𝑔𝒶𝓇𝑜𝓉𝑜 𝓃𝑜𝓋𝑜

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Jeon Jungkook

A primeira coisa que me chamou atencão em Park Jimin foram seus olhos. Castanhos, com pequenos detalhes em verde, olhando para mim como se estivessem desesperados por algo novo.

Eu me interessei imediatamente por ele simplesmente por isso: seus olhos. Não foi pelo jeito que falava, por fumar cigarros ou por ser bonito. Foi pelo jeito que ele me olhou: enraivecido, interessado, diferente.

Percebi, segundos depois daquele olhar, que suas outras feições também eram atraentes — cabelos loiros longos e lisos, sardas quase imperceptíveis no nariz e boca rosa lembrava um coracão. Sua totalidade fazia com que eu sentisse que ele era coisa mais bonita que já tinha visto — o que era normal para mim, porque sempre havia o garoto mais bonito, até que o próximo aparecesse. Garotos ou até garotas só atraentes já nao costumavam me interessar tanto, e por isso, apesar de ver Jimin de relance nos corredores do colégio varias vezes, nunca me ocorreu realmente tentar algo com ele.

Isso, porque ele nunca havia olhado para mim. Sei que é estranho, mas assim que seus olhos se voltaram para os meus, eu o imaginei na minha cama — e juro, não há jeito mais educado de dizer isso.

Quando ele falou comigo pela primeira vez, eu quase tive vontade de rir, porque seus olhos nao eram a única coisa fascinante que ele tinha a oferecer.

Eu já tinha ouvido falar sobre ele e seu humor acido varias vezes, porque, desde que ele chegara, o Garoto Novo, era o único assunto interessante que a cidade tinha a oferecer — era como se todos o vissem com uma etiqueta nas costas, produto novo. — Os assuntos que eram interessantes para o resto da cidade geralmente me deixavam entediado, mas, ainda assim, sempre existem aqueles pedaços desmantelados de conversas que você não consegue evitar, e que te fazem criar a imagem de uma pessoa na sua cabeça sem que voce sequer a conheça.

Eis o que eu sabia sobre Park Jimin antes de realmente conhece-lo:

1) "Ele é melhor amigo de Kim Taehyung , espero que seja tão bom de cama quanto ele". (Um dos idiotas da minha escola que insistia em ringir ser meu amigo so porque também era rico, e achava que isso era tudo que bastava para uma boa amizade.)

2) "O garoto novo é TÃO mal- educado, e fede a cigarro o tempo inteiro. Parece que acabou de sair de uma propaganda sobre companhias que você deve evitar se quiser dar orgulho aos seus pais". (Uma das líderes de torcida do colégio, da qual não me lembro o nome, falando com uma de suas amigas líderes de torcida idênticas, que se encontrava ao meu lado em uma festa - o que significava que tudo que ela dizia era exagerado, mas tinha um fundo de verdade.)

3) "Você não é o tipo dele. Nenhum de vocês é, ele não gosta de mauricinhos." (Kim Taehyung, falando com um dos meus amigos e me incluindo no meio, depois que um deles perguntou sobre o Garoto Novo)

Todos eles estavam secretamente errados e, ao mesmo tempo, certos.

Apesar de todo meu entusiasmo na primeira vez que o vi de verdade, não deria dizer que me apaixonei por Jimin logo de cara, a ideia do amor à primeira vista para mim não passa de um bom roteiro para vender filmes -, eu me conhecia bem o suficiente para saber que isso não passava de uma nova obsessão, um novo interesse.

Interesse. Acho que é essa a palavra que me define: interesse é o que me taz levantar de manhã, o que me faz ter uma reputação ruim sobre garotas e garotos, e o que me deixa obcecado em Park Jimin no momento em que o encontrei pela primeira vez. Eu perco interesse nas coisas tão rápido quando o encontro, como se a minha vida nao passasse de uma serie de pequenos projetos, dos quais eu perco o fascinio assim que consigo o que quero.

