Amando Novamente

Capítulo 3 - Complicações

O que está acontecendo?

Essa foi a primeira pergunta que veio a minha mente.

- Amor? Fala que isso é mentira – repetiu Julia, olhando para mim com uma cara preocupada.

- O que... – ainda estava sem palavras. Aquilo era algum tipo de armação do meu irmão ou era verdade?

- Lara, acontece que sim, você perdeu muita coisa – disse meu irmão, andando de um lado para o outro – Você tem uma namorada. E acredite, não estou armando nada para você.

Ainda estava perplexa. Como assim, namorada? Eu, lésbica? Alguma coisa não esta certa.

- Impossível – eu consegui dizer. Olhei para a menina, que me olhava preocupada e, dava pra ver, ela estava sentindo muito medo – Eu... Mas como assim? Nunca tive nem mesmo um namorado, imagina uma namorada. Eu nunca fui lésbica e...

- Vai com calma, irmãzinha – Rafael foi ao meu lado – Eu sei que isso esta muito estranho, mas é verdade. Ela é sua namorada. E... Julia, esta tudo bem? – olhamos para a garota, Julia, que estava com a boca aberta e com lágrimas nos olhos.

- Eu... – Julia tentou dizer algo, mas estava com a voz pressa. Senti uma tristeza de ver ela assim, mesmo não a conhecendo – Eu não posso acreditar – ela se aproximou de mim devagar, como se estivesse com medo – Não se lembra de nada mesmo? Sou eu, Julia. Pelo menos fala que me conhece, Lara. Por favor...

Eu a olhava sem ter o que dizer. Então, ela se desabou em lágrimas e saiu do quarto, chorando.

- Merda, Julia! – meu irmão chamou-a, mas ela já estava longe. Ele se virou para mim – Fique aqui – e saiu também.

Fiquei olhando o quarto vazio, sem ter o que pensar. Precisava organizar os fatos: primeiro, perdi vários meses de minha memória. Segundo, eu tinha uma namorada a sei lá quanto tempo. Terceiro... O QUE EU VOU FAZER?!

Precisava fazer alguma coisa. Não podia simplesmente largar aquela garota, que esqueci o nome por causa da confusão na minha cabeça, só por não me lembrar dela. Seria desonesto e bem triste, principalmente pra ela. Mas, como vou me acostumar com a vida que eu tenho, com namorada e saindo para festas, se eu nem me lembro de como ela é?

Me senti tonta e encostei a cabeça no travesseiro. Fiquei olhando para o teto, como se procurasse uma resposta. Então, ouvi a porta se abrir e me levantei, vendo Rafael entrando. Ele suspirou fundo e se sentou na poltrona ao lado da cama.

- Simplesmente, vai ser difícil – ele disse – Julia ficou muito triste e magoada, mas não é sua culpa. Ela esta no banheiro, tentando se acalmar.

- Eu não me lembro dela – eu disse, olhando para ele – Eu simplesmente não sei quem é ela ou o que aconteceu entre nós. Não me lembro de absolutamente de nada depois que me mudei pra sua casa.

- Mas você se lembra da casa? – ele perguntou pra mim.

- Acho que sim – eu disse. Me lembrava de uma casa razoavelmente grande, com uma sala enorme e dois quartos. Provavelmente eram suítes.

- E se lembra do motivo que foi para lá? – perguntou ele.

- Claro – eu respondi. As brigas de nossos pais estavam gigantescas. Tão insuportável que eu mesma quis me mudar dali e ir morar com meu irmão. Nossa família é de família muito rica, e tanto que nosso pai mantinha essas empresas lucrando muito, mas muito dinheiro. Mas, meu irmão foi para outro caminho, em vez de querer trabalhar para meu pai seguiu o próprio caminho. Isso o fez o odiado da família, mas ele tem seus sonhos.

- Então, pelo menos não perdeu muita coisa assim – ele disse – Mas, temos vários problemas daqui para frente. Primeiro vai ser sobre Julia, você vai largar ela?

Travei por um momento. Não decidi sobre isso ainda. Não podia simplesmente me separar ela, como já pensei, mas eu não posso me forçar a gostar de alguém que eu nem conheço.

- Eu não sei – disse por fim – Não posso simplesmente larga-la e pronto, isso seria uma atitude bem fria. Mas eu também não posso me forçar a gostar dela. Eu nem a conheço direito, para começar.

- Isso vai ser complicado – meu irmão disse novamente, suspirando bem alto – Mas isso é só o começo das complicações. Sua relação com ela era em segredo, não para mim, mas sim para os nossos pais. O pai eu não sei, mas a mãe ficou ainda mais louca do que já estava – ele se aproximou de mim e falou seriamente – Mamãe vai fazer de tudo para você se separar da Julia. Eu conheço bem Julia e o relacionamento de vocês, e a ultima coisa que desejo é que você e Julia se separem.

- Você me ensinou a nunca ser influenciada por ninguém para fazer minhas escolhas – eu disse, me lembrando de uma grande lição dada pelo meu irmão – Mas, eu não sei o que eu posso fazer.

- Eu tenho uma solução – Rafael se levantou – Tentem se conhecer de novo. Podem começar de novo e talvez dê certo.

- Mas o que? — me surpreendi com aquela resposta.

Olhei para ele, acho que sabia que ele me diria isso. Mas ele parecia interessado demais.

- Por que está tão animado? – perguntei diretamente.

- Por que eu conheço muito bem você e aposto que não iria querer se separar de alguém que amava se acontecesse algo assim – ele respondeu. Sentou-se e esperou eu dar algum tipo de resposta.

Pensei um pouco, olhando para minhas pernas que estavam bem agitadas. Nunca entrei em um relacionamento, ou me lembro de nunca ter entrado, e eu não tinha nada a perder. Ao mesmo tempo, não podia entrar em um relacionamento só por curiosidade, pois machucaria os sentimentos de outra pessoa.

Suspirei firmemente. Meu irmão se inclinou para me ouvir.

- Tudo bem – eu disse finalmente – MAS... Não estou entrando nessa por curiosidade, e sim porque tem alguém que verdadeiramente me ama. Não irei ser influenciada por minha mãe ou por outra pessoa.

- É assim que se fala – ele disse, levantando-se vitorioso. Ouvimos uma batida na porta e Rafael foi lá para verificar, e era Julia.

Ela atravessou o quarto até o sofá em silêncio. Parecia tímida e ao mesmo tempo indefesa. Estava triste, isso dava para ver, e me senti culpada por isso. Dei um sorriso, pois não sabia nem o que falar. Ela olhou para e deu um sorriso triste, e depois ficou em silêncio, olhando para o chão.

Meu irmão estava certo: Isso vai ser complicado.