Qual a pior ilusão: a que você mesmo cria ou aquela que outros criam por ti e você simplesmente permite que ela se torne a "verdade".
Mesmo lutando por si mesma todos os dias, Victoria sabia que não estava sendo sincera consigo. Sabia que quando olh...
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Encarando o teto branco do quarto, fico no dilema entre levantar ou não. Acontece que são 6h16min da manhã de um sábado, não deveria estar nem acordada agora, mas costumes são costumes, não é mesmo?
Decido levantar. Ainda que com sono, sabia que voltar a dormir não aconteceria.
Na frente do guarda-roupa encontro outro dilema, na verdade, talvez isso é o que eu mais tenha feito nos últimos três dias, estar entre dilemas. Será que coloco uma roupa mais trabalhada ou me visto como se estivesse em casa? Bom, se pensar que essa é a minha casa agora, deveria ir pela segunda opção.
Agora que realmente me caiu a ficha, essa é a minha casa também. Não é mais aquele apartamento de 5 cômodos que eu dividia com Levi. Esse apartamento é uma mansão, porém, é como dizem: Quem pode, pode.
Decidido, se essa casa também é a minha casa, então devo agir como eu mesma. Peguei uma calça jeans azul-escuro e uma camiseta grande, que ia até as minhas coxas, do ACDC. Fechei as portas do roupeiro e passei a fazer o que não fazia há algum tempo, me observar, me amar.
A imagem refletida no espelho ainda era a mesma de sempre, pelo menos na aparência. Meus 1,75m de pele negra, os cabelos volumosos e cacheados que iam até um pouco abaixo das costas. O corpo magro, os olhos castanhos claros e a boca pequena e cheia. Para ser sincera, demorei muito tempo para me achar bonita. Sempre pensei em mim como uma pessoa feia, com os traços feios.
Grande parte disso se devia pela minha cor e meu cabelo.
É difícil desenvolver um amor por si mesma quando o padrão de beleza imposto pela sociedade é ter a pele alva, os olhos azuis, nariz arrebitado, cabelos lisos e loiros. Esse padrão nos afeta muito mais do que imaginamos. Até os pais induzem, vezes ou outras obrigam, os filhos a seguir esse padrão ridículo. O pior é quando alguém sai desse padrão e é submetido ao linchamento social. É triste, mas é a realidade. Uma realidade inaceitável. Que deve ser mudada.
Desperto dos meus devaneios e vou para o banheiro a fim de me banhar. É estranho entrar em um banheiro tão grande quando se está costumado com o pequeno do meu antigo apartamento.
No banheiro fico mais indecisa ainda, olho para ao chuveiro, depois olho para a banheira e a acho tentadora. Faz um bom tempo que não entro em uma banheira... Se eu continuasse com essa indecisão, provavelmente tomaria banho nos dois lugares.
Toma banho no chuveiro mesmo, um banho gelado e rápido seria o melhor para acordar totalmente.
Ainda eram 6 horas quando ato meus cabelos em coque alto e desço os degraus pulando como fiz ontem.
Na ilha da cozinha estava Simon tomando café da manhã. Eu estava nos últimos degraus da escada quando ele se virou para mim sorrindo.
– Acho que vou mandar substituírem essa escada por uma de ferro, senão você quebrará alguns degraus dela se continuar pulando desse jeito – provocou. Lhe respondi com uma careta pondo a língua pra fora.
