34-O veneno se dissipa

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O quarto recebia iluminação da janela entreaberta, o vento soprava as cortinas para lonje fazendo com que parecessem ondas do mar que se fundiam. Em um banquinho, ao lado do corpo que descansava sobre a cama, Liza mantinha em seu colo seu caderninho de folhas amareladas, onde desenhava. Ela acabara se inspirando ao ver ele ali, ainda com o rosto e todo o resto machucado, mas ainda sim parecendo bem. Como se dormir em um hospital fosse a melhor coisa do mundo. Alheio a toda confusão a sua volta.
Decidira fazer o desenho em tons pretos e brancos, e estava agora se dedicando aos fios de cabelo que descansavam sobre sua testa, sempre deslizando o lápis de forma suave sobre o papel poroso. Pensara se seria bom desenhar os hematomas de seu rosto, mas optou por sim, pois deixaria mais claro o que ela sentia.
Brent abriu os olhos devagar e tentou virar um pouco a cabeça, achou graça quando a encontrou ali do lado, sentada em uma posição péssima enquanto desenhava, mas não pode rir disso pois sua boca estava seca demais.

"Está me desenhando de novo." Disse tão baixo que se não fosse o silêncio extremo daquela sala, seria impossível escutá-lo.

Ela não tirou os olhos do desenho e disse:
"Não estou te desenhando. Na verdade eu nunca te desenhei."

"Desenhou sim." Respirou fundo. "Eu vi em seu caderno uma vez."

Os olhos da loira se viraram para ele em raiva. "Você andou vendo os meus desenhos?"

"Calma. Eu não vi nada suspeito, eu sei que você desenha pessoas nuas, mas não encontrei nenhum."

"O que? Eu não desenho pessoas nuas, não fantasie!"

Ele pareceu sorrir por um segundo, mas logo fez uma cara de dor e pousou sua atenção no teto respirando pesadamente. Fingido pouco interesse, Liza o observou com o canto dos olhos receosa.

"Mas... Eu acho que você... me desenhou mais bonito. Do que eu sou." Prosseguiu Bren

Mais tranquila ela se ajeitou novamente e o lápis voltou a se mexer. "Eu gosto de desenhar as pessoas que eu conheço para treinar as emoções que elas sentem. Por isso tem minhas amigas e você nele."

O silêncio que se prosseguiu foi marcado por Liza desenhando e ele analisando suas caretas enquanto desenhava.

"Você está bonita hoje."

Ela levou a mão à cicatriz em sua bochecha. "Não passei maquiagem hoje porque não tem ninguém aqui que me conheça a não ser você."

"Eu prefiro você assim."

Liza rasgou a folha do caderno em que desenhava e a colocou sobre o corpo do garoto.

"Você é como a flor de jasmim." Disse por fim.

***

Eu coloco meu livro sobre a toalha e vou o mais depressa possível, desviando de todas as poças que podem me causar um acidente grave_ o que é um desafio já que não estou de óculos (evitando gotas de água desnecessárias). Me coloco na beira da piscina e começo a questionar o porquê de Lucas não estar tentando salvá-la.

"Lucas!"

"Ela não quer que eu a toque, e começou a gritar por você!" Ele tentava se aproximar mas ela parecia tentar bater em algo.

Eu comecei a entrar em desespero e estiquei meu braço para que ela o pegasse. Se fosse necessário poularia ali dentro de roupa.
Eu me estiquei o máximo possível, mas estava tão inclinada que quando Lucy alcançou a minha mão, eu acabei caindo dentro da enorme piscina. Senti meu corpo afundar até em baixo, quase alcançando o piso, meu cabelo flutuou para cima e me apressei em abrir os olhos. Não vi Lucy ali e decidi sair novamente para pegar fôlego. Quando sai da água quente senti um choque térmico que me estremesseu. Meu cabelo provavelmente todo bagunçado, estava grudando em minha cabeça.
Eu encontrei Lucy sobre sua boia rindo, e Lucas sorrindo para ela.
Meu coração ainda estava a disparar por conta de todos esses acontecimentos repentinos.

PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora