Abernathy - Trilogia Maddox

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Uma semana já havia se passado. O ponto em meu braço foi removido, deixando apenas uma cicatriz. A minha amizade com Gabriel parecia crescer ainda mais, embora em alguns momentos ele dizia coisas que me fazia sempre ir embora e ficar algum tempo afastada.

Ele era casado e eu sempre fazia questão de esfregar isso na cara dele. Eleanor era uma boa pessoa, e eu não queria que ela saísse machucada por minha causa.

Hoje era sexta a noite. Gabe assistiria um filme comigo, jantaria e então iria embora. Eu estava deitada no sofá e Gabe sentado no chão. Minha mão acariciava seus cabelos escuros e ele parecia concentrado no filme.

Era bem coincidência que os personagens do filme eram amigos, e eram apaixonados um pelo outro. Mas única diferente era que eu e Gabe não estávamos apaixonados. De jeito nenhum.

– O que acha que vai acontecer com ela? – Gabe perguntou, sem desgrudar os olhos da TV. Olhei para o filme, observando a personagem Emma, do filme Um Dia, pedalar em direção a sua morte.

– Ela vai morrer. – Eu disse sem nenhuma expressão enquanto pegava um punhado de pipoca.

– O quê? – Ele voltou seus olhos azuis em minha direção e eu dei de ombros, apontando para a TV.

Era verdade que com o tempo, eu aprendi a assistir esse filme sem derramar uma lágrima ou lamentar pela morte dela sabendo que Dexter ficaria sozinho.

Observo com atenção Gabriel abrir a boca chocado quando o caminhão atinge Emma. Ele volta seus olhos azuis arregalados para mim.

– Ela morreu!?

– Ela morreu, Gabriel. – Minha boca se remexe para sorrir, mas ele está sério demais, então aguento firmemente.

– Ela não pode morrer! O cara...ele a amava e ela morreu? – Abro a boca para falar, mas ele me interrompo. – Isso não podia acontecer, ele vai ficar sozinho!

– Ele vai superar, Gabriel. – Acaricio seus ombros. – A perda vai ser enorme, e a dor mais ainda. Talvez demore um tempo para ele superar a ida dela, mas ele vai conseguir.

Me sento no sofá, deixando a pipoca de lado. Como ele se sentiria se eu dissesse que iria embora quando eu terminasse os preparativos do seu casamento? Ele iria agir normalmente, não é? Tinha que ser isso. Seria como algumas pessoas, uma amizade passageira que com o tempo não existiria mais.

– O que você está pensando?

Pisco, abrindo um sorriso e olhando para ele.

– Nada. Eu vou começar a preparar o jantar, Ray chega daqui a pouco.

Me levanto em um impulso e vou para a cozinha. Gabriel me segue, mas me concentro em apenas pegar frango, pimentões, tomate e cebolas.

Coloquei tudo em cima do balcão e liguei o fogão para assar o frango. Eu fazia tudo isso sobre o olhar de Gabriel. Ele estava com a mão no queixo e parecia pensativo, mas seus olhos me seguiam para todo lugar que eu ia. Abri a geladeira e fui até ele para encher um copo de água.

– O que foi? – Perguntei.

– Porque não me disse que iria embora?

Bato a jarra na borda do copo e derrubo água em mim. Como ele sabe? Eu não contei a ninguém, só a Ray...e minha mãe.

Sabia que Ray não constaria para ele. Mas sua mãe... Ela provavelmente teria um enorme prazer em esfregar isso na cara dele.

– Me fizeram uma oferta de emprego. – Digo as palavras devagar. – É uma empresa grande, Gabriel, e eles gostaram do meu trabalho de decorar.

– Você não vai pra lá, não importa onde seja.

Coloquei a jarra devagar em cima do balcão e olhei para ele.

– Como é?

– Eu não vou repetir de novo, Julia.

– Você não manda em mim, Gabriel. Eu escolho o que eu quero. Não é só porque estamos mais próximos que eu vou deixar você ditar o rumo da minha vida. Sou eu quem escolho, não você. E eu vou para New Bergan você queira ou não.

Dei as costas para ele e fui preparar a salada. Eu não vou? É claro que eu vou!

– Você é muito chata. – Ele disse ranzinza e se aproximou. – Me deixe fazer isso.

– Olha só vocês. – Ray entra na cozinha. – Se eu não soubesse que vocês eram amigos, eu diria que...

– Feche a sua boca, Ray. – Digo com raiva e me afasto de Gabriel.