Passarinho

42-Princesinha

Hoje quando acordei, achei o céu muito bonito.
Com pequenas nuvens fofas que me lembravam filhotes de gatinhos que acabaram de nascer! E os pinheiros que se remexiam em sintonia ao vento me faziam lembrar de uma história que eu amava muito, onde um gigante, todas as noites, dava passos leves para não assustar a Lua que cintilava como cristal, tentando preguár-lhe uma surpresa, mesmo que fosse impossível se esconder com seu tamanho tão grande. As árvores que sempre eram acordadas pela tremedeira causada no chão decidiram ensinar-lhe a arte do ballet, assim se remexiam como os pinheiros. 
Enfim, é um dia perfeito. Como todos os outros.
Há as mesmas pessoas de sempre, dizendo coisas que não me importam com um sorriso caloroso, me tratando como o ser mais especial de suas vidas, como sua inspiração. Uma inspiração que eu não me orgulho nem um pouco. Sorrio de volta, como se tudo isso realmente me importasse. Converso com todos sendo a garota incrível que esperam que eu seja.
Eu não faço ideia do que estou fazendo.
caminho em direção a escola como mais um dia comum, com minhas queridas amigas que como sempre estão conversando sobre fofocas fresquinha do  , nem e dando conta do estado em que me encontro. Se dizem minhas grandes amigas mas não fazem ideia do que se passa na minha vida. Não percebem que há algo errado comigo. No caminho tento me distrair como sempre com os insultos que proferem sobre cada vítima das fofocas ou então com as suas descoberta, mas algo parece estranho hoje. Sinto que estou começando a transbordar! Quero contar a elas o que aconteceu ontem, quero que alguém me abrace... Não consigo fazer isso! Não consigo mais fingir!    

Quer saber? Eu cansei. Até mesmo narrar tudo isso está sendo um saco! O meu dia é uma merda tudo bem? Minha vida inteira... Não tem nada de interessante. Eu poderia inventar mil coisas incríveis, mas... pra quê? Inventei tantas coisas durante tanto tempo, e acabei como estou. Um poço de mentiras inúteis! Eu queria tentar provar para mim, para vocês, que eu poderia ter um bom dia, uma boa história. Mas não. Nada me inspira! Nada me causa algum sentimento. Tudo isso é uma droga. E eu nem me importo mais. Acho que enfim chegou a hora.

***

Eu não gosto mais de você.

Seus pés param de balançar.

"Hum?" Seu olhar se perde no rosto da garota.

"Você deveria fazer o mesmo. Diga."

"Dizer o quê?" Estúpido.

"A verdade. Diga que nunca gostou de mim."

"Não vou fazer isso amor."

"Pare." O estômago dela revira. "Não sou seu amor... nunca fui. Diga que nunca gostou de mim!"

"Amor, yo te amo!"

"Não! Não é verdade! Pare de dizer isso!"

"Mas essa é a verdade. E-U-T-E-A-M-O!"

Um tapa.

"Se me amasse não estaríamos tendo essa conversa... você sabia tudo o que me estava passando, e mesmo assim... mesmo assim fez o que fez não é? Não se importou comigo nem por um segundo. Então não venha com essa conversa de Yo te amo, porque ao invés de causar felicidade... me causa nojo!"

"No llores mi am... quiero decir... olha, tudo isso foi só uma brincadeira. Não foi nada de mais."

"Você não sabe o quanto está piorando a situação." Sussurra entre soluços contidos. "Não se importar com tudo o que aconteceu só prova que estou certa. Não me diga que não passou pela sua cabeça que eu não gostaria disso? Ninguém gostaria disso! Agora diga."

"No. Você está exagerando como sempre! Quer ser a vítima dessa situação!"

"Eu odeio você." O choro parou, sua voz estava impostada. "Odeio! Você foi a pior coisa que cruzou a minha vida! Só estragou tudo!"