| 11 | O Ser Alado (I/II)

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Léia's P.O.V.

Acordo em meu cativeiro, minha cela, o habitat no qual minha alma reside: a caixa de concreto cinza e fria. 

Hoje me sinto mais cansada que o normal. Não cansada fisicamente, mas aqui dentro. Antes, quando tinha ossos e carne e pele e terminações nervosas, quando tinha um pulso e sinapses, acreditava que a dor emocional se concentrava no peito e na cabeça. Agora, em minha forma espiritual, percebo que eu sou morada do meu próprio cansaço. 

Deitada no chão, viro a cabeça para a janela escura. Como sempre, algo grudado no vidro. E não é um bilhete, mas sim um desenho. Minha visão não é lá das melhores, mas estreitando os olhos suficientemente consigo ver que é um pássaro. Rolo até ficar com a barriga contra o chão gelado, busco apoio em minhas mãos e me levanto. Diante da janela, observo o singelo desenho de uma pomba com uma flor no bico. Tenho quase certeza de que era para ser um ramo de oliveira...

Abro a porta ao meu lado e saio de minha bolha, encontrando uma rua larga de Busan logo adiante. Caminho por toda a sua extensão. Sei que ela vai dar em algum lugar; o lugar que preciso estar naquele momento em particular. Cantarolo durante o percurso e sinto, enquanto minha língua dança por minha boca, a presença de um gosto azedo. Me lembra goiabas...

O paisagem é mais urbana. Vejo casas, prédios, uma torre gigante com diversos turistas fazendo filas, feiras, um mercadão que exala especiarias, e diversos outros cenários da vida cotidiana que raramente prestamos atenção. 

Estou tão absorta em pensamentos e detalhes mundanos que tropeço e caio no chão. Vejo o que me fez cair foi uma série de pedras no chão. Olho para trás e vejo um grande portão de madeira. O vento sopra e bagunça meus cabelos. Em uma placa acima de minha cabeça, leio a grafia coreana: Chungnyeolsa. 

Me levanto, ando até o portão, empurro-o e me vejo diante de uma ponte comprida sobre um lago com peixes. Este lugar tem uma aura imaculada; élfica, eu diria. Cruzo a ponte, subo uma escadaria e, conforme dou cada passo, um templo imenso toma forma. Assim que alcanço o último degrau, corro até a porta do templo, que está aberta, e me ajoelho, a dor consumindo minha alma pois sei onde estou. 

- Senhor, deixe-me descansar. Estou cansada. Quero ir para casa - sussurro. 

Sei que não tenho muito direito de pedir ajuda a uma entidade maior, pois reconheço quem eu sou, quem eu fiz e o porque estou vivendo esse período de minha vida passada todos os dias pelo que já parece uma eternidade. Talvez seja. Talvez essa seja minha penitência por ter feito coisas ruins a pessoas que estavam perfeitamente bem sem mim. Mas me aconchego no batente da enorme porta, olhando a cidade aqui de cima. Sinto um pouco de paz em locais assim. Apesar de não ser merecedora da paz. 

Ouço o farfalhar de penas e vejo uma pomba branca pousando em uma espécie de manjedoura que fica mais ao lado do templo. A pomba é branca e solta na água o que estava segurando em seu bico. Me levanto e vejo uma flor. Um lírio branco. Pego-o e giro-o entre meus dedos. 

- Você tem alguma coisa para mim? - pergunto ao animal, que bate as asas até meu cabelo, bicando-o e depois voando para longe, como se me chamasse. 

Sigo a ave pela propriedade religiosa e vejo que ela entrou em uma grande estrutura metálica branca, com vidros e recheada até o teto com flores. Uma estufa de lírios. 

Um arrepio percorre minha espinha. 

O cheiro dos lírios preenchem minhas narinas assim que passo por suas portas, os olhos sensíveis a claridade do espaço. Cada espaço tem uma flor, porém um pequeno vidro com água está vazio. Coloco lá o lírio em minhas mãos. Sinto um vento passar por mim e o sol aquecendo minha pele. 

Aquecendo demais. 

A luz está muito brilhante, chega a queimar meus braços e machucar meus olhos. Olho para o teto mas o sol não está ali. A luz vem de outro lugar. Do fundo da estufa, há uma silhueta branca, com raios de claridade formando uma espécie de asa. Um ser alado. 

Cubro meus olhos com a palma da mão, por mais que queira olhar não consigo. De repente sinto o calor dissipando, e uma mão em cada lado de minha face. 

- Está tudo bem - ouço a voz masculina que não ouvia há tempos. 

Meus olhos encontram os seus, estudo seu cabelo escuro, a face angelical, os lábios mais protuberantes e rosados. Um sorriso sincero. 

Jogo meus braços em volta de Kim SeokJin como se ele pudesse se dissipar a qualquer momento. Algo me diz que pode. 

- Estou muito feliz em te ver - digo com a voz abafada, pois minha face se encontra em seu peito. 

Eu realmente estou feliz. 

- Queria tanto te ver - ele sussurra e me desgruda de seu corpo para que possa olhar para mim. - Nós precisamos conversar. 

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Olá, uniPOPcorns! 

A faculdade deu a minha turma um refresco e vim escrever e papear com vocês!

Me contem, como estão? Eu estou com fome no presente momento, sonhando com a janta. 

Estamos indo para o final da primeira parte dessa novela mexicana, logo suas dúvidas serão respondidas. Quero agradecer a quem me apontou onde essa parte da estufa de lírios estava dentro de INUG. Não estava achando por nada <3 um beijo gostoso aos ajudantes. 

Na verdade, um beijo para todos vocês. Não farei double update pois não escrevi o outro capítulo, então nos vemos em breve! 

Saranghae <3 


Save Me From The Fire {Min Yoongi} - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora