27-Só... valeu

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""Tudo bem! Eu entendi." Ela ria com vontade, se decidindo entre sua caixinha de suco ou os bolinhos de seu amigo.

"Agora pare! Não pegue os meus bolinhos!"

"Tá bom tá bom. Agora, me conte aquela estória..."

"De novo? Você não se cansa não é? Deveria ler um livro se gosta tanto assim de romances."

"Não. Livros são chatos! Prefiro você." Ela sorriu enquanto brincava com a mão dele, apoiada sobre a mesa circular do conjunto de chá para jardins que a mãe dele ganhara.

"Seria fofo se não soace tão interesseiro." Vencido pela garota, que não parecia aberta a negações e fingia não escutar nada que indicasse uma resposta negativa, ele comeu um último bolinho e tentou recordar o fim da estória que ele sempre acabava esquecendo.

"Na floresta de Alecrim" ele começou "existiam vários tipos de criaturas mágicas, como trolls com peles de textura pedregosa, Mavikas de longos cabelos e olhos hipnotizante, sereias de cauda perolada, fadinhas nascidas de botões de rosas douradas, ninfas, vodhianoys habitantes dos pantanos, que possuem uma coloração esverdeada, longos cabelos e barba, além das lindas flores com polém brilhante.
Um dia, um pequeno duente (de menor estatura ao comparado com outros de sua espécie) estava caminhando por entre as enormes árvores de Carvalho. Ele gostava de passar por ali para encurtar o caminho até o riacho cristalino das ninfas das águas.
Distraído com algumas flores, não percebeu a chegada de alguns trolls mau intencionados. Por serem pequenos e crianças desprotegidas, diversas vezes o duende os via sendo judiados de seres maiores e mais velhos. Esperto, o duende sempre conseguia escapar ao se esconder no interior de um oco tronco de árvore.
Como sabemos, a dor gera dor. Se uma criança sofre, ao invés dela entender que isso é errado e evitar o mau caminho, ela apenas reproduz sofrimento que fizeram a ela em uma pessoa mais indefesa que ela.
O troll líder se aproximou do duende e o cutucou, quase fazendo o pequeno cair com sua força.

"Olha quem nós encontramos aqui. Nosso amiguinho!"

Outro se aproximou, levando o grupo todo ao duende.

"O que um verme como você faz em um lugar tão perigoso como esse?"

O duende olhava para cima, seu pescoço parecia doer. Era um medroso e estava se controlando para não chorar, tentando intimida-los com o seu olhar de Leão Feroz.
Pena que isso só facilitou a visualização do colar de pérolas que carregava consigo.

Um troll puxou o colar para perto, trazendo o duende junto ao seu casco. "O que é isso? Onde conseguiu isso pivete?"

"Não te interessa." Um milésimo após sua afronta, o duende arregalou os olhos ao perceber onde estava se metendo. Porque abrir a boca em uma hora dessas?

Os trolls riram.

"Você está achando que é quem? Nós mandamos aqui!" O líder latiu.

"Não sou eu que apanha todos os dias dos vodhianoys." Olha lá! Olha a merda prestes a acontecer.

Puxando o colar para mais perto, o duende quase se enforcando, o troll cospi em sua cara. Baba de troll é uma das coisas mais fedidas que existe. É verde e gosmenta, parecendo catarro. O duende fechou os olhos antes que aquilo entrasse em contato. Seu pescoço doía.

Um troll, o que aparentava maior ignorância, declarou:

"Eu quero esse colar."

"Não por favor! Deixe ele comigo!" Aquele colar era especial para o duendezinho. Era a sua única ligação com Nawie.

"Não estou nem aí com você..."

Derrepente, o duende sentiu um cheiro diferente. Até então, o cheiro de esgoto que os trolls traziam empregnava o local, mas agora pareciam haver rosas, margaridas e girasois por toda parte. Talvez... só poderia ser!
Contente, o duende olhou para o lado. Lá estava ela! Com seus longos cabelos verdes, sua coroa de flores, seu vestido reluzente. Vendo aquela situação, Nawie franziu o cenho. Ótimo! Ela estava com raiva! Conforme se aproximava, cada vez que pisava sobre o solo infértil, flores surgiam da terra, relvas verdinhas renasciam. Ela tinha esse poder. Era a guardiã daquele lugar, e prezava pela ordem e boa vida dos habitantes, assim como os vodhianoys prezam por seus pântanos.
Os trolls tremiam, já haviam se afastado alguns passos do garoto, mas pareciam temerosos demais para correr. Qualquer coisa que fizessem poderia ocasionar em uma Nawie estressada e então as árvores os enguliriam.

PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora