O começo do começo

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Era segunda-feira, e estava frio como sempre. Eu sempre gostei do frio, mas sendo do Brasil, o frio brasileiro é diferente do frio canadense. Mesmo assim, eu já estava começando a me acostumar.

Eu me mudei para Toronto há dois meses. Estudo à tarde e à noite procuro ocupar meu tempo indo à academia ou fazendo qualquer outra coisa.

Mas naquela segunda-feira, acordei muito cedo para tirar algumas fotos do nascer do sol e acabei ficando com a manhã livre. Decidi ir à academia.

E foi naquela manhã de segunda-feira que conheci o Shawn. Eu não fazia ideia de quem ele era, na verdade. Sempre fui meio avoada; sabe aquele tipo de gente que não liga nome à pessoa? Essa sou eu. Depois de treinar um pouco, fui buscar água. Ao lado do bebedouro havia um painel com alguns anúncios de apartamentos e casas para alugar. Eu estava pensando em sair da casa onde eu morava, pois meu roommate decidiu morar com a namorada. Na verdade, ela iria morar com ele, e eu acabei sobrando na história. Olhei por alguns segundos, mas não encontrei nada de interessante e decidi voltar para a esteira.

Já mencionei que sou um pouco atrapalhada? Pois é, quando me virei para voltar para a esteira, acabei trombando com um rapaz. Foi uma bela trombada. Não foi só minha culpa; ele estava mexendo no telefone e também não me viu. Acabei derrubando toda a água que estava segurando no copo em cima de mim.

Eu nem tinha olhado para o rosto dele, só sentia o frio daquela água gelada. Imediatamente percebi que minha camiseta branca agora estava completamente transparente. Belo dia para escolher um top branco também, né? Tapei aquilo com a mão na hora, e ele disse:

— Me desculpe! Foi minha culpa, estava mexendo no celular e não te vi, me desculpe!

— Tudo bem, não foi culpa sua, eu...

Nesse momento, olhei para ele. Não acreditava que pudesse existir uma pessoa tão bonita assim. Ele era bonito desde o fio de cabelo até os pés e não parava de se desculpar.

— Ah, não... não foi sua culpa. Eu virei com tudo e não te vi...

— Mas eu te molhei, e agora? Você tem outra roupa para trocar?

Claro que eu não tinha outra roupa. Não tinha planejado ir à academia naquela manhã, então não tinha nada para vestir além daquela legging preta, a mesma calça de ginástica de sempre, e um casaco guardado no armário.

— Ahn... não, infelizmente não tenho, mas tudo bem, eu já estava indo embora mesmo. Não se preocupe.

— Você está doida? Está muito frio lá fora. Se você sair assim vai pegar uma pneumonia.

— Eu não frequento academia de manhã, por isso não trouxe nada hoje, mas...

— Eu percebi que você não frequenta aqui de manhã. Eu teria me lembrado se já tivesse te visto antes por aqui.

Como assim teria se lembrado? Eu sou a pessoa que menos se arruma para ir à academia. Sempre o mesmo rabo-de-cavalo no alto da cabeça, calças pretas e uma camiseta básica. No máximo, um top colorido por baixo para dar uma vida ao meu look sem graça de academia.

Ele com certeza se lembraria da garota mais sem graça de lá. Ele se virou para a recepção e disse:

— Peraí, tive uma ideia.

Ele perguntou para a garota da recepção se havia uma loja de presentes ou algo assim por ali, e ela disse que a loja ficava no andar de baixo.

— Pode ser que tenha algo legal lá, vamos ver? — ele sugeriu.

— Não precisa, de verdade. Eu já estou indo embora, daqui a pouco isso seca. E outra, as coisas da lojinha são bem mais caras...

— Mas quem disse que é você que vai comprar? Estou te pedindo ajuda para escolher. Vou comprar de qualquer forma. Se você me ajudar, vai ser melhor. Afinal, quem vai usar é você, né? O meu gosto para roupas femininas pode não ser tão bom assim. Você quer arriscar?

Desde o começo - From the Very StartOnde histórias criam vida. Descubra agora