9. Pedidos Absurdos?

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Inaraí

Com o cair da noite as últimas horas evaporaram como num piscar de olhos e agora eu estava sentada entre Dandara e Morena ao piano do bar do hotel enquanto elas teclavam canções antigas e cochichavam sobre a traição de Dalila.

E ao fundo era possível escutar o som das bolas de sinuca batendo na mesa de bilhar na qual Toni, Marco, Julian e Lars jogavam partidas.

Todos os convidados tinham partido após o almoço e sobrara na propriedade nós e as crianças. E até mesmo o Mikail se retirara com destino a Viena depois que dona Sofie sua mãe fora flagrada dando um esculacho nele sobre seus flertes em relação a mim.

Antes de partir até a dona Sabine viera me abraçar e agradecer por alegrar o humor do filho mais velho dela e o senhor Hartmut fizera o mesmo. O que foi o suficiente para me fazer travar ao invés de desmentir que a minha relação com o Lars não passava de uma mera fofoca inventada pela imprensa desocupada.

Simone se fizera de surda as minhas alegações sobre isso e agora estava em sua suíte em companhia de Sven com os patinhos e as crianças de Toni, pois graças ao cunhado se interara do meu barraco de família e se propusera a ajudar a mim e minhas irmãs termos um tempo para divagar sobre isso.

— Toquem mais! — a voz de Eduarda soou de algum lugar.

Ela e Erik estavam dançando as melodias já há algum tempo como se estivessem ensaiando sua lua de mel. Aliás, eles pareciam viver nessa lua açucarada o tempo inteiro quando não estavam fazendo birrinhas um com o outro.

— Será que as coisas acabarão aqui? — as questionei num cochicho. O meu coração estava apertado, pois mesmo na mentira a Dalila ainda era a nossa irmã e poderia ter feito coisas piores, mas ao contrário disso apenas ocultara verdades.

— Ela mentiu e feriu a nossa confiança, mas nós também a empurramos com o tratamento infantil a vida inteira. Querer decidir tudo pela Lila foi um erro e estamos pagando por isso. Não somos melhores que ela. — Dandara falou uma verdade amarga porque estávamos recebendo de volta o excesso de cuidados com alguém que se mostrara ardilosa para saber se virar sozinha.

— Ela teria continuado do mesmo jeito se a dívida não acabasse se revelando maior do que poderia carregar. Faz parte da teimosia das mulheres dessa família tentar até o último momento antes de admitir uma falha ou cansaço. — comentei com certo orgulho de sua proeza em ter conseguido tanto e em ter tido coragem de vir até nós.

— Eu ainda preciso digerir isso. Estamos rodando num brinquedo de parque que não quer parar. Mentiras e uma dívida impagável do outro lado do mundo. É muito em que se pensar. — Morena resmungou.

— Nós podemos exigir que dona Nair venda o nosso carro que ficou na garagem. E podemos vender as joias de pérolas que ela nos deu. Pelo menos com o valor a nossa avó poderá comprar um apartamento menor. — Dandara comentou sempre calculando as possibilidades e nós sabíamos que realmente seria impossível impedir que o móvel pelo qual Nair trabalhara sozinha para pagar o financiamento durante tantos anos fosse enfim perdido.

— Ela deve estar sofrendo, mas fez uma escolha ao ajudar aquele traste. Afinal de contas uma mãe ainda continua sendo uma mãe ainda que o filho seja a pior pessoa do universo, mas ainda assim nós temos de dar um ultimato nela a respeito de zerar essas ajudas se ele a procurar novamente. — apontei uma certeza a respeito.

— Às vezes me pergunto o que o Pablo Jorge já fez de bom na vida dele sem estragar as alheias? Tudo o que ele toca se contamina. Ele fez a nossa bebê indiretamente mentir para nós. É uma pena que estamos longe de casa, pois esse seria um segundo bom motivo para cumprir a minha ameaça em atear fogo naquele maldito bar. — Morena quase cuspiu e Dandara mudou a canção para os acordes do samba de ninar do Martinho da Vila que nós cantávamos para Lila.

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