Capítulo 11 - O erro que eu cometi

2.3K 146 9
                                    

POV Julia

Acordei mais cansada do que eu estava antes de dormir.

Que noite maravilhosa. Finalmente consegui bem depois de um tempo. Agora era só manter assim.

Ainda sentia o beijo que dei na minha namorada, estava com saudades disso. É bom sentir a pessoas que você está nos seus braços de novo.

Mas agora eu tinha outros problemas. O sentimento de culpa ainda estava em mim. Só consigo esquecer isso quando estou com Lara. Aquele acidente me faz sentir culpada. Me sinto responsável cada vez mais que fico com ela.

Não foi minha culpa, isso é o que eu queria dizer. Mas eu não podia, porque sempre me lembro.

Me lembro de quando eu bati o carro nos meus amigos.

Queria ter esquecido. Queria perder as memórias assim como aconteceu. Aquilo foi um acidente, mas foi por minha causa que aquilo ocorreu.

Segurei minhas lágrimas. Meus amigos morreram naquele acidente, e minha amada sofreu muito. Me aprontei e sai para a faculdade, precisava parar de pensar nisso.

Chegando lá, eu meio que me sentia mais livre. Acabei gostando daquele enorme campus. Estava fazendo curso de jornalismo, o que era meu sonho. Mal sentei na sala para assistir aula, e já fui cercada por um monte de gente. Dina e Camila também estavam juntas naquela multidão.

- Ei Julia, conta o que aconteceu? – alguém perguntou.

- E sua namorada, está bem? – me perguntou outro.

Não sabia como reagir. Além de eu estar despreparada, era uma pergunta atrás da outra.

- Ei gente, assim ela não vai conseguir responder – disse Dina, alto o suficiente para todos ouvirem.

- Ai João, vem aqui também – gritou um aluno para o outro lado.

João Pelegrine, o mais popular e também o mais idiota. Era alto e seu cabelo fazia questão de se parecer com o cabelo de Justin Bieber. Usava roupas caras e sempre fica se exibindo.

Senti ódio no exato momento. Aquele desgraçado é o grande culpado por eu estar sofrendo desse jeito. Se ele se aproximasse, estaria morto no mesmo instante.

Mas ele ficou quieto no canto. Não se atreveu nem a piscar para o lado. Apenas fungou e colocou a touca da blusa que estava usando.

- Mal humorado – disse Camila. Claro que nem ela e nem Dina sabem do que aconteceu se não elas não falariam mais comigo.

- Mas nos conta, vocês voltaram? – Dina perguntou, curiosa. Vários também tiveram essa dúvida.

- Bom... Sim – respondi, sorrindo. Todos comemoraram com um grande grito.

- Silêncio, por favor – gritou alguém no meio da sala. O professor – Todos voltem aos seus lugares, aqui não é o colegial. Aqui é coisa séria – Todo mundo se sentou obedientemente.

Dina se sentou do meu lado e sussurrou:

- Irei te passar a matéria perdida – ela disse.

- Agradeço muito – respondi. Perder aulas da faculdade era um risco e tanto, principalmente se teve algo interessante ou importante.

- Então, hoje eu tenho uma proposta para vocês – o professor disse. Ele era o professor Raimundo Souza, parecia um velho sem graça, mas sabia ter senso de humor – Como vocês sabem, para serem jornalistas precisamos saber escrever uma boa matéria e um bom jornal. Esse trabalho eu passo para todos que estão fazendo o primeiro ano de curso, mas dessa vez será um pouco diferente. A sala inteira fará um jornal – ele ligou um projetor e conectou no seu computador. Quando abriu o slide, congelei ao ver que imagem estava – Eu costumo deixar os alunos escolherem o tema principal, mas houve algumas mudanças. Aconteceu um acidente nas redondezas, e quero essa matéria na primeira página. O resto pode ser com vocês, mas quero noticias interessantes e nada de brincadeiras. O trabalho será dividido...

Estava tonta desde que eu vi o assunto. Isso só podia ser um castigo. Os outros também ficaram quietos, sem falar nada. Dina apenas tampou a boca com a mão.

- Alguém tem uma pergunta? – Raimundo terminou sua explicação, algo que não prestei atenção de tão pasma que eu estava.

- Professor, eu acho que essa matéria vai ser pesada demais – Dina levantou a mão, chamando a atenção da sala inteira – A namorada de Julia sofreu esse acidente, e acabou perdendo suas memórias. Não podemos fazer isso com uma amiga nossa.

- Bom, sinto muito – ele disse – Mas bons jornalistas nunca perdem a oportunidade de uma boa matéria. Vocês podem ficar com alguma outra parte, já que vai ser divido em grupos.

- Mas...

- Deixa – eu disse para Dina – Podemos fazer isso.

Ninguém falou mais nada, apenas deixou que tudo continuasse.

O tempo passou rápido, felizmente. Fim da tarde, e eu estava preste a sair. Mas fui impedida.

- Espere – era João. Senti a raiva crescer em mim.

- Me solta, agora – eu disse. Estávamos no meio de um corredor para o estacionamento.

- Precisamos conversar – ele ainda insistia.

- Conversar o que? Mentiroso de duas caras – forcei meu braço para me soltar, mas ele apertava forte.

- Aquilo não foi minha culpa – ele disse. Enquanto ele estava calmo, minha raiva crescia cada vez mais.

- Mentiroso – eu disse. Parei de resistir e olhei para ele, e em cada frase eu apontava o dedo para ele – O acidente foi culpa sua. Você me fez bater o carro. Você que fez minha namorada ficar uma semana inteira de coma enquanto eu sofria com aquela perda. A culpa é sua, desgraçado.

- Eu estava bêbado e senti ciúmes, não estava no controle – ele disse, ainda calmo. Não resisti e dei um tapa bem dado na cara dele. Ele apenas virou o rosto, mas mesmo assim não me soltou.

- Mentiroso babaca – eu gritei, lutando para me soltar. Lágrimas escorriam do meu rosto – A culpa é sua, e mais cedo ou mais tarde você vai ser preso. Você vai pagar caro por isso, está ouvindo?

Ele me virou e me prendeu contra a parede. Se aproximou do meu ouvido enquanto eu estava de costas.

- Eu não estava no carro naquela hora, não no carro que você dirigia – ele sussurrava bem rispidamente – Você matou meus amigos, Mayara e Gabriel. Eu sei que você se lembra bem deles, principalmente quando bateu o carro. A culpa é sua, e você vai conviver com ela para sempre.

Ele me soltou e se foi. Fiquei de costa para a parede e chorei. Aquilo era verdade, eu bati. Eu matei. Mas... Não foi de propósito, foi o acidente.

Mesmo assim, terei que viver com isso. Terei que viver com essa culpa.

Terei que viver com erro que eu cometi.

Amando NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora