Grier.

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Muitas pessoas passam o tempo todo reclamando da vida, chorando por isso, entrando em depressão, mas eu digo apenas uma coisa sobre essas pessoas: se tivessem a minha vida, não reclamariam, não chorariam, apenas se matariam.

O inferno é fichinha em comparação à tudo o que passei, eu costumava acordar às cinco da manhã para ir ao colégio, me esforçava em tudo o que eu fazia, costumava fazer tudo bem feito. Quando eu chegava em casa, era quando a ficha caía que a minha vida não iria mudar nem tão cedo. Todas as vezes eu avistava meu pai jogado no sofá depois de tanto se drogar e beber, era o único móvel que tinha na sala, pois o resto ele tinha vendido pra comprar as porcarias dele.

Eu cresci bem, meus pais sempre me deram do bom e do melhor, até que minha mãe traiu meu pai e saiu de casa sem dar a mínima pra mim, ele tomou uma dor de corno que eu nunca havia visto antes. A dor começou na bebida e terminou nas drogas, ele se afundou cada vez mais e eu só podia observar. Era triste ver meu pai daquele jeito, mas sempre que eu tentava ajudá-lo ele se estressava e acabava descontando a raiva em mim.

Enfim, parando de falar de desgraças, eu consegui passar pra faculdade, não era o curso que eu realmente queria, era a minha segunda opção, Jornalismo, mas eu estava feliz, finalmente iria sair de casa e daquele inferno.

Eu estava arrumando a minha mala e sorria ao pensar numa vida melhor e longe daquilo tudo, quando escutei o barulho da porta se fechando com força e fechei a mala, saindo do quarto vagarosamente e com receio de ser um bandido, ou até mesmo o meu pai muito drogado.

Nash P.O.V.:

— Eu já te dei dois meses, Charles, eu não aceito nem mais um dia, ou você me paga com algo de valor, ou... — Peguei a arma que estava no bolso de trás e apontei pra testa do homem que estava na minha frente, que tremia e suava de medo. Seus olhos logo fecharam-se e ele se ajoelhou, fazendo com que a arma na minha mão acompanhasse seu movimento.

— Por favor, Nash... — Ele disse com a voz trêmula e eu encostei a arma na sua testa, fazendo com que ele fizesse um gesto com a mão como se fosse rezar.

— Pra você é Grier. — Disse alto destacando cada palavra e ele abriu os olhos, olhando pra mim.

— Me desculpe, Senhor Grier, isso não vai se repetir, eu ainda não consegui dinheiro, está muito difícil!

— Eu estou pouco me fodendo se está difícil ou não. – Disse me agachando e olhando o homem enquanto afastava a arma de sua cabeça e brincava com ela na mão. – Eu quero algo de valor, você me deve praticamente a sua vida. – Eu disse enquanto sentia meu cabelo caindo, dificultando minha vista, o joguei pra trás e me levantei, me virando e avistando os Jacks olhando pra mim. – O levem pra sala. – Disse colocando a arma no bolso e escutei o homem gritar.

— Senhor Grier, por favor, não, por favor, eu posso lhe dar algo mais valioso que dinheiro! – Ele disse e eu parei de andar, aquilo chamou minha atenção. Me virei e avistei o homem sendo segurado pelos Jacks. Me aproximei dele com um sorriso no rosto e cruzei os braços.

— O que poderia ser mais valioso que dinheiro? – Perguntei arqueando as sobrancelhas, e o homem já exausto, levantou o olhar pra mim.

— Minha filha. – Ele disse num tom desanimado, mas seus olhos exaltavam alegria, normal de um drogado que sabia que teria droga novamente.

Laryssa P.O.V.:

— Pai? – Perguntei saindo do meu quarto e me aproximando da sala. Avistei meu pai entrando em casa com um aspecto de cansado, ele parecia mais acabado do que nunca. – Pai, o que aconteceu? – Perguntei preocupada, ele apenas olhou pra mim com os olhos marejados e começou a balançar a cabeça negativamente.

— Me desculpa. – Foi só o que ele disse antes de dois homens encapuzados entrarem na casa. Eu arregalei os olhos e corri pro meu quarto, fechando a porta rapidamente, mas quando ia trancá-la, ela abriu com a força dos dois homens e eu fui jogada no chão. Me arrastei e me encostei na parede, abraçando as pernas e olhando pra eles com medo.

— Por favor, não façam nada comigo, podem levar o que quiserem. – Disse tremendo enquanto tentava não chorar. Um deles olhou pra minha cama e avistou a mala.

— Sua mala já está pronta? Que irônico. – Um disse rindo e o outro me pegou do chão, fazendo com que eu gritasse com todas as minhas forças, a minha garganta ardia e logo senti um pano no meu nariz com um cheiro forte, fiquei tonta e meu corpo foi ficando mole, senti tudo girar até apagar de vez.

(...)

Acordei ainda tonta, olhei de lado e minha vista estava turva, fechei os olhos com força e abri novamente, fazendo com que eu visse com mais clareza. Eu estava deitada numa cama bem confortável, o lençol era branco e eu estava num quarto com as paredes num tom escuro. Me sentei rapidamente na cama e vi que aquilo parecia um quarto de adolescente, com coisas de adolescente, só não era o meu.

A ficha caiu quando me levantei e me lembrei do acontecido, olhei para os lados e tudo o que eu podia ver era o mesmo que já tinha visto, o silêncio pairava e eu não tinha noção do que fazer.

— O que eu faço? – Perguntei pra mim mesma passando as mãos no cabelo, logo escutei a porta se abrindo e um garoto entrando no quarto com uma arma apontada pra mim.

Arregalei os olhos e me afastei mais ainda, me encostando na parede.

— Que bom, você está calada. – Ele disse abaixando a arma e se aproximando de mim.

— Se você der mais um passo eu grito. – Ele parou de andar e sorriu.

— Ah, ok, e quem vai te salvar? As outras pessoas que moram nessa casa e estão aqui com o mesmo propósito que eu? – Ele disse num tom de deboche e se aproximou.

— Quem é você? O que eu estou fazendo aqui? – Perguntei e ele me olhou dos pés à cabeça, seus olhos castanhos me fitavam de uma forma curiosa.

— Você é o pagamento do seu pai. – Ele disse rindo e eu não conseguia tirar os meus olhos dos seus, não sei se de raiva ou de medo, e eu só queria soca-lo, mas sabia que não iria adiantar.

— Como assim pagamento do meu pai? Ficou louco? – Disse rindo e ele arqueou uma sobrancelha.

— Não acredita? Se quiser eu posso te mostrar o contrato que ele assinou. – Ele disse dando um sorriso de deboche e eu trinquei os dentes.

E o dia chegou, o dia que eu sempre desconfiei que chegaria, o meu pai me trocar por droga. Não achei que fosse possível, não achei que um dia ele chegaria ao ponto de vender a própria filha.

— E ele me vendeu pra quem? – Perguntei fria com os olhos fixos nos seus.

— Grier. – Ele disse se distanciando. – Nash Grier. – Ele chegou na porta e se virou pra mim. – Mas se quiser continuar viva, só o chame de Grier, ok? – Ele arqueou as sobrancelhas e eu continuava com minha postura fria e séria. – Ele vem vê-la em alguns minutos. Boa sorte, e tente não estressá-lo. – Ele disse por fim antes de fechar a porta.

Soltei todo aquele ar que eu estava guardando pela boca e fechei os olhos, tentando assimilar tudo.

O meu pai me vendeu pra um grupo de traficantes que aparenta ser composto por filhinhos de papai.

Ok, a minha vida só fica melhor.

The TradeWhere stories live. Discover now