Um dia de cada vez, Laryssa, você consegue, você é forte.
Os dias foram se passando e aos poucos eu fui conseguindo levantar da cama e sair do quarto. Os meninos sempre tentavam me ajudar, tentavam conversar comigo, mas eu nunca me abria. Com o tempo, o Johnson e o Nash se acertaram, eles não eram a mesma coisa de antes, mas pelo menos não se mataram.
A notícia da morte do meu pai não passaria na televisão, ele era apenas um drogado morto pra mídia, mas o fato da filha dele estar foragida e ser suspeita, atraiu todas as manchetes. É sério? Eu sou suspeita da overdose do meu pai? Os jornalistas falavam de tudo, que eu tinha dando uma dose pesada de heroína, que eu não aguentava mais o meu pai.
— Eu não sei como te falar isso... – o Nash disse se sentando ao meu lado enquanto eu olhava pra frente. Eu não olhava pra ele há dias, eu não conseguia, era muita dor que ele veria nos meus olhos.
— Você acha mesmo que pode piorar? – dei uma risada irônica e ele respirou fundo.
— Temos que nos mudar. – ele falou de uma vez e eu me virei, olhando pra ele, e foi como se eu tivesse levado um choque.
Você já sentiu falta de olhar nos olhos de alguém? E quando olhou, se sentiu menos vazia?
— Por quê? – foi a primeira coisa que eu consegui pensar depois de ficar longos segundos perdida em seus olhos.
— Você sabe o que estão falando, e com isso, a polícia tá te procurando, mas também o pessoal que traficava pro seu pai.
— O que eles querem comigo? – falei me ajeitando no sofá e tentando entender o que estava acontecendo.
— Eu não sei, mas eu sei que tenho que te manter em segurança. – ele assentiu com a cabeça e eu respirei fundo, fechando os olhos.
— Eu nunca vou ter uma vida normal. – suspirei e fechei os olhos, jogando minha cabeça pra trás.
Respirei fundo e senti um toque na minha mão, abri os olhos assustada e olhei pro Nash.
— Você vai ter uma vida normal, eu prometo. – ele apertou levemente a minha mão e eu senti o meu coração acelerar.
— Por que você tá fazendo isso? Por que você se importa tanto? – perguntei olhando pras nossas mãos e depois voltando a olhar pra ele.
— Acho que já está na hora de te contar. – ele suspirou e se aproximou de mim.
— Contar o quê? – franzi o cenho e estranhei a sua expressão, parecia que ele estava tendo cuidado.
— Você já notou que se lembra de algumas coisas da sua infância, mas a maioria é como um quadro em branco, não é? – ele perguntou arqueando as sobrancelhas e eu assenti com a cabeça.
— Eu sei do acidente. – ele arregalou os olhos e eu suspirei. – Eu não quero saber nada em relação a isso. – disse voltando a encarar a parede.
— Se você quiser, eu não falo do acidente, mas... – voltei a olhar pra ele. – Você não quer saber da gente? De onde vem essa conexão? Como nos conhecemos? Por que eu "te sequestrei"? – ele fez aspas com as mãos e eu continuei calada, olhando pra ele. – Nós éramos melhores amigos, Laryssa. – ele disse sorrindo. – A minha mãe era empregada da sua família, eu vivia na sua casa, nós fazíamos tudo juntos. – senti meu coração acelerar mais ainda. – O meu pai surgiu mais tarde, quando eu era mais velho, e depois que a minha mãe se casou de novo, ele decidiu me dar um "emprego". – ele respirou fundo. – Enfim, voltando pra sua infância. – ele sorriu olhando pra mim. – O Johnson... – ele parou por uns segundos. – Nós somos próximos também, e ele acabou se aproximando de você, foi quando eu surtei, eu estava entrando na adolescência e eu vi que ele estava te tirando de mim.
— Me tirando de você? – arqueei as sobrancelhas e ele corou.
(Coloquem play na música I Don't Wanna Live Forever - ZAYN & Taylor Swift)
— É... – ele falou sem jeito. – Eu tinha uma queda por você. – ele sorriu dando de ombros. – Enfim, eu e Johnson sempre fomos muito competitivos, e quando ele viu que eu era louco por você, ele se aproximou e... Conseguiu. Ele deu o seu primeiro beijo e até hoje eu sinto raiva dele por isso, então você imagina como ter visto aquelas imagens no meu escritório foi ruim pra mim. – ele suspirou enquanto olhava pra baixo. – Enfim, eu vi que você estava gostando dele e me aproximei pra não atrapalhar, aí teve o acidente e eu perdi o chão, eu...
— Eu gostava de você. – o cortei e ele olhou pra mim com os olhos confusos.
— O quê? – ele parecia surpreso, seu queixo estava caído e suas sobrancelhas arqueadas.
— Eu nunca entendi o que eu sentia por você desde o primeiro momento em que eu te vi, mas agora tudo parece fazer sentido. – respirei fundo enquanto ele sorria. – O Johnson se aproximou de mim e eu acabei me afastando de você, eu fiquei com ele porque ele me fazia bem naquela época que meu pai começou a se drogar, mas você, mesmo de longe, cuidava de mim. – semicerrei os olhos e ele sorriu. – Eu nunca deixei de te amar, Nash, mesmo depois do acidente, mesmo depois de ter me esquecido de você. – falei sorrindo e sentindo o meu coração doer de tanto que ele batia forte. – Eu tentei esconder por muito tempo, mas aos poucos eu me lembrava das coisas; quando você me tocava, eu lembrava de mil coisas ao mesmo tempo e aquilo me assustava. – suspirei e me aproximei mais ainda dele, colocando a minha mão esquerda no seu pescoço e puxando-o pra perto. – Nós sempre cuidamos um do outro. – falei baixinho enquanto olhava em seus olhos. – E não seria diferente agora. – balancei a cabeça negativamente e ele sorriu.
Eu não precisava de um "eu te amo" dele, eu não precisava de mil provas de amor, o olhar dele já dizia tudo. Além de ele cuidar de mim e apesar de todas as grosserias, ele que me salva desde criança, e eu sou extremamente grata por tê-lo na minha vida.
Nós estávamos com os rostos praticamente colados, o meu nariz roçava no dele, enquanto ele sorria e levava a sua mão até o meu pescoço, me deixando arrepiada.
— Eu tenho medo de te perder. – ele falou com a voz trêmula e com os olhos fechados. Eu sorri e umedeci os lábios, apertando levemente o seu cabelo.
— Eu não vou a lugar nenhum, e se eu for, eu vou com você. – ele sorriu e selou nossos lábios numa urgência impressionante, como se precisasse de mim pra sobreviver, o que foi recíproco, porque eu o beijei como se seus lábios fossem a fonte do meu ar.
Eu sabia que o que viria pela frente não seria fácil, eu não sabia pra onde iria, ou melhor, fugiria, mas eu sabia que ele daria um jeito, ele sempre dava, ele sempre me salvava, e pelo o que percebi no tempo que eu passei com ele, era recíproco.
Nós nos salvávamos.
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The Trade
FanfictionLary não achou que seu pai fosse chegar ao ponto de vendê-la para conseguir pagar as suas dívidas com o traficante Grier, mas ele teve que fazer isso pra sustentar o seu vício, e logo na época em que ela acreditava que ia mudar de vida indo para a u...