Parte IV - 3

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Não fazia sentido. Toda a situação causava estranheza em Alfonso. No entanto, pensar em ir embora sem dizer tudo que pretendia era ainda mais estranho. Certo que ele não era um homem habituado a argumentar demais para conseguir a atenção de uma mulher, mas também não era acostumado a simplesmente ter um desejo negado assim, tão facilmente. Portanto arriscou-se em dizer:

- Se me desse a oportunidade, eu mostraria que você está errada a respeito disso e a primeira coisa que precisamos fazer é conversar.

Apesar de haver usado seu melhor tom apaziguador, a devolutiva de Anahi foi dura e concisa como ele nunca havia visto.

- Eu definitivamente não quero conversar sobre isso, Alfonso.

Ele se ergueu num pulo, completamente irritado. Desta vez ele quem começou a se vestir nervosamente, enquanto ela aguardava, séria.

- Eu acabei de comer você!!! - gritou, as veias saltadas ao longo do pescoço. Anahi não titubeou em nada. Pelo contrário, a reação de Alfonso apenas alimentou a sua raiva.

- E agora está parecendo uma adolescente apaixonada e birrenta!!! - gritou de volta - Não tem o direito de vir até aqui para invadir o meu espaço e questionar as minhas decisões dessa forma!

O sangue de Alfonso fervilhou na cabeça, fazendo seus ouvidos zunirem. Ele preferiu dar meia volta e apoiar a testa em um dos espelhos para respirar fundo, fechando os olhos. Era uma situação estarrecedora do começo ao fim e ele se sentia prestes a explodir de ódio a qualquer instante por ser tão idiota. Tão idiota que ainda não havia ido embora.

- Desculpe - ela voltou a dizer, dessa vez branda, porém sucinta o suficiente para demonstrar que era apenas um lapso de sensatez e maturidade no meio de tanto nervo aflorado - Só preciso que entenda que isso não significa nada. Talvez tenhamos que ir para casa, organizar nossa cabeça com calma e então vamos perceber que...

- Não está falando com uma criança estúpida, Anahi - ele interrompeu, zangado.

- Certamente não. Estou falando com um adulto estúpido, o que é muito pior.

- E que está completamente apaixonado por você.

Anahi quase engasgou de surpresa e desespero. Não esperava que ele o dissesse tão clara e articuladamente, com todas as letras e pausas necessárias. Não queria que ele o fizesse. Preferia que ele não expressasse verbalmente, pois a falsa ignorância lhe ofereceria a escapatória para não ter de lidar com mais aquilo. Era o que queria e o que pretendia desde que o sexo acabou e ela percebera o enorme erro que fora ele ter pelo menos começado. Preferia nunca mais tocar no assunto, para que não tivesse que revisitar o sentimento de não se sentir apta a viver o que Alfonso lhe oferecia.

Ela baixou os olhos e balançou a cabeça em negação, murmurando.

- Não está.

- Por que eu mentiria sobre isso?! - Alfonso esbravejou - Pelo amor de Deus!

- Acho que está enganado.

- Você sem dúvidas quer que eu esteja enganado. E sem dúvidas também gostaria de não estar apaixonada por mim. Mas está.

- Não estou! - ela protestou, indignada. Alfonso riu, cruzando os braços.

- Acho que está enganada.

Com isso, Anahi voltou a perder o fio da paciência que vinha tentando puxar. Ele não merecia que ela fosse tão condescendente. Ela o encarou, ultrajada e furiosa, torcendo a boca. Virou as costas e buscou sua bolsa para retirar dela um saco transparente. De uma forma totalmente rude e desproporcionalmente violenta, Anahi despejou o conteúdo do saco sobre a mesa logo ao lado: cinco potes de comprimidos, de consideráveis volumes.

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