Parte III - 1

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Manhattan
16 de novembro de 2017

Anahi enfrentou uma considerável fila antes de adentrar no teatro. As pessoas, educadamente, tomavam seus assentos, parecendo empolgadas e cheias de expectativa. Ela mesma se sentia assim, mas tinha certeza que seu coração batia a uma velocidade bem mais rápida, apesar de se negar a admitir, até a si mesma, que por um motivo especial. E o motivo especial tinha nome e sobrenome: Alfonso Herrera. O sobrenome ela descobriu bem depois, quando leu sobre a próxima peça a estrear em um dos principais teatros de Manhattan.

Ela se acomodou em uma fileira mais ou menos central e que lhe dava uma boa visão do palco. Começou então a pensar no que deveria dizer quando o encontrasse. Depois começou a pensar se realmente deveria pensar em alguma coisa a dizer, afinal inevitavelmente se esqueceria do que havia pensado e se atrapalharia com as palavras. Como sempre.

Então o jogo das luzes do teatro e o início da peça vieram para resgatá-la ao mundo exterior, mergulhando-a logo após no universo daquela história. Um homem anti-social tentava não se envolver emocionalmente com as mulheres com quem já se envolvia sexualmente. Até que uma delas alcançou um lugar onde ele nunca permitira que chegassem: seu coração. Ao longo da história, a medida que os caminhos dos personagens se cruzavam das maneiras mais turbulentas possíveis, ele se movia para tentar fugir daquela trama. Deveras clássico, mas não tão romântico.

Enquanto público não especialista, Anahi estava impressionada com o texto e o conjunto de atuações; totalmente envolvida pelas nuances do enredo não tão clichê quanto a princípio parecia. Esperava que a crítica também o avaliasse de forma positiva porque o excelente trabalho merecia. Alfonso merecia. E pensar nisso a fez se lembrar de que ele poderia surgir a qualquer momento.

Porém foi somente na saída, no meio de tanta gente, que ela enfim o viu. Não podia mentir que fora por acaso, porque seus olhos percorriam o teatro por todos os cantos e pulavam de rosto em rosto, tentando reconhecê-lo em alguém. Mas ainda assim, quando aconteceu, a surpresa a atingiu em cheio, fazendo seu coração que batia violentamente se comprimir e ameaçar escapulir pela boca. Ele estava rodeado de gente alegre e efusiva, tomando champanhe, comemorando o sucesso de sua estreia. Havia, além disso, uma morena lindíssima toda enrolada em seu braço. Anahi engoliu em seco, sentindo que sua mente havia se convertido em um clarão. O nervosismo de repente a deixou retesada, incapaz de se aproximar.

Bom, pelo menos de uma coisa ela estava ciente: não fazia parte daquilo e certamente não gostaria de atrapalhar.

De repente a busca então virou fuga e, com isso em mente, Anahi virou as costas para ir embora. Foi tudo muito rápido e, de uma maneira bastante infeliz, a rapidez do seu gesto fez com que um garçom, que vinha logo atrás, não conseguisse se parar a tempo. O esbarrão foi estarrecedor e o resultado disso foi que uma bandeja inteira de taças se espatifou no chão.

Todos - exatamente todos - os olhares se direcionaram a ela.

Anahi ficou completamente mortificada.

- Oh, meu Deus! Me desculpe! - ela implorou, extremamente nervosa - Mil vezes me desculpe, por favor! Acabo de receber uma ligação urgente e um familiar está passando muito mal! - forjou, vermelha de exasperação - Por isso preciso sair agora. Imediatamente. Poderia ajudá-lo com esse desastre, mas tenho medo que minha tia morra.

O garçom franziu o cenho, mais aturdido com a histeria da loira do que com o acontecimento em si. Era óbvio que aquela pobre criatura, tremendo como estava, precisava ir embora por qualquer que fosse o motivo, mesmo que fosse para ele não esganá-la.

- Não me diga que está tentando fugir.

Nesse momento, reconhecendo a voz, Anahi quase pôs o restante de sua dignidade a perder ao cogitar simplesmente sair correndo sem olhar para trás, ou talvez fingir um desmaio. Em vez disso, girou lentamente, com o sorriso mais envergonhado que lembrava algum dia já ter dado em toda a sua vida. E, obviamente, Herrera estava bem diante do seu nariz.

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