Terra molhada

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Ela vem andando em minha direção, então ergo minha espada.
Eu espero um ataque mas ela para a poucos metros de mim.

Ela olha para cima alheia a minha presença, mesmo eu estando na sua frente, não parece me ver.

Minha respiração está pesada e meu coração bate forte.
A estranha criatura é um pouco menor do que as que encontrei os corpos no calabouço. Eu diria que mesmo com as garras enormes e os dentes pontudos não me parece tão hostil.

Ela mantém os olhos no teto e isso atraí meu olhar.
Não há nada lá. Só terra.

Depois de ficar um tempo esperando alguma movimentação, dela percebo que ela não sairá do lugar por um bom tempo.

Então decido seguir meu caminho.
Quando me abaixo para pegar minha tocha, enconsto em uma pequena pedra na parede, ela cai no chão fazendo um som bem baixo.

Respiro fundo e olho para a criatura.
Ela está olhando para a minha direção, mais precisamente minha mão.
Seus olhos estão fixos em minha tocha.

Ficamos paradas por alguns segundos  que mais parecem uma eternidade.

Quando seus olhos se desviam para o chão acho que ela não vai fazer nada. Mas então ela ataca.

Sou pega de guarda baixa, por milímetros ela não acerta meu rosto.
Largo a tocha no chão e saco a espada.
Os formato e o peso não são adequados para mim, mas vão ter que servir.

Ela tenta me acertar com as garras da mão  esquerda, mas sou mais rápida e bloqueio com a espada.
Seu ataque é extremamente potente, estou em completa desvantagem.
Quando minha defesa ameaça fraquejar percebo o quanto estou fraca, minha alimentação precária gerou consequências.
Acerto uma joelhada na lateral de seu corpo fazendo-a se desiquilibrar.
Preciso ser rápida, ou vou perder.

Assim que ela retoma o equilíbrio ataca com suas garras pela direita.
Eu não conseguiria parar o ataque, então desvio por baixo e atinjo sua perna com a espada.
Ela coloca a mão no ferimento e grita.
Me aproveito de sua distração e transpasso suas costas com a espada.

Ela cai de joelhos e coloca as mãos no ferimento. Tenho a impressão de ver uma lágrima em seu olhos.
Fico à olhando por um tempo, ela está demorando a morrer, como não posso mais a esperar, arranco a espada de seu corpo.

Nesse momento ela solta um grito agudo que deve ressoar por todo o túnel. Ela não para então pego a espada e corto sua cabeça.

Não me agrada fazer isso, e me abala mais do que deveria.
Fico olhando a cabeça decepada até que escuto gritos como o dela ressoando pelo túnel.

Eu mal dei conta de uma dessas criaturas.

Largo a espada no chão e começo a correr o mais rápido que posso.

Escuto gritos reverbando por todo o túnel enquanto corro.
Não preciso olhar para trás pra saber.
Se eu perder o ritmo vou morrer.

Continuo correndo, olho para trás rapidamente e vejo uma horda daquelas coisas. Estão me alcançando.

Olho novamente para frente e vejo uma pequena luz passando por uma rachadura na parede.
Peço ao universo que me dê sorte pelo menos uma vez na vida.
E quando passo frente a rachadura me choco contra a parede.

Por sorte ela sede e eu caio rolando de um barranco.

Quando finalmente paro de cair olho para o lugar de onde caí.
Elas não me seguiram.

Fico deitada no chão. Olhando para o céu. Hoje está chovendo, sou arrebatada pelo cheiro de terra molhada. A minha volta só há árvores.
Não sei onde estou.
Mas ao menos estou viva.

A Rainha das NinfasOnde histórias criam vida. Descubra agora