Acrimônia 派 Jikook

𝒸𝒾𝑔𝒶𝓇𝓇𝑒𝓉𝓉𝑒

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É difícil dizer exatamente quando tudo mudou.
Há, é claro, aquele momento definitivo em que as coisas deixam de ser as mesmas, mas também sempre vai existir uma história prévia, um contexto anterior às mudanças repentinas que transformam nossa vida do nada, e por mais que eu saiba quando tudo se tornou diferente de verdade, é impossível não levar em conta a parte anterior ao momento que minha vida virou de cabeça para baixo, e essa parte pode ser confusa, secundária, e provavelmente diferente, da verdade.

Ela começa com uma festa da qual eu não fui convidado.

Era domingo, e faltavam menos de oito horas para as aulas voltarem, quando meu melhor amigo me telefonou. Suas palavras, em resumo, foram:

—Estou te esperando do lado de fora da sua casa. — E desligou.

Pensei por severos 5 segundos se devia ou não desligar meu filme favorito para sair com Taehyung em um domingo depois das 10h00 da noite, mas os gritos incessantes do meu padrasto no primeiro andar depois de quase 3h00 de briga com a minha mãe me incentivaram a trocar de roupa.

E eu sabia que não voltaria tão cedo.

Coloquei uma calça jeans clara rapidamente e um moletom rosa claro, joguei meus vans pela janela antes de sair pelo mesmo local — para evitar perguntas no primeiro andar — e escalar a árvore nada segura que ficava perto da minha janela.

Me joguei no chão quando não haviam mais galhos dos quais eu conseguia segurar, e caí sentado, pude ouvir Taehyung rindo na sombra que o poste da rua fazia sobre a árvore, e logo me virei para olhá-lo.

Taehyung tinha 1,75 de altura e era, de longe, o garoto mais bonito que eu já havia visto. Tinha uma pele morena que dava inveja as melhores casas de bronzeamento, um cabelo platinado e ondulado, e uma bunda enorme —apesar dele falar que a minha é maior— , que não passavam despercebidas por conta das calças de couro — as únicas que ele usava sem ser aquelas calças largas horríveis que pareciam terem sido roubadas do armário de seu avô.

O mais importante, porém, era que , meu melhor amigo não se importava com nada disso. É claro, ele gostava de ser bonito e invejado, mas isso não era o mais importante.
Para Taehyung , o mais importante em relação a sua própria beleza era se ele atraía garotos o suficiente para uma foda no final da noite.

Nada importava mais para Kim Taehyung do que sexo.

—Você tem que rir toda vez?! —Perguntei enquanto me levantava e limpava a calça suja de grama.

—É sempre engraçado. — Disse, saindo da sombra com um sorriso quadrado no rosto e a clavícula marcada a mostra. —Vem logo, Hoseok e Yoongi estão nos esperando no carro.

Hoseok e Yoongi eram meus outros dois melhores amigos que não tinham absolutamente nenhuma semelhança comigo ou Taehyung— Bom, Hoseok era a cara de Taehyung . — Enquanto Hoseok era um gay afeminado de cabelos ruivos que adorava pop, Yoongi era o garoto exemplar que nunca tinha transas numa só noite — Não que ele fale comigo sobre sua vida sexual, mas é um pouco óbvio.— ou matérias reprovadas na escola. Eu odiava música pop e nunca me importava o suficiente com deveres de casa para passar direto, mas isso não me impedia de amar meus amigos estranhos.

Taehyung e eu atravessamos a rua e entramos no carro econômico de Yoongi, que era a única pessoa do grupo atenta e preocupada o suficiente para dirigir decentemente. — Hoseok e eu tínhamos sido reprovados no exame para tirar carteira de motorista, e Taehyung não havia nem tentado.

Aquela cena específica — nós quatro espremidos em um carro pequeno enquanto Hoseok cantava o que estivesse tocando na radio e Yoongi reclamando — resumia basicamente todos os fins de semana desde que eu me mudara, seis meses atras, para aquela pequena cidade praiana que não recebia absolutamente nenhum turista por ter praias horríveis demais.
A cidade continha, basicamente, dois polos: pessoas extremamente ricas , herdeiros dos fundadores da cidade, que viviam em condomínios luxuosos na parte alta, e uma classe média emergente, que não tinha nada do que se orgulhar morando tão perto de pessoas muito influentes.