| 8 | Sparks (II/II)

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Léia's P.O.V.

Seus olhos estão vagos, enevoados, mas ainda é ele. É Namjoon.

- Oi, pequena. Desculpa ter gritado, achei que ainda estava lá dentro - ele diz me observando. - O que está fazendo aí atrás?

Improvise, Léia. Uma desculpa, rápido!

- Ah... - olho para meus pés cheios de areia. Levanto meus sapatos para que ele veja. - Esqueci meu tênis ali no canto da garagem, o vento levou para a areia, então fui pegar. Sabia que estava esquecendo algo - digo com um sorriso, rezando para que a mentira colasse.

Ele assente e bate a mão no bando do passageiro ao seu lado: - Venha, sente aqui.

Pulo o banco e logo estou sentada ao lado de Namjoon, limpando meus pés. Afivelo o cinto e logo estamos rodando, indo para o aeroporto. Ele demora para comentar algo.

- Você está bem com tudo isso com Yoongi? - ele fala em um quase sussurro.

Dou de ombros: - Sei que tudo vai ficar bem. Algum dia.

- Eu estou aqui sempre, sabe disso? Pode contar comigo.

Sorrio. Sei que isso sempre foi verdade.

Ele liga o rádio e cantarola qualquer música que estoura pelas caixas de som. Gosto de ver Namjoon sorrir. Como eu queria uma câmera aqui para registrar isso.

Você já registrou o sorriso de Namjoon várias vezes, tonta. Olhe no porta-luvas, a voz em minha cabeça fala. Obedeço e abro aquele, vendo polaroides e fotos reveladas e algo que gela minha espinha. Foco somente em coisas boas no momento.

- Lembra desse dia? - digo mostrando uma foto tirada em um prédio abandonado em Seoul.
- Dia da batalha de rap. Ah, bons tempos esses. Dia do nosso beijo... - ele sussurra a última parte com um leve sorriso nos lábios.

Ele me pega totalmente desprevenida.

- Sobre isso... - tento escapar do assunto.
- Tudo bem, Léia. Nós resolvemos isso naquele mesmo dia, lembra? - ele afaga minha mão. Diferente da minha, a dele está quente.

Apenas assinto.

Ele muda o assunto, comentando sobre outras fotos espalhadas em meu colo, mas o nosso beijo no passado me assombra até o dia atual.

Guardo as fotos no porta-luvas e estendo minha mão para outro objeto.

- Escuta, Nam, podemos conversar sobre uma coisa? - pergunto.
- Claro, o que foi? - ele diz sem tirar os olhos da estrada.

Puxo um maço de cigarro com apenas um último sobrando e mostro para ele.

Vejo sua mandíbula tensionar. Ele engole seco e pega o maço de minhas mãos e guarda em seu bolso.

- Léia, eu posso explicar...
- Namjoon, está tudo bem. Só quero que saiba que pode dividir suas tormentas comigo assim como compartilho as minhas com você. Quero ouvir sua história ao invés de só gritar contigo.
- Gritar comigo? Do que você está falando? Você nunca levantou a voz perto de mim... aliás, você já sabia dos cigarros? - ele pergunta confuso, quase incrédulo.

Inferno. Você já viveu isso, Léia. Ele não. Você está num looping infinito do passado, haja de acordo.

- Não é isso que quis dizer... só quero fazer a coisa certa: te ouvir.

Namjoon para o carro. Ele olha profundamente em meus olhos.

- Tudo começou no dia da batalha de rap, logo após nosso beijo. Fiquei tão mal, me senti tão sujo... não por ter te beijado, mas sim por ter beijado a namorada de um amigo. Fui para perto dos banheiros daquele lugar e um homem me viu chorando e me ofereceu o cigarro. Isso vai tirar o gosto dela da sua boca e com sorte da sua mente e do seu coração, foi o que ele disse. Eu estava tão mal e transtornado que aceitei e por alguns segundos todas as minha preocupações sobre você e Yoongi foram embora. Logo me encontrei dependente da nicotina. Me ajuda a acalmar os nervos quando vocês dois brigam. Se não fosse por esse pequena droga, eu já teria interferido em sua relação com Yoongi.
- Namjoon... - digo soltando o cinto.
- Você não merece tudo isso que ele faz contigo - ele diz com a voz embargada e lágrimas prontas para escorrer em seus olhos.

Tudo que consigo fazer é envolver Joonie em meus braços. Ele me aperta contra seu corpo e esconde sua face na volta de meu pescoço. Posso ouvir seus soluços.

- Eu sei que você era e ainda é apaixonada pelo Min. Eu sei. E me sinto culpado por tudo. Eu poderia ter intervido. Eu deveria ter feito algo...
- Você fez o suficiente, Nam - sussurro afagando seu cabelo.
- O que eu fiz?

Me separo dele e pego sua face em minhas mãos. Olhando para Namjoon assim, tão vulnerável, tão aberto, parte meu coração. Não por eu ser a causa de seu vício por cigarros, claro, isso também, mas principalmente por causa de um sentimento me derrubando como um soco na cara: eu poderia ter sido feliz com Namjoon, se eu tivesse o culhão de perceber que eu merecia mais que um relacionamento abusivo. Ele estava ali. Nunca havia passado do limite. Eu poderia ter tido Namjoon como namorado. Tenho consciência de que ele me amou em algum momento. E sei que eu o amei em algum momento também.

Por um segundo, penso em como tudo poderia ter sido diferente. Não haveria brigas, os meninos estariam vivos, talvez meus pais também. Eu estaria viva. Não estaria presa nessa situação.

- Você sabe o que fez - digo enxugando suas lágrimas e dando um beijo em seu nariz.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas olhando um para o outro.

- Eu não queria causar tudo isso - digo.
- Está tudo bem, Pikachu... você tocou em um ponto importante.
- Que ponto?
- Você já sabe o que vai fazer em relação ao Min?
- Fugir para o Brasil?
- Você não faria isso, faria?

A Léia do passado faria e fez, não posso responder pela Léia do presente.

Dou de ombros.

- Você sabe que é a única pessoa que pode bater de frente com ele, não? Só você pode se defender nessa empreitada e conseguir algo melhor - ele diz.
- Não é verdade.
- Nós dois sabemos que é verdade.

Olho para ele. Namjoon solta seu cinto e abre a porta do carro. Meus olhos acompanham seus movimentos.

Um arrepio percorre minha espinha ao ver onde estamos parados: em um posto de gasolina.

- Namjoon, volte para o carro por favor - digo com medo.

Vejo que ele puxa o maço de cigarro do bolso, colocando a última unidade em sua boca.

- Não sou eu que vou te impedir de fazer a coisa certa, Léia. Você pode mudar tudo isso. Confie. Aguente firme só por mais algum tempo.
- NAMJOON!

E ele acende o cigarro com o isqueiro.

O som da explosão é ensurdecedor, mas ouço a voz de Namjoon ecoando em meus ouvidos. O calor do fogo consome meu corpo trazendo outras lembranças à tona.

A última coisa que vejo são brilhos, como fogos de artifício, cor de rosa.

Da cor do cabelo de Joonie.

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Ah é, esqueci de mencionar que hoje é double update.

É o mínimo que poderia fazer por vocês depois de tanto tempo sumida.

Beijão, até breve!
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Save Me From The Fire {Min Yoongi} - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora