com o meu carro. Basicamente, você, ela e alguns amigos seus foram em uma festa. Mas na hora da volta estava todo mundo mais bêbado que nem sentiam nada. Ai, vocês bateram em um carro. Os outros dois que estavam com vocês morreram, ela teve ferimentos leves e quase não se feriu, mas você bateu com a cabeça sabe-se lá onde e ficou sete dias internada. Consegue se lembrar de alguma coisa?

Meu Deus. Tudo isso em apenas uma noite. Até onde se lembrava, nunca sairá com ninguém e muito menos a uma festa á noite. Pelo o que pode perceber, mudei bastante. Mas dois amigos mortos, isso era triste. Agradeci por eu e ela termos saído vivas disso.

Então, ouvi um murmúrio seguido de uma alta respiração. A loira se espreguiçou e sentou-se no sofá com cara de sono.

- Pensei que estava em coma de tanto que dormia – disse Rafael, indo até ela – Tenho uma surpresa: adivinha quem acordou.

- Se for mais uma brincadeira sua, eu juro que vou te bater forte – ela disse. Então abriu os olhos devagar e os mirou em mim por um momento. Então os arregala.

- Ai meu Deus – ela disse, enchendo os olhos de lágrimas e veio até mim – Lara!

Ela se agarrou em mim e começou a chorar. Fiquei sem ter o que fazer por um momento até ela.

- Finalmente, você acordou – ela disse, entre soluços chorando em mim – Pensei que não iria mais acordar. O que aconteceu com Mayara e Gabriel, eu tive medo que aconteceria o mesmo. Mas, você está aqui finalmente.

- Err... Bem... – tentei dizer algo, mas as palavras não saiam da minha boca por não ter o que falar.

Então, aconteceu uma coisa inacreditável: levei um beijo nos lábios. Arregalei os olhos e fiquei assustada e ao mesmo tempo muito surpresa. O que era aquilo?

A garota se afastou e olhou para mim.

- O que foi Amor? Parece até que viu um fantasma – ela disse, reparando na minha cara que tinha ficado branca e vermelha ao mesmo tempo.

- Julia, eu acho que não te contei tudo – Rafael disse se aproximando de nós duas – Ela... Meio que... Perdeu as memórias...

- Como é que é?! – Julia exclamou, virando-se para mim – Por favor, amor, fala que isso é mentira.

Eu não sabia o que falar. O beijo, namoro e "amor"? O que será que eu perdi?

Amando NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora