Epílogo

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O homem cambaleava em direção a casa dele e tomou o caminho do bosque. Ele nunca ouviu as histórias sobre lobos que atacam quem vai pela estrada do bosque? Provavelmente nunca contou essa história para a filha dele. Aliás, a única lembrança de infância que ela um dia terá dele será a das pancadas, do medo, do braço partido, lábios cortados, olho roxo. Ele é um monstro que nunca deveria ter sido pai. Pessoas como ele não devem existir.

O lobo esperou por ele, pacientemente. Não tinha sido fácil chegar aqui, driblando os olhos das pessoas, mas, de alguma forma o lobo, sabia que ele precisava fazer isso e então se colocou diante do homem entre o portão de casa e a rua.

Ele não pareceu ter medo do lobo e parecia não acreditar. Estava bêbado, como sempre estava quando batia na garotinha, e talvez achasse que era uma alucinação. As pessoas costumam chamar as coisas que veem e não entendem de alucinação.

Teria sido fácil pular em cima dele, mesmo que estivesse sóbrio e derrubá-lo. Ele caiu com um baque surdo e eu não esperei que gritasse, mordi o rosto dele exatamente como queria, porque desejava desfigurá-lo. Ele colocou as mãos no rosto, gritando e então assumindo a forma humana, eu disse:

– Se bater na garota de novo, se fizer as coisas horríveis que faz com ela outra vez, eu volto e corto sua garganta. Agora esqueça que me viu, mas não esqueça as palavras do lobo.

Eu tinha que encontrar agora um telefone e ligar pedindo ajuda, não estava com pressa, mas tinha que fazer o certo. Me virei pra tomar o caminho de volta e então percebi que estava com problemas.

Ele estava no outro extremo da estrada, de braços cruzados e me olhava com aquele ar estranho, que ele sempre tinha quando eu tentava expor esse meu lado. Mas ele mantinha uma expressão séria e isso me deixava confuso sobre o que ele iria dizer. Mas eu tinha que ver o lado bom de tudo, pelo menos não foi a minha mãe que me encontrou desfigurando um monstro.

– Pai.

– Eu já liguei pra ambulância.

– Obrigado.

– O que não significa que eu aprove o fato de você conseguir enganar a todos nós e sair em missão como justiceiro. Quando sua mãe souber...

– Você vai contar a ela? – claro que ele vai, eu sei, mas eu perguntei mesmo assim.

– Você sabe o que sua mãe pensa sobre atacar pessoas...

– Mas eu estava salvando pessoas.

– Você não é um justiceiro.

– E o que eu sou? Um monstro?

Meu pai colocou a mão no meu ombro e eu sabia o que viria em seguida. Ele me puxou pra um abraço e fez a coisa que odeio: bagunçar o meu cabelo. Eu gostava de brincar com ele assim e pulava, tentando alcançar a cabeça dele também e fazer o mesmo. Nossas brincadeiras sempre evoluíam para rolamentos, saltos, móveis quebrados. Minha mãe odiava essas brincadeiras, segundo ela de "selvageria", mas nós sempre dizíamos que era treinamento pra batalha.

Meu pai parou de me apertar e bagunçar meu cabelo, tirou o lenço limpando o sangue da minha boca e me olhou sério de novo.

– Não, Henrik, você não é um monstro. Nem um justiceiro. Você é um garoto de oito anos, que precisa ser simplesmente isso: um garoto de oito anos. É tão difícil assim? – ele riu e eu ri também.

– Mamãe vai ficar muito brava e o pior, depois ela vai ficar triste. Então lá vem o sermão, e eu vou me sentir pior do que os suicidas, das histórias de Thanus, ou as criaturas do limbo, dos contos de Davina.

– Sim, vai ser um grande sermão e eu não posso ajudar você com isso.

– Não seria mais fácil se ela usasse castigos físicos? – eu disse, brincando.

Ele voltou a colocar a mão em meu ombro.

– Apenas monstros castigam seus filhos dessa maneira, Henrik. Nós amamos você.

Meu nome é Henrik Mikaelson. Caroline e Klaus são os meus pais. Não há maneiras de escapar dos sermões de minha mãe e não adianta pedir a meu pai que não diga nada a ela. Ela sempre sabe quando ele tenta esconder alguma coisa. Eu, às vezes, me pergunto se isso é por causa do feitiço de ligação que Thanus fez entre eles, quando eu ainda estava no ventre dela, pra que eu sobrevivesse. Mas as pessoas dizem que eles já eram assim antes mesmo que eu fosse concebido.

Em todos os meus aniversários, eles me contam a minha história e de como se orgulham de terem feito as escolhas que fizeram por mim. E cada vez mais eu concluo que o feitiço de vida e morte que liga os dois, não é nada perto do amor que os ligou antes, os fez serem meus pais e os mantem juntos para sempre.

Eu posso fazer muitas coisas e dizem que sempre vou descobrir outras que eu posso fazer, mas, nesse exato momento, eu só quero ser quem sou, porque eu sou feliz assim. Como diz o meu pai: apenas um garoto de oito anos, indo à escola, mesmo que já saiba o que irão me ensinar; sendo amigo da menina espancada, com a qual ninguém quer ter nada a ver. Eu gosto de quem sou. Henrik Mikaelson, filho de Klaus e Caroline, porque eu sou amado por eles e eu sou feliz. Eu não poderia ter pais melhores.

FIM

Red Ice - fanfic KlarolineOnde histórias criam vida. Descubra agora