26 - O presente.

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Abby some logo após almoçar com a família, e eu, depois ligar para Bia pelo decima ou vigésima vez, decido que ela é melhor pessoa para me ajudar. Ainda não sei como abordá-la e muito menos como vou pedir essa ajuda, depois de tudo, eu ainda estou pisando em ovos com a Abigail, e não sei como ela vai reagir e nem ao menos se vai me ajudar, de qualquer forma saio andando pelo sítio na esperança de encontrá-la.

- Abby! – Encontro ela, deitada sob uma arvore lendo o livro que minha mãe a deu de Natal. Sem saber como abordar a situação, chego falando a verdade. – Preciso da sua ajuda.

- O que? – Ela pergunta sem desviar os olhos da página do livro, claramente tentando me ignorar.

- Preciso que me ajude, por favor. Eu preciso me desculpa com a Bia. – Fico andando de um lado para o outro enquanto falo com ela e finalmente ganho a sua atenção.

- Sério? – Abby me dá um sorriso sarcástico. - Como chegou a essa conclusão?

- Abby, por favor! – Digo aflita. - Eu ligo para ela, mas ela não me atende!

- Oh! Isso é trágico! - Ela põe o marcador de páginas, fecha o livro e finalmente senta-se para me olhar melhor. - Mas adivinha!? Ela também não retorna as minhas mensagens. E a culpa é sua.

- Eu sei que é minha! – Encolho um pouco os ombros, minha vontade é enfiar minha cabeça num buraco e nunca mais sair de lá. - Por favor, Abby, me ajuda!

- Tá! – Abby se encosta no tronco da arvore, seu olhar é distante, acho que ela está ponderando a ideia – Vamos supor que eu ajudasse, qual a sua ideia?

- Eu não tenho ideia, esse é problema. – Finalmente sento ao seu lado. – Você sabe que não fiz de propósito, não é?

- Sim, Val, eu sei, mas é complicado. – Ela arregala os olhos. - Você estava saindo com dois caras ao mesmo tempo!

- Eu fiz merda, mas eu não imaginei que me envolveria com o Fred, na verdade era só algo divertido, e bem, o Alexandre estava sempre por perto, e ele é incrível e eu... É, bem, eu acho que me apaixonei por ele.

- Você o que? Oin, que fofo!! Sério, Val, você está apaixonada? Ou é só uma artimanha para eu ajudar você? – Ela questiona desconfiada, e com razão.

- É verdade, eu não consigo tirar ele da minha cabeça. E eu preciso que a Bia me perdoe, só assim vou conseguir me aproximar dele novamente, e mesmo assim, as chances de algo voltar a acontece são remotas, eu sei.

- Bem talvez eu possa ajudar. – Abby se levanta e eu faço o mesmo imediatamente.

- Sério? – Abraço ela.

- Sim, mas vamos precisar de rosas encantadas, pelo menos 3, luzinhas de LED, um papel bonito, envelope e caneta com glitter.

- O que? – Olho para ela sem compreender muita coisa.

- Mas não vai sair barato, não.

- Isso é o de menos, desde que ela me perdoe.

~ 🎁 ~    

No dia seguinte vamos até a cidade mais próxima e compramos tudo que a Abby sugeriu, inclusive as tais rosas encantada, que não passam de flores preservadas dentro de uma cúpula de vidro que pode manter-se intacta por até dois anos, algo que relembra a Bela e Fera e que custa os olhos da cara. Já na casa dos meus pais, eu escrevo um lindo bilhete, com um tipo de caneta que eu não usava desde o ensino médio, onde peço desculpas a Bia e digo a ela o quanto gosto de seu pai, não é uma carta longa, e nem uma declaração digna de filmes de Hollywood, mas escrevo com toda a sinceridade do meu coração. Enquanto isso Abby decora a cúpula das rosas com pequenos fios de LEED, transformando-a em uma espécie de luminária linda e encantadora.

- De onde você tirou essa ideia? – Pergunto a Abby.

- Da Bia. Vimos um desses no Pinterest, e ela morreu de amores, pediu para o pai dela, mas ele disse que era muito caro e que ela teria que comprar com a mesa dela, ela estava guardando dinheiro para comprar, mas sei que ela ainda não tem o suficiente. Ela vai pirar ao ver isso.

Embalamos o presente em plástico bolha e colocamos em uma caixa, fazendo um lindo embrulho decorado com laços. Depois eu pago um motoboy para levar até a casa da Bia enquanto cruzo os dedos torcendo para que ela o aceite e me ligue, algo que não acontece.

No final do dia, ligo para o motoboy e ele me garante que entrou o presente nas mãos de uma garota chamada Bianca, inclusive me envia uma foto com o recibo assinado por ela, aguardo ansiosamente noite toda por algum retorno, mas ela não dá nenhum sinal de vida.

- Arg!! – Resmungo irritada. – Anda Abigail!

- Calma filha, tem algum compromisso hoje? – Meu pai senta-se calmamente na poltrona e sinto seus olhos me observando.

- Não, só estou cansada, quero ir pra casa logo.

- Fique para o almoço. – Ele insiste pela milésima vez.

- Pai, ontem o Guto já trabalhou sozinho, não posso me dar a esse luxo. – Minto, pois o Guto insistiu que eu deveria tirar essa semana de folga, mas contudo que tem acontecido eu não consigo ficar mais um segundo sem nada para fazer, preciso trabalhar.

- Ah, que nada, deixe que eu ligo para ele e me acerto, tenho certeza de que ele não vai se incomodar. Almoce e vá, é um pouco mais de uma hora de viagem, antes das duas e meia você estará lá, o Augusto não vai se importar. Você quase nunca vem aqui.

- Vai ver que é por isso que quase não venho, vocês nunca me deixam ir embora. – Tento parecer irritada, mas sorrio no final.

- Um pai tem que tentar manter seus filhos no ninho. – Ele dá uma piscadela enquanto eu grito novamente pela Abigail.

- Eu vou subir ai e trazer você puxando pelas orelhas!

- Desculpa. – Ela aparece no alto da escada, seu rosto está aflito. - Val, eu perdi meu aparelho, não consigo encontrar!

- Como você perdeu isso? – Fico ainda mais enfurecida.

- Não sei, não consigo lembrar onde coloquei ontem. Eu achei que tinha tirado para escovar os dentes e esquecido de colocar, mas não está no banheiro.

- Deixe aí, vamos embora e eu mando fazer outro.

- Não é assim fácil, meu dentista está de férias. Não vou ficar um mês sem o aparelho.

- Arg! Vamos procura-lo. Começo a subir os degraus enquanto escuto meu pai dizer:

- Vou avisar sua mãe que as duas ficarão para o almoço!

- Onde você lembra de tê-lo visto pela última vez? – Questiono assim que entro no quarto. O quarto está incrivelmente organizado, e acho muito difícil que ela tenha perdido alguma coisa ali, sua mochila e a pequena mala estão sobre a cama, arrumadas e fechadas. Ela deve ter deixado na cozinha.

- Esse é o problema. – Ela para de falar e se distrai enquanto digita rapidamente no celular.

- Qual o problema? Abigail, está falando com quem?

- Ãn... é... o Lipe! Ele me convidou para ir ao shopping hoje à tarde, e eu disse que ia ver se você deixaria.

- Certo, vou pensar nisso. E o aparelho?

- O que tem? – Ela parece meio aérea e muito sorridente. Ah... os namoricos da adolescência, são tão fofos.

- Onde você o viu pela última vez? – Meu corpo todo treme de irritação. – Anda Aby! – Brigo com ela quando a vejo mais uma vez no celular. – Larga essa merda! – Ela vai até a janela e solta um suspiro. – Vou lá ver se não está na cozinha.

- Acho que sei onde ele tá! – Ela fala de repente, seu sorriso é travesso, o que me irrita mais ainda.

Escuto um carro se aproximar e vou até a janela ver o que Aby admira tanto. Uma caminhonete Ford Ranger cor grafite estaciona bem em frente à casa. Meu coração começa a bater tão forte que suas batidas ecoam em meus ouvidos, quando vejo quem está saindo de dentro dela, meu coração para e eu esqueço como se respira.

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