-Hoje a gente tem aquela reunião com a coordenadora da fornecedora de papel, quero que todos os funcionários estejam avisados e preparados para a visita até as 16h00.
-Tudo certo, e sobre a confraternização? Já falei com a empresa dos bolos e com a decoradora, mas até agora a equipe do bufê não retornou a ligação.
-Dane-se a confraternização, do jeito que esses preguiçosos andam trabalhando eles merecem nada mais do que um almoço frio e suco de caixinha. Saia da minha frente, Mark. Vá fazer o que te mandei.
-Ok, chefa. Café às 18h00?
-Café às 18h00.
-Te pego lá. Te amo, chefinha.
Lauren Evans era uma mulher bem-sucedida. Era formada em jornalismo e publicidade, trabalhava como presidente da filial de uma grande e famosa revista dos EUA, seu nome era reconhecido em todo o país por conta do seu sucesso empreendedor prematuro (tinha apenas 25 anos), morava em um apartamento de luxo em Nova York e tinha a vida que todos desejavam. Não era casada e não tinha filhos, porque sua profissão sempre esteve à frente de qualquer escolha pessoal.
Qualquer um que passasse um dia inteiro com Lauren Evans deixaria de admirá-la por conta de sua carreira de sucesso e os inúmeros bens em seu nome, e passaria a odiá-la. Lauren não era tão amável, e não ligava para isso- detestava reuniões dos antigos amigos do ensino médio, não suportava um relacionamento amoroso que durasse mais de um mês, e comparecia a eventos familiares apenas em velórios e dia de ação de graças. No Natal mandava cartões para seus pais dizendo ter saudades e presentes caros para os sobrinhos, filhos de seu irmão mais velho e sua irmã caçula.
Mark era o único ser humano que conseguia passar o tempo com Lauren sem destestá-la eternamente, e o contrário também era fato. Ele era seu secretário e confidente, e quem aceitava Lauren de sua maneira, sem pensar na sua fama e no seu dinheiro; era quem aceitava ser maltratado após um dia ruim na vida de Lauren e continuava tentando melhorar seu humor colocando filmes dos anos 80 para assistirem em casa comendo chocolates e todos os tipos de bobagens calóricas que Lauren aceitava ingerir somente nessas ocasiões.
Mark e Lauren eram inseparáveis, até o dia em que Mark se apaixonou por Ronan, o novo editor da revista onde trabalhavam. Eles se casaram e Mark queria cada vez mais que sua amiga mudasse de vida, conhecesse seu amor verdadeiro assim como ele conheceu, e deixasse toda aquela superficialidade para trás. Lauren achou tudo aquilo uma besteira, mas começou a sentir cada vez mais falta de Mark.
Naquele mesmo dia, após saírem do café, Lauren foi atropelada por uma senhora de echarpe roxa que dirigia uma bicicleta motorizada. Ela desmaiou por alguns minutos, e quando acordou, estava no hospital com Mark a seu lado, rindo do acidente absurdo que acabara de acontecer. Ela não se feriu gravemente. Possuía alguns arranhões e pequenos machucados no rosto e nas mãos. Mãos.
Foi verificando os ferimentos que Lauren notou algo em sua mão direita: um anel de prata cravejado com rubis que ela nunca tinha visto antes. Tinha a absoluta certeza que nunca comprara aquele objeto ou ganhara de algum parente. Mas ela resolveu acreditar que a senhora que a atropelara lhe dera como um presente de culpa e reconciliação, e ficou com o anel.
Mark deixou Lauren em casa. Ela olhou no relógio, que marcava 19:31 min, e foi tomar um banho. Tentou tirar o anel, e como estava um pouco apertado, deu duas voltas nele para arrancá-lo. Repentinamente, viu-se no hospital novamente recebendo os cuidados da enfermeira que fazia seus curativos, e Mark a seu lado. Olhou no relógio, que marcava 19:01 min.
Ela ficou desesperada, mas se contasse a Mark que voltara 30 minutos no tempo, ele com certeza acharia que era tudo uma brincadeira. Foi deixada em casa (novamente) e convenceu-se de que era efeito dos analgésicos que havia tomado. Fez tudo outra vez, e quando foi tomar banho, olhou para o anel e não o tirou, se deu conta que ele era a causa daquilo tudo.
Acordou no dia seguinte e olhou sua janela que sempre lhe mostrava uma bela vista direto para o Central Park, que era um dos principais motivos pelo qual o preço do aluguel era tão alto. Mas algo estava errado, aquela não era sua janela: era amarela, bem menor que a sua e a vista não era o grande Central Park, era simplesmente a parte traseira de um prédio qualquer. Olhando ao redor, percebeu que não era seu apartamento de luxo: ainda era um grande apartamento, mas todo colorido, paredes com molduras de gesso azul e rosa, balcão de madeira rústico, sofá estampado e uma "mobília horrenda", pensou Lauren. Estava deitada em uma cama de solteiro com uma cabeceira verde, bem diferente da sua espaçosa king size com os seus cobertores macios e caros.
Onde ela estava? Onde estava seu apartamento super moderno? Ainda explorando o território desconhecido, deparou-se com um grande espelho. Lauren estava diferente, sua pele sempre muito branca ganhara um bronzeado californiano, seu corpo magricelo agora era tonificado e curvilíneo, seu cabelo ruivo muito liso agora era loiro ondulado, seus olhos antes escuros agora tinham um lindo tom de azul, usava um pijama estampado de frutinhas, mas seu rosto ainda era quase o mesmo. Lauren se tornara outra pessoa.
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A(s) Vida(s) de Lauren
FantasyLauren Evans tem tudo que sempre quis: uma vida bem sucedida em Nova York e seu nome estampado em todas as revistas sobre grandes mulheres empresárias americanas da atualidade, até se envolver em um acidente fantástico e adquirir um anel que é capaz...