| 16 | Você Pode Continuar (II/II)

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Yoongi's P.O.V.

- Eu não aguento mais isso - digo me afastando de meu Outro Eu. 

Hiperventilo e esfrego o rosto, sem saber o que fazer, o que dizer, como agir. Me jogo no sofá sujo e velho cheio de poeira, que sobe assim que meu corpo se choca contra o estofado. Meus pés batem no teclado equilibrado no braço do sofá, emitindo sons de notas, caindo no chão com um estrondo em seguida. 

Em meu peito sinto crescer uma vontade imensa de gritar, lutar contra o mundo e ficar parado esperando pela eternidade consumir minha alma. Mas tudo que consigo fazer é chorar. 

O choro e a melancolia me doem. Meu corpo se encolhe em posição fetal, não consigo me mexer, somente meus olhos transmitem alguma característica de vivacidade restante em mim. 

Sinto uma mão afagar meu joelho. Meus olhos embaçados pelas lágrimas encontram os olhos acolhedores de Outro Yoongi, que está sentado no chão à beira do sofá, me olhando atentamente. 

- Você não precisa guardar tudo para si como sempre - ele sussurra para mim. - Pode falar comigo. Pode ser honesto consigo mesmo. 

Aquela demonstração de preocupação me faz chorar ainda mais, ato que faz Outro Yoongi segurar minhas mãos em apoio. 

- Eu nem sei por onde começar, para ser honesto. Vi coisas terríveis. Vi o que fiz com meus amigos, se é que ainda tenho o direito de chamá-los assim. Foi um baque muito forte. Não sei há quantos dias estou revivendo esses momentos, se é que foram dias ou horas ou meses ou anos, mas a cada segundo que passava eu entendia mais o porque de tudo aquilo. Por mais exausto que eu esteja, eu entendo essa tortura. E eu passaria por tudo isso novamente se isso significasse que eles ficariam bem com o meu sofrimento. Porque eu mereço depois de tudo que fiz e... - minha voz é entrecortada por um suspiro e volto a chorar. 

Outro Yoongi afaga minhas mãos. 

- Mas, do fundo do meu coração, queria que tudo isso parasse, nem que por alguns segundos. Queria poder abraçar meus irmãos e pedir desculpas. Fazer tudo certo porque, honestamente, aquele não era eu. Uma fase horrível da minha pessoa mas definitivamente não quem eu realmente sou - continuo. 

- Eu sei - ele diz.

- Sabe?

- Claro, afinal de contas, eu sou você. 

Ele sorri para mim. Eu retribuo o sorriso. 

- Tenho algumas coisas a dizer e explicar a você, Min - ele diz. 

Ele me explica que esse espaço que nos encontramos se chama Purgatório, como o livro de Dante e as superstições dos religiosos, feita justamente para julgar o peso de nossas ações e do nosso coração antes de sermos mandados para um dos dois destinos finais. Que isto só está acontecendo agora porque todos estão no mesmo plano: mortos; e como nossas ações foram conjuntas, o julgamento deveria ser feito da mesma maneira. Ele me conta, com calma, que o objetivo dessas "provas" eram saber a veracidade do meu arrependimento, sendo a minha própria pessoa o último teste. Uma chance de ser honesto comigo mesmo. 

Uma de suas falas me deixa mais calmo e ao mesmo tempo ansioso. Ele diz que, ao seu ver, eu já estou "salvo" em relação aos meninos. E que em breve encontrarei-os. 

- Eles estão aqui? - pergunto baixinho. 

Ele apenas assente com a cabeça. 

E esse movimento faz com que meu olhar passeie pelos seus cabelos ruivos... 

- Você pode falar comigo sobre ela, se quiser - ele diz, parecendo notar. 

Mudo de posição no sofá, sentando e apoiando os cotovelos nos joelhos. 

Save Me From The Fire {Min Yoongi} - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora