Parte II - 6

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- Como? – ele perguntou, em dúvida. Anahi respirou fundo antes de responder.

- Eu queria que Sophie ficasse comigo.

- Por...?!

- Porque você não a quer e eu sim a quero - ela disse, soando muito óbvia e prática. Isso irritou Alfonso mais do que ele realmente esperava.

- Vinha pensando nisso desde que a viu? Isso é muito estranho.

- Não! - Anahi negou, nervosa - Depois do que você me contou, apenas acho que posso dar um futuro melhor a ela.

- Eu não tenho certeza disso. Não a conheço. Não posso dar uma criança a uma desconhecida como se fosse um mero brinquedo.

- Alfonso, essa tarde, não fosse pela nevasca, sua irmã a teria levado para um desconhecido também. O que há de errado comigo então?

- Confio na minha irmã - Alfonso explicou, duro - Não vou fazer isso. Esqueça essa ideia maluca.

A verdade era que agora, diante da possibilidade de deixá-la ir a algum lugar além do seu conhecimento, ele descobria o quanto havia se afeiçoado a Sophie. Não se tratava de ficar com ela; não havia a menor chance de que isso acontecesse. Tratava-se da incerteza sobre o lugar para onde ela iria, se teria conforto, se seria bem cuidada, se cresceria saudável. Ele não fora o melhor em tudo durante aqueles dias, mas tentara ao máximo. Uma criança inocente não merecia menos que o melhor e ele não era capaz de jogar o destino dela, que já fora uma vez jogado em suas mãos, novamente pro ar. E como, afinal de contas, o assunto havia se convertido nisso? Alfonso tinha outros planos para o fim dessa conversa, de verdade não queria confabular sobre o futuro de Sophie com uma estranha.

- Pode confiar em mim - ela tentou, expectante.

- Que diabos há de errado com você? É de entrar na casa dos outros para roubar crianças alheias? - ele cuspiu as palavras, agora de pé diante de Anahi. Ela, por sua vez, permaneceu sentada, com os olhos erguidos. O susto a levou a se contrair de medo.

- Desculpe, Alfonso. Não pensei que fosse uma ideia tão absurda para você - ela justificou, a voz frágil denotando a mágoa e o constrangimento que sentia - Pensei que se podia deixar que sua irmã a levasse, poderia deixar que eu a levasse também. Livraria vocês da responsabilidade. Mas me enganei. Desculpe.

Anahi estava tentando fazer com que o assunto morresse. Fora um impulso sem sentido, de fato. Não voltaria a tocar no assunto. Ela sorveu o último gole do vinho, evitando olhar para o homem exasperado a sua frente que, ao contrário dela, parecia empenhado em deixar claro o quanto a desprezava pela sua sugestão.

- Por que não faz do jeito mais fácil, Anahi?

Ela ergueu os olhos dessa vez, perplexa, o deboche na voz de Alfonso ferindo-a mais do que ela gostaria. Ele não ia sugerir isso... Ela não podia acreditar.

Ele então continuou:

- Faça sexo com alguém, qualquer um. Engravide e tenha um filho. Ele será seu, como você quer que ela seja. Se for para a rua agora, com esse vestido, nem precisará de muito esforço.

Anahi enrubesceu, baixando o olhar novamente. Seu muro de forças tinha desmoronado bem ali. Mas ela não estava furiosa; não era raiva aquilo que sentia. Era mais parecido com humilhação. Não tinha direito a sentir raiva, realmente, se fora tão tola e estúpida ao sugerir aquilo. Não podia culpá-lo pela reação exacerbada, Alfonso tinha todo o direito de estar ofendido com o que ela tentou fazer, sobretudo com a maneira que o tentou. Mas ela também tinha direito de escolher se queria continuar ali ou não. E decidiu que não queria.

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