𝒰𝒷𝑒𝓇

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— Sim, vó, ele está muito bonito. – Concordei, bebendo meu suco enquanto minha avó me mostrava a milésima foto do meu primo em pontos turísticos da Europa, parecendo o garoto rico e bem arrumado que eu nunca fora, apesar de pertencermos a mesma família.

Minha avó sorriu levemente enquanto olhava as outras fotos do meu primo, sem realmente se dar conta que eu estava ali. Raramente visitava os meus avós, porque minha mãe ainda os odiava e eu achava entediante demais todas as conversas sobre meu primo, mas sempre costumava passar para dizer "oi" e olhar fotos de Taehyeong por meia hora quando eu dormia na casa de Taehyung, que era vizinho deles.

Havia dormido na casa do meu amigo no dia anterior, depois da festa de aniversário de Seokjin e do beijo de Jungkook. Ainda não havia contado aos meus amigos sobre a segunda parte, e não tinha certeza se queria, porque, de um jeito ou de outro, independente de que tipo de explicação eu desse, o que qualquer um pensaria era que Jeon Jungkook estava, aos poucos, corrompendo os meus princípios.

O que eu esperava que não fosse verdade.

Larguei o porta-retratos que minha avó havia me entregado - meu primo próximo a Torre de Pisa - e olhei em volta, para a sala gigante em que eu e ela nos encontrávamos tomando café da manhã, enquanto minha avó procurava mais coisas de Taehyeong para me mostrar. Era estranho pensar que eu, o garoto mais pobre entre todos os meus amigos, junto com meu primo era herdeiro de todo aquele dinheiro dos meus avós - minha mãe havia realmente me privado de todos os mimos que o dinheiro traz, mas, de uma forma ou de outra, aquilo tudo também era meu, no fim das contas.

Apesar de parecer que era muito mais do garoto viajando pela Europa que compartilhava do meu sangue.

Depois da morte da minha tia, meus avós, arrependidos de tudo o que fizeram, ganharam a guarda do meu primo ainda bebê e deram a ele tudo aquilo que minha mãe me recusava a dar. Portanto, apesar de sermos mesmo parentes, havíamos sido criados de formas completamente diferentes - eu tinha que trabalhar para comprar meus cigarros, enquanto Taehyeong nunca teve que se preocupar com o quanto
gastava em suas viagens internacionais.

Havia anos que eu não o via - ele sabia muito bem aproveitar o dinheiro dos meus avós e, por conta disso, assim que teve idade suficiente para se cuidar sozinho, optou por estudar fora do país, em um colégio particular que parecia muito um castelo, cheio de crianças ricas iguais a ele. Nós nunca havíamos nos dado muito bem nas poucas vezes em que nos encontramos - eu o achava mimado demais, e sempre fui impaciente demais crianças com mimadas -, mas olhando as fotos que minha avó insistia em me mostrar toda vez que eu a visitava, percebi que ele já não se parecia nada com a criança chata que eu estava acostumada a associar ao meu primo nas minhas lembranças.

Ficava reflexivo em relação ao dinheiro e a minha família toda vez que visitava meus avós - pessoas extremamente diferentes de mim em tudo -, quando eu estava lá, sentia me como se tivesse entrado em uma realidade paralela completamente diferente da qual vivia, um impostor em uma família que não era minha.
Eu me sentia como se tivesse roubado o lugar de um verdadeiro Park Jimin, que deveria ter crescido ao redor de todo aquele dinheiro e ter sido tão mimado quanto seu primo, Taehyeong – O Jimin que estava sentado agora no sofá imaculadamente branco, e que havia passado toda sua vida em casas menores do que aquela sala, não pertencia realmente a aquele lugar, mesmo que ele fosse pertencer a Jimin, um dia.

— Ele me mandou um e-mail semana passada, disse que Paris está linda nessa época do ano. – Minha avó tagarelou para si mesma, ainda olhando mais para primo no porta-retratos do que para mim. — Tanto tempo que não vou a Paris, seu avô vive ocupado demais para me levar.

Acrimônia 派 JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora