Capítulo 30

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Issac On

Estava perdido, confuso e não entendia o motivo disso

Quando Alice disse que Roberto tinha sofrido um acidente um sentimento de culpa bateu em meu peito.

Eu o fiz ir embora, eu que disse coisas horríveis para ele. Se eu não tivesse feito ou dito tudo aquilo ele estaria bem ainda.

O meu pai, o pai que me abandonou por anos estava numa cama de hospital, podendo morrer a qualquer momento.

Sai correndo, avancei vários sinais, sorte a minha é que os radares estavam desligados

Ele não estava presente em nenhum momento da minha vida, ele nunca esteve presente. Por que me sinto tão mal?

Entrei no hospital correndo. Ohei para todos os lados, ate que vi Amanda, corri desesperadamente até ela

— Cadê ele Amanda? Fala, cadê o meu pai? – minha voz saiu baixa e fraca

— Ele está em coma, os médicos não podem fazer nada até que ele acorde – olhou em meus olhos

Despenquei em seus braços. Eu não conseguia chorar, eu sentia que estava sufocando. Não tinha forças pra me reerguer

Por que? Por que eu ainda me preocupo com alguém que eu mal conheço?

— Você está bem? – ouço Amanda dizer – Isaac, me responde

— Eu não consigo respirar, a dor é grande, eu quero gritar, não aguento isso – disse segurando as lágrimas que estavam querendo aparecer

— Se acalma, vamos lá pra fora – disse me carregando

Deixamos minha mãe e Alice na sala de recepção

Minha mãe estava nervosa, Alice ficou apoiando ela, enquanto Amanda tentava me acalmar no estacionamento do hospital

— Foi isso que aconteceu, ele me abandonou com a minha avó – disse terminando de contar tudo o que ele me fez e sentindo o peso em mim aumentar

— Realmente é algo muito triste mas você não acha que ele se arrependeu? – neguei com a cabeça - por que?

— Para pessoas mudarem é preciso mudar seu caráter – disse me encostando na parede

— Quando você se arrependeu de trair Alice, você mudou imediatamente ou teve um processo? – ela falou calmante, igual a Eduardo quando dava conselhos

— Teve um processo

— Você foi falar com ela no mesmo dia ou esperou um tempo? – questionou

— Esperei um tempo – respirei fundo sabendo o que ela queria dizer – mas não 20 anos

— Você só é igual ao seu pai na aparência, sentimentalmente são pessoas diferentes e com tempos diferentes – disse se virando para entrar no hospital

— Você está tentando me convencer a perdoar?

— Se você perdoasse na mesma velocidade que entende as coisas, seria mais prático e menos doloroso – sorriu e entrou

Talvez eu não soubesse ou não entendesse ainda o que todos estavam querendo dizer

Eu precisava perdoa-lo da mesma forma que Alice precisou me perdoar.

Ele era eu nessa versão da história, eu era a pessoa traída da vez.

Agora eu entendo o medo que Alice tinha de acontecer tudo de novo.

Eu tenho esse medo, medo dele sumir e eu ter que lidar sem a presença dele novamente

Porém se eu não conseguir falar isso pra ele e o pior vir acontecer, irei carregar essa culpa pro resto da vida

Olhei para o céu e como um sussurro eu pedi

"Não sei se Sua vontade é de leva-lo mas por favor, deixa eu falar com ele só mais uma vez? Deixa eu me despedir da maneira certa"

Nunca segui uma religião ou algo do tipo mas sempre tive fé

Admito que não tenho o costume de ir a igreja nem nada parecido

Mas naquele momento eu precisava me agarrar a algo, não adiantava nada tentar.

Horas depois...

Estava deitado no colo de Alice enquanto ela cantava uma música bem tranquila, estava quase dormindo

— Azar no jogo por favor, tirei sorte grande no amor... – estava distraída fazendo carinho em minha cabeça

— Isaac Azevedo? – uma moça de cabelos preto me chamou, leventei imediatamente

— Sim, diga – falei rápido

— Ele voltou para o quarto, se quiser vê-lo, vai lá – deu um leve sorriso

Minha mãe tinha sido dopada porque ela não conseguia se acalmar

Pedro e Amanda foram para casa descansar

Peguei na mão de Alice e fui até o quarto

Me aproximei abrindo a porta devagar, entrei junto de Alice

O quarto era todo branco, com uma luz fraca, ele estava tão sereno

Me agoniava ver aqueles tubos em seu nariz, estava quase arrancando-os mas sabia que ele precisava daquilo pra respirar

Sentei do seu lado e peguei sua mão, respirei fundo antes de falar algo

Conseguia ver lágrimas caindo do rosto de Alice mas rapidamente ela as limpou e se encostou na parede

— Ro... Quer dizer pai, e... eu sinto muito por tudo – apertei sua mão – eu estava cego e com medo, pai. O senhor não sabe o quanto fico feliz em chama-lo assim, o senhor não é perfeito – dei uma pausa começando a chorar – mas é o meu pai, dessa vez sou eu quem tenho que pedir perdão. Eu... Eu te amo, pai! – rios de lágrimas desceram pelo meu rosto

Falar aquilo me tirou um peso das costas, eu consegui dizer isso, eu consegui deixar tudo pra trás.

Minha maior alegria foi senti-lo apertar minha mão então rapidamente levantei a cabeça

Ele estava com os olhos abertos e uma lágrima solitária caiu do seu olho esquerdo

— Oi meu filho – falou devagar quase sussurrando

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