Não chega a ser exatamente uma obsessão, e sim algo que faz com que, de uma hora para outra, eu vire um cara determinado. Nas minhas últimas férias de verão, depois de clicar acidentalmente em um link sobre a Síria e passar o resto da noite lendo sobre o país, eu simplesmente peguei um avião e passei duas semanas la, porque me sentia interessado em entender o lugar — eu odiava o imaginário, gostava das coisas reais –, o que não agradou nem um pouco a minha família.

Foi esse simples e puro interesse em Jimin que fez com que eu fosse falar com seu melhor amigo, Taehyung, assim que o garoto saiu de perto de mim como se eu representasse algum tipo de vírus altamente perigoso. Encontrei Taehyung em minutos, do lado de fora da casa e perto do dono da festa, olhando para ele como se fosse a coisa mais interessante do mundo, os seios estufados enquanto o garoto tentava manter a concentracão em seu rosto - o que eu achei particularmente engraçado.

Taehyung e eu éramos versões em diferentes sexos da mesma pessoa, ambos sexualmente ativos, ambos a procura de novas pessoas para continuarmos sendo sexualmente ativos, ambos com mais dinheiro do que o necessário o que significava que tinhamos um acordo implicito que nos ajudava em nossos interesses comuns: eu o apresentava garotos, e ele me apresentava garotas ou garotos.

Ele se afastou do garoto assim que me viu sorrindo em sua direção, acendendo um cigarro enquanto vinha andando falar comigo, porque sabia que eu precisava de ajuda — não éramos exatamente o que se pode chamar de amigos.

—Quero conhecer seu amigo. – Eu anunciei, com as mãos nos bolsos assim que Taehyung chegou perto o suficiente.

— Qual deles? O loiro, o moreno ou o de cabelos longos que parece muito um mulher? — Ele me olhou de cima à baixo. — Você e Hoseok dariam um belo casal.

—Qual deles você acha?

—Ele não é para você, Jungkook. Achei que tinha te avisado isso.

— Todo mundo é para mim.

Taehyung tragou o cigarro e olhou para as luzes distantes da cidade, em uma pose contemplativa que não combinava em nada com ele, e eu esperei enquanto ele falava:

— Existe um tipo de garoto que eu sempre evito, porque gosto da minha vida do jeito que ela é. Tímidos, doces, não do tipo meloso, mas do tipo que fica nervoso ao me ver, nervoso de um jeito alegre, e acham que eu sou muita coisa para ele.

— Por que os evita?

Taehyung me lancou um olhar impaciente, com uma sobrancelha arqueada, porque achava a pergunta estúpida demais para ser respondida.

— A questão é: – Ele continuou — Jimin pode ser esse tipo de garoto para você, que eu sei que você tem guardada a sete chaves dentro dessa sua cabeça pervertida.

— Então não vai me ajudar?

—É claro que vou – Taehyung respondeu, sem pestanejar. — É só um aviso.

Eu não costumava ignorar os conselhos de Kim Taehyung, mas naquele dia, foi como se falassemos em línguas diferentes. Eu não tinha um tipo de pessoa ideal na minha cabeça – como eu disse, sempre odiei O imaginário – e não fazia ideia do que ele queria dizer com nada daquilo. Não me importei o suficiente, porque sempre achei ser exceção a regra.

Eu não tinha um tipo de pessoa ideal porque ainda não o conhecia bem o suficiente.

Naquela noite, fui dormir pensando em Jimin, como um psicopata depois de escolher a próxima vítima.

Me perguntei quanto tempo eu levaria para esquecê-lo, pensando no garoto como pensava na Síria uma noite antes de viajar para o lugar.

Eu era um cara instável, que gostava de paises em guerra, coisas reais e garotos complicados.

Naquela época, não tinha ideia de que Park Jimin podia ser a personificação perfeita dos três.

Acrimônia 派 JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora