- Val, você tem um guarda-chuva para me emprestar? – Aby, grita da cozinha. A quarta-feira amanheceu trazendo uma chuva forte e com muito trovões. Já passa das sete horas da manhã, mas o dia lá fora está escuro como a noite.
- Na área de serviço. – Respondo quanto me olho no espelho e passo um batom vermelho. – Tem capa de chuva também, se quiser pode pegar. – Em seguida gemo quando um trovão ecoa lá fora.
- Você não tem algo menos... extravagante? – Diz ela já na porta do meu quarto. Abigail sacode a sua frente dois guarda-chuvas, um na cor azul royal cheio de estrelas coloridas e outro transparente cheio de flores sakura, esse último eu comprei no bairro da Liberdade, quando fui a São Paulo, achei ele um amorzinho.
- O que tem? Eles são lindos e tão fofos. – Um estouro estridente faz com que eu me encolha novamente. Odeio temporais. – O transparente eu comprei no bairro da Liberdade.
- Pouco me importa de onde eles vieram. Eles são infantis! – Ela protesta, seu humor hoje está tão feio quanto o tempo.
- Bem então use uma das capas. – Coloco uma jaquetinha de maga três quartos, pego minha bolsa e quando eu passo por ela, pego o guarda-chuva azul de sua mão, ele combina com minha roupa.
- Sim, caro! Qual? Aquela com estampa de pijama ou aquela marrom ridícula e estranha?
- Ah! Pare de reclamar! São as que eu tenho! Se não quiser elas, vá na chuva mesmo, mas não torre a minha paciência! Está muito cedo para eu ficar estressada. Depois peço para o Guto comprar um guarda-chuva preto e sem graça para você, mas no mento suas opções são essas! Então por favor, escolha uma e vamos logo. – Visto a capa de chuva marrom com transparência e a deixo sem muitas escolhas.
- Você vai me mandar para a escola na chuva? Com esse temporal? – Ela pergunta indignada. – Eu vou ficar toda molhada!
- Não estou mandando você ir na chuva! Estou dando opções, mas parece que hoje você saiu da cama apenas para me estressar. Por favor, pare de fazer draminha! E vamos, o Alexandre já deve estar esperando por você.
Ela fecha a cara, pega o guarda-chuva transparente e sai marchando em direção a porta. – Eu ódio você! – Ela murmura quando estamos no corredor.
- Qual é o seu problema? – Pergunto irrita enquanto chamo o elevador. – Acha que é bonito agir dessa forma? – Mas ela não me responde, apenas fica encarando a porta metálica do elevador. – Escuta aqui, nenhuma de nós está contente com todas essas mudanças, mas vamos ter que nos adaptar, tá legal? Então, por favor, pare de agir dessa maneira idiota!
A porta do elevador se abre e a encaro por um segundo, tempo suficiente para ver uma lágrima rolando por seu rosto.
- Desculpe. – Aby resmunga enquanto seca seu rosto. – Sei que você não tem culpa, mas é que sinto muita falta da minha mãe, e estou irritada, porque essa chuva não vai me deixar ir ao cemitério hoje. – Quando diz essa últimas palavras, a garota chora ainda mais. Num impulso que não sei de onde veio, dou mais um passo em direção a Abigail e a abraço, seu rosto se encaixa perfeitamente em meu ombro e ali ela chora, na verdade choramos juntas.
- Vocês estão bem? – Levamos um susto e nos afastamos quando Fred entra no elevador. Estávamos tão distraídas com nossas lagrimas que nem percebemos que a porta havia se abrido.
- Sim. Claro. – Digo secando minhas lágrimas com cuidado para não borrar a maquiagem. – É apenas um momento nostálgico, acho que hoje tivemos nossa primeira briga.
- Que legal! – Ele diz sorrindo. – Mas espero que não tenha sido muito sério.
- Legal? – Aby pergunta tão confusa quanto eu.
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Uma surpresa para Val ✔
ChickLitIndependente, dona seu seu próprio negócio, possui os melhores amigos e frequenta as melhores festas, indiferente de qual dia da semana seja. Essa é Val, e ela não quer mais nada, nem namorado, nem filhos, nada de compromisso, tudo que ela precisa n...