3- William

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Fico surpreso por ela ter usado o apelido de nossa adolescência.

Acordo, tomo banho e Jefferson faz café da manhã. Depois da conversa matinal sobre os assuntos do jornal, ele vai trabalhar e fico um tempo encarando a televisão ligada, sem ver ou escutar nada, estou muito envolvido em pensamentos para prestar atenção.

Luíza disse que o tal Lucas não é mais que um amigo, porém sinto que terei que conversar com ele em breve, pego o celular, são 7h20 ainda, ela entra às 8h no trabalho e deve estar se arrumando, então respiro fundo e ligo.

O celular toca três vezes antes dela atender e escuto "Não é o fim do mundo, você é gostosa e não pode evitar isso" uma voz masculina. Olho o visor para confirmar se disquei corretamente, e volto o celular ao ouvido a tempo de reconhecer a voz de Luíza que diz: "Cala a boca, Lucas" antes mesmo de dizer "Bom dia, Will".

Minha cabeça começa a dar voltas. O que ele está fazendo a esta hora com Luíza? Onde estão? Por que estão juntos? Um milhão de perguntas começaram a surgir na minha mente e respiro fundo tentando lembrar o que ela disse que são só amigos, mas acho que demorei para responder, ela está me chamando impaciente.

WILL — Oi, Lu, bom dia, desculpa.

LUÍZA — Está tudo bem? Precisa de mim? — Não sabe como! Quase disse.

WILL — Estou bem. — Respiro fundo e pergunto com calma.Como você está com relação aquele resfriado de segunda?

LUÍZA — Péssima — diz, pelo tom da voz sorrindo, porém, começa a tossir revelando ser verdade.Nada que descanso e remédio não resolva.

WILL — Quer cancelar o jantar?

LUÍZA — Não. Nós vamos.

Com a voz abafada diz "Para Lucas" e espirra umas vezes. Minha mente começa o julgamento antes que eu possa deter.

Acha mesmo que são só amigos? Por que mais a voz dela sairia baixa assim? Devem estar deitados na cama e como está ao telefone falando com você, a mão dele deve estar indo para dentro da camisola dela e... Forço minha mente parar, preciso saber onde ela está com ele, e por quê, mas não posso ser direto...

WILL — Lu, sei que vai trabalhar, não vou atrapalhar.

LUÍZA — Já estou indo, Lucas é meu chofer hoje. — Começa a rir. — Acabamos de deixar Carlos no colégio e esse folgado vai usar meu carro. — Ouço Lucas dizer "fala a verdade, você me ama". — Longe disso, Lucas. — Luíza responde, sem tapar o fone. Will, estou chegando a Ribeiro, e vou para casa de taxi, já que o Lucas vai pagar. — Continua rindo e depois tosse. — Tenho reunião, mas vou me esforçar para não atrasar para o jantar. — Lucas diz "reuniões, Emy".

Por que ele sabe tanto da vida dela? Por que ele vai ficar com o carro dela? Por que ele estava na casa dela tão cedo? Porque dormiu lá, idiota! minha mente grita.

WILL — Por que Lucas vai ficar com seu carro?

LUÍZA — É uma longa história, e te conto tudo no jantar. — Mais espirros. Você não vai gostar, tenho certeza. — Mais uma sequência de espirros e ouço Lucas: "Quer mesmo que ele me mate né, Luíza?", diz rindo e Luíza ri, falando para ele. Will é legal, não te odeia... Will espera um pouco o Lucas está estacionando, não desliga. — Como se eu conseguisse desligar.

